Arthur Barcelos
Arthur Barcelos
Apaixonado por futebol e geopolítica, é o especialista de futebol internacional da Sagres e neste espaço tem o objetivo de agregar os dois temas com curiosidades e histórias do mundo da bola.

Futebol e guerra: Palestina divide atenção durante Copa da Ásia

Neste fim de semana, foi dado o pontapé inicial para a Copa da Ásia. Principal competição de futebol de seleções no continente, possui muitas histórias para se contar. Nenhuma, porém, tem o mesmo destaque, especialmente neste momento, que a da Palestina e a sua terceira participação no torneio.

Como aconteceu na última Copa do Mundo, realizada no Catar, justamente a sede desta edição da Copa da Ásia depois da desistência da China, a nação palestina está em evidência. Ainda mais agora, por conta da guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, que já vitimou mais de 22 mil palestinos.

Mais uma vez abraçada pelos países muçulmanos, que inclusive tiveram participação especial no último Mundial, a Palestina se tornou o grande centro das atenções da competição disputada no Oriente Médio, e isso ficou claro já na abertura.

A partida de estreia também marcou o emocionante encontro entre as torcidas palestina e iraniana. Há pouco mais de um ano, o Irã também comoveu o mundo e o futebol virou palco para deixar em evidência a onda de protestos no país. Nesta Copa da Ásia, o apoio à causa palestina será constante.

A preparação da seleção palestina foi bastante conturbada pelos conflitos na Faixa de Gaza, tanto para jogadores quanto para dirigentes. Das dezenas de milhares de mortos, algumas estavam ligadas ao esporte e, naturalmente, ao futebol. Como Hani Al Masdar, treinador da seleção olímpica da Palestina, vítima de um míssil.

Muitos membros da seleção palestina perderam familiares e, mesmo durante a competição, dividem a atenção e a preparação para os jogos com o noticiário. A própria Federação Palestina de Futebol tem utilizado as suas redes sociais para denunciar o exército israelenses pelos crimes na região, inclusive no maior estádio na região.

Mais uma vez, o futebol é visto como uma grande oportunidade para dar voz a quem tão pouco é ouvido. Neste caso, a nação palestina quer dar visibilidade à realidade da guerra e, por que não, trazer paz ao seu povo.

Palestina no futebol

Em sua terceira participação na Copa da Ásia, a terceira consecutiva, a Palestina está longe do profissionalismo e alto nível de outras seleções do continente. A seleção precisa driblar muitos problemas. Não à toa, a estreia em seu território veio somente uma década depois de ser reconhecida pela Fifa, após a criação da Autoridade Nacional da Palestina, em 1998.

Apesar do futebol na região ser tradicional, o contexto político sempre foi um empecilho para o desenvolvimento do esporte. Disputada de forma ininterrupta desde 2008, a liga palestina é dividida entre os dois territórios: a Premier League da Faixa de Gaza e a Premier League da Cisjordânia, considerado o campeonato mais forte da nação.

Isso por causa dos constantes conflitos com Israel e as muitas restrições de deslocamentos dos palestinos na região. Sair da Faixa de Gaza para a Cisjordânia, e vice-versa, é praticamente impossível. Não à toa, muitos jogadores da seleção nem mesmo nasceram em dos dois territórios. Muitos são frutos da diáspora palestina.

Na equipe comandada pelo tunisiano Makram Daboub, existem muitos “estrangeiros”. Dos 26 convocados para a Copa da Ásia, 16 nasceram na Cisjordânia ou em Jerusalém. Apenas dois são naturais da Faixa de Gaza, enquanto quatro são oriundos de cidades predominantemente árabes do norte de Israel.

Os demais quatro nasceram no Chile, que abriga a maior comunidade palestina fora do Oriente Médio no mundo – e, inclusive, tem um clube chamado Palestino na primeira divisão do Campeonato Chileno -, na Espanha e na Suécia, outros dois países que também receberam muitos imigrantes na diáspora palestina.

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