Na tarde do último domingo (21), o futebol ficou em segundo plano na partida entre Valencia e Real Madrid, pela 35ª rodada do Campeonato Espanhol. Repetidas vezes vítima de injúrias raciais durante a temporada, o atacante brasileiro Vini Jr voltou a ser alvo de racismo dos torcedores rivais.

Antes, durante e depois do jogo, disputado no estádio de Mestalla, em Valência, gritos de “macaco” foram entoados em direção ao jogador do Real Madrid. Apesar de alertar a arbitragem, nada aconteceu. No fim do jogo, uma confusão envolvendo o atacante levou à sua expulsão, depois de ter sido agredido por um adversário.

Após o jogo, Vini Jr publicou em sua conta no Twitter que “não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na LaLiga. A competição acha normal, a federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi, hoje é dos racistas”.

“Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui”, completou.

O caso do Mestalla é apenas um de dezenas de vezes em que Vinícius foi vítima de racismo em cinco anos no futebol espanhol. Ademais, o brasileiro tampouco é o único a sofrer com a situação na Espanha. Outros compatriotas, como Marcelo, Daniel Alves, Neymar e Ronaldo, já foram alvo, assim como jogadores africanos.

A cultura do racismo na Espanha

Episódios tão graves quanto o de domingo já aconteceram no Campeonato Espanhol, alguns sem tomar proporções condizentes com sua gravidade. Como na temporada de 1992/93, quando torcedores do Real Madrid, clube de Vini Jr, gritaram para o goleiro nigeriano Wilfred Agbonavbare, do Rayo Vallecano, colher algodão.

Apesar das cenas terem sido registradas, não houve qualquer tipo de punição, se tratando de uma situação normalizada até então. Assim como 10 anos antes, na década de 1980, com o goleiro camaronês Thomas N’Kono, do Espanyol. Vítima de cânticos racistas, ainda viu torcedores do Barcelona atirarem bananas em sua direção. Nada aconteceu.

Outro goleiro camaronês do Espanyol, Carlos Kameni, também viveu situação semelhante. Em um jogo fora de casa diante do Zaragoza, em 2004, o arqueiro afirmou anos depois que “vivi o meu pior momento. Estávamos ganhando por 1 a 0 e me falaram de tudo, até um ponto em que o árbitro me perguntou se queria que parasse o jogo”.

Kameni lamentou que “duas semanas depois, voltou a acontecer com Eto’o, com o ‘baile do macaco’. Compatriota do goleiro, o atacante Samuel Eto’o, do Barcelona, também foi alvo de ofensas racistas por torcedores do Getafe e do Albacete no mesmo ano. Meses depois, Kameni voltou a ser alvo de ataques racistas de torcedores do Atlético de Madrid.

Além disso, Eto’o chegou a comemorar um gol imitando um macaco em 2005, enquanto em 2006, um dos melhores do futebol no momento, disse “não jogo mais” e ameaçou abandonar o jogo contra o Zaragoza. Um gesto que chocou o futebol na época. Ronaldinho afirmou que “se Eto’o deixasse a partida, eu teria ido com ele”.

Brasileiros na mira de racistas

Em fevereiro, uma torcedora chamou de “macaco” o armador brasileiro Yago Mateus durante a partida entre Badalona e Ratiopharm Ulm, pela Eurocopa de basquete. O caso ganhou repercussão internacional, poucos dias após Vini Jr ser ameaçado de morte por torcedores do Atlético de Madrid.

Da mesma forma, em 2014, torcedores rivais também chamaram o lateral Marcelo de “macaco” quando saía do campo acompanhado de seu filho. Daniel Alves, por sua vez, teve uma atitude que chamou atenção no mundo inteiro, quando, no mesmo ano, comeu uma banana arremessada em sua direção por um torcedor do Villarreal.

Em 2016, Neymar foi alvo de torcedores do Espanyol, que fizeram barulhos imitando macacos quando o atacante brasileiro tocava na bola. Já em 2013, durante o clássico entre Betis e Sevilla, o zagueiro Paulão foi vítima da própria torcida, quando, ao ser expulso antes do intervalo, torcedores do Betis entoaram cânticos racistas.

Além de Vinícius, um caso recente aconteceu com um jogador do próprio Valencia, o zagueiro francês Mouctar Diakhaby, que acusou Juan Cala, do Cádiz, de o ter xingado “macaco”. O caso acabou arquivado depois que a liga e a federação, supostamente, não conseguiram encontrar provas contra o zagueiro espanhol.

O caso voltou à tona nesta segunda-feira (22), quando Cala ironizou a situação envolvendo Vini Jr e afirmou que “o tempo, e apenas o tempo, coloca cada palhaço em seu lugar”. Diakhaby respondeu que “você continua falando porque eles te protegeram muito bem, então cale a boca por um tempo”.

“E sim, claro que apoio Vini Jr contra os insultos racistas que recebeu de alguns dos nossos torcedores. E espero que o meu clube faça o necessário para punir fortemente os que cometeram esses atos. Não dizer nada é ser cúmplice”, completou o defensor francês em outra publicação.

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