O que é moda sustentável? Não há um conceito pronto, mas sabe-se na indústria que a produção de roupas e acessórios possui um grande impacto nas emissões de gases do efeito estufa que agravam o aquecimento global. Diante disso, uma das maiores preocupações é a alta geração de resíduos têxteis. Por isso, a especialista em design de moda, Débora Jordão Cezimbra, diz que o upcycling é o presente e o futuro da moda.

“O upcycling é para mim o presente e o futuro da moda. É sabido que a produção mundial de roupas hoje ultrapassa a casa de bilhão de peças. Assim, é de se imaginar que teremos um excedente anual e que é descartado de forma irregular, gerando a poluição do solo”, diz.

Roupas viram bolsinhas no Repense Reuse (Foto: Divulgação/Repense Reuse)

Débora Cezimbra é mestre em Design de Moda e leciona sobre o assunto no Centro Universitário Internacional (Uninter). A especialista olha para o upcycling como um modelo que encaminha a indústria para aquilo que se desenha como a definição de moda sustentável: produção responsável que considera todo o ciclo de vida das peças minimizando o impacto ambiental. 

“É a hora de vermos as roupas e os tecidos descartados como recursos e não como lixo. E como recurso eles podem atender ao comércio de roupas de segunda mão, que são os brechós, customização para novas peças para reuso, e reciclagem química e mecânica para geração de novos fios e fibras têxteis”, aponta.

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Sustentabilidade na moda

Você já se perguntou como a moda pode ser uma aliada na educação ambiental? Muitas pessoas já fazem o movimento de adquirir peças que sejam menos poluentes no descarte ou só consomem vestimentas de empresas que tenham na produção o comprometimento de diminuir o seu impacto no meio ambiente.

Débora Cezimbra afirma que a única forma da cadeia produtiva da indústria da moda estar alinhada à causa ambiental é adotar boas práticas de produção e consumo e assumir transparência em seus processos. “Não há outro caminho”, afirma.

Roupas se transformam em bolsas no Repense Reuse (Foto: Divulgação/Repense Reuse)
Roupas se transformam em bolsas no Repense Reuse (Foto: Divulgação/Repense Reuse)

Algumas práticas mais sustentáveis já existentes na produção de roupas e acessórios são a técnica do upcycling e a utilização de tecido de fibra de algas marinhas. Além disso, tem a moda vegana, mais ligada a não exploração animal, mas também ao consumo de água, energia e com o tingimento químico.

“O veganismo é uma alternativa promissora pois tem demanda de consumo crescente, fazendo com que as marcas sejam claras quanto a origem da matéria-prima e dos processos. Mas talvez isso ocorra em nichos de mercado”, destaca. “Mas pensando em educação ambiental, o veganismo faz mais pela moda do que o inverso. Assim, o ativismo sério e respaldado por boas organizações fortalece o caminho às mudanças”, acrescenta.

A sustentabilidade é promissora

Um exemplo de organização citada por Débora que fortalece as mudanças é o Fashion Revolution que se define como um movimento global que luta pela justiça social e climática na moda. No Brasil, o movimento é uma organização da sociedade civil que busca meios de acelerar a transição da moda brasileira por meio da comunicação, educação, colaboração e mobilização.

Pessoas mais conscientes e essas organizações fortalecem o movimento para que a moda seja cada dia mais sustentável. No entanto, apesar dos exemplos de sustentabilidade citados acima serem todos promissores, Débora Cezimbra destaca que eles não sustentam o mercado.

“É importante pensar o que realmente se sustenta em termos de mercado, principalmente em alta escala produtiva, e que é forte característica do setor de vestuário”, pontua. Algumas ações impactam e se tornam parte do mercado, como os brechós. Além deles, Cezimbra destaca outras ações.

“É possível vermos grandes marcas de fast fashion ofertando serviços de recebimento de roupas usadas e que acreditamos que serão destinadas à correta reciclagem. Outro ponto também são as certificações, que buscam garantir a origem do recurso e seu correto manejo, estratégia sustentável utilizada por grandes marcas esportivas, como no exemplo do algodão”, diz.

Resíduos têxteis (Foto: PwC)
Resíduos têxteis (Foto: PwC)

Moda sustentável

O que podemos compreender como moda sustentável é também a nossa relação com os produtos. “Moda fala de comportamento, de postura do mundo, assim ela é o meio de conscientização, de educação de consumo e de boas práticas”, afirma a professora. Sua principal característica está no meio de produção e no ciclo de vida dos produtos. Assim, a especialista destaca que a tarefa da sustentabilidade na moda não é somente dos fabricantes, mas também envolve os consumidores. 

“Todo mundo que consome roupa e moda deve reavaliar seus hábitos de compra e ver se há a necessidade deste consumo desenfreado e do novo a cada coleção”, argumenta. 

Para finalizar, Débora Cezimbra avalia que a preocupação com a sustentabilidade está crescendo, mas que o volume do mercado é muito grande. Então, ela citou a falta transparência e o greenwashing, que são empresas que apenas aparentam os valores sustentáveis, como problemas. 

“Mais da metade da produção mundial de roupas está na China e isto dificulta nossa fiscalização, sabermos a verdade sobre quem produz e de que forma. Mas estamos num caminho sem volta no que tange a sustentabilidade. As marcas e empresas que não se prepararem ficarão à margem e com considerável perda de mercado”, destaca.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 12 – Consumo e produção responsáveis e o ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima.

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