Arthur Barcelos
Arthur Barcelos
Apaixonado por futebol e geopolítica, é o especialista de futebol internacional da Sagres e neste espaço tem o objetivo de agregar os dois temas com curiosidades e histórias do mundo da bola.

A Copa do Mundo e o futebol como instrumento político

Extraoficialmente, a Copa do Mundo de 2034 acontecerá na Arábia Saudita. Quem confirmou foi o próprio presidente da Fifa, Gianni Infantino, na última terça-feira (31), através de sua rede social. Uma notícia que, aliás, não pegou ninguém do mundo do futebol de surpresa depois da controversa decisão sobre a edição de 2030.

Na queda de braço entre sul-americanos e europeus, os sauditas saíram como os grandes vencedores. Em rota de colisão com a Fifa, Conmebol e Uefa se aliaram recentemente contra a entidade máxima do futebol. Além do alinhamento político, o intercâmbio de profissionais e a criação de novos torneios, até investiram em um escritório em conjunto.

Para sediar o Mundial de 2030, no entanto, tiveram que se enfrentar. De um lado, os europeus com a candidatura ibérica, de Espanha e Portugal, que até tentaram comover a comunidade com o convite à Ucrânia após a invasão russa. Mas, para reforçar o projeto, chegou o vizinho do outro lado do Mediterrâneo, Marrocos, e o forte apoio africano.

Em desvantagem política, os sul-americanos apostaram na sentimental campanha em homenagem ao centenário da primeira edição da Copa. Além do Uruguai, que sediou o torneio inaugural, em 1930, também embarcaram na proposta a Argentina, sede em 1978, o Chile, sede em 1962, e até o Paraguai, casa da Conmebol.

No fim, naturalmente venceu a proposta mais poderosa politicamente. Com europeus e africanos alinhados, os sul-americanos não tiveram o apoio suficiente de outras confederações para vencer a disputa. Todavia, ainda ganharam um “presente” para manter o bom relacionamento com a Uefa e o restante da comunidade.

Arábia Saudita 2034

Pensando ainda mais à frente, na edição de 2034, a Fifa deu um “jeitinho” para agradar a Conmebol, com os jogos de estreia de Uruguai, Argentina e Paraguai em suas respectivas casas antes de se juntarem ao restante do torneio na Península Ibérica e no Marrocos. O Chile, por outro lado, ficou a ver navios.

A justificativa econômica de um torneio itinerante, com três países-sedes, vem a calhar com o novo formato da Copa, que agora passa a contar com 48 seleções. Divididas em 12 grupos de quatro equipes cada, a competição terá 40 partidas a mais a partir da edição de 2026 – de 64 para 104 -, entre 14 e 16 locais diferentes.

No entanto, muito mais do que diminuir custos, são as motivações políticas que traçaram o futuro do maior evento do esporte mais popular do mundo. De forma a contemplar mais entidades, a organização compartilhada do torneio é uma realidade que veio para ficar. Ou seja, uma tendência que deve ser seguida para evitar disputas e votações.

Nesse sentido, com uma edição “ambulante” na Europa, África e até América do Sul, o caminho ficou livre para a Ásia voltar a sediar o torneio, 12 anos depois da edição mais recente, no Catar – a próxima será realizada na América do Norte, por Estados Unidos, Canadá e México. É aí que entra a Arábia Saudita na conversa.

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A oficialização da Arábia Saudita como sede da Copa do Mundo de 2034 será anunciada somente em 2024, durante o Congresso da Fifa. Mas, com a antecipação de Infantino, é uma formalidade. Austrália, Coreia do Sul e Japão também demonstraram interesse em realizar o evento, contudo sem força política para enfrentar os sauditas.

Com seu ambicioso projeto Vision 2030, o país já atraiu craques consolidados e jovens promessas do futebol europeu, fortalecendo a liga local. Além disso, conta hoje com uma das principais ligas de golfe do mundo, está no calendário da Fórmula 1, criou a Copa do Mundo dos eSports e também quer receber a Olimpíada de Inverno e a Expo.

Sobretudo, dentro do tema Copa do Mundo, o governo saudita se tornou um dos principais parceiros comerciais da Fifa nos últimos anos. Além de patrocinar diversos eventos organizados pela entidade, como a Copa do Mundo Feminina e a Copa do Mundo de Clubes, assumiu, inclusive, a realização do torneio em 2023 e 2024.

Em contrapartida, a candidatura saudita ganhou uma “ajuda” da Fifa. De acordo com o jornal The Guardian, dos 14 estádios do torneio, apenas quatro já devem existir, ao invés da exigência anterior de sete. Uma mudança que vai na contramão da tentativa da entidade de promover eventos mais sustentáveis, com o risco de construir estádios sem utilidade futura.

Sobre o clima, e evitar uma nova Copa entre novembro e dezembro, o presidente da Federação Saudita de Futebol, Yasser Al Misehal, ressaltou à AFP que “existem muitas tecnologias que permitem que os estádios sejam refrigerados ou climatizados, sem mencionar que muitas cidades do reino possuem um clima muito agradável no verão”. Portanto, o país é capaz de encarar “todas as possibilidades”.

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