Os anos 80 do século XX foram marcados por produções cinematográficas do gênero terrore suspense. Muitas dessas produções, de qualidade duvidosa, fizeram sucesso e tornaram-se clássicos dessa época, mas outras foram um redundante fracasso.
Foi nesse gênero que se destacou o diretor Willard Tobe Hooper, criador de clássicos como a “O Massacre da Serra Elétrica” (1974) e “Poltergeist – O Fenômeno” (1982).
“O Massacre da Serra Elétrica” (The Texas Chain Saw Massacre), foi uma produção de baixo orçamento (300 mil dólares) e que, apesar de ser contestada por parte da crítica, teve uma excelente bilheteria (aproximadamente 30 milhões de dólares). Já o filme “Poltergeist – O Fenômeno” teve um parceiro de peso com o roteiro e a produção de Steve Spilberg e foi um sucesso de crítica e de bilheteria, com um custo de produção de aproximadamente 10 milhões de dólares, arrecadou, só nos EUA, 76 milhões de dólares.
Porém, antes do sucesso de Poltergeist, Hooper realizou uma pequena produção em 1981, esta não alcançou sucesso. Foi o bizarro filme chamado “The Funhouse”, que no Brasil ganhou o título de “Pague Para Entrar, Reze Para Sair”.
A história se passa em um parque de diversões. Dois jovens casais resolvem se esconder e passar a noite lá. Aquele, que durante o dia era um lugar de alegria e diversão, à noite, quando as luzes eram apagadas, tornava-se um verdadeiro pesadelo, com um ser mutante e de aparência deformada. Eles são perseguidos e tem um fim trágico. A forma como o roteiro é conduzido e os precários efeitos especiais são bem a “cara” desse gênero nos anos 80.

Bem, independentemente da qualidade da película em questão, o fato é que seu título abrasileirado se tornou uma expressão para retratar uma situação de difícil solução, ou seja, aquela “roubada” na qual você entra achando que obterá algum êxito, mas acaba se revertendo em uma grande “cilada”.
Assim, tomei a liberdade de utilizar esse título, não para me referir aos clássicos do terror e do suspense das telonas, mas sim, para refletir sobre o terror das guerras em um quesito muito peculiar, qual seja, quando uma grande potência invade a área de um inimigo mais frágil e acaba sofrendo algum tipo de revés.
Entre os anos 50 e 70 do século XX, em meio ao processo da Guerra Fria e da descolonização afro-asiática, eclodiu o conflito armado na região da Indochina (Vietnã, Laos e Camboja). União Soviética, China e outras nações comunistas apoiavam os revolucionários do comandante Ho Chi Minh, com base em Hanoi, no Vietnã do Norte.
Já os EUA, Coreia do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Filipinas, Tailândia e outros aliados anticomunistas que se opunham ao avanço dos movimentos socialistas, apoiavam o governo pró capitalista de Saigon, no Vietnã do Sul.
A França, que tivera o domínio sobre a região da indochina desde o século XIX, já havia sofrido um revés nessa região quando foi derrotada na batalha de Dien Bien Phu, em maio de 1954. Após essa derrota a França, na Conferência de Genebra, também em 1954, teve que reconhecer a independência dessas regiões. Foi o desmantelamento do império colonial francês na Ásia. Porém, essa independência não representou a paz para a região e seguiram-se intensos conflitos entre o norte e o sul do Vietnã.
Interessa-me destacar a participação dos EUA nos conflitos que se seguiram à independência da Indochina. Apesar do presidente John Kennedy ter enviado 10.000 conselheiros militares ao Vietnã, foi com seu sucessor, o presidente Lyndon Johnson, que os EUA entraram diretamente na guerra, em 1964. O Congresso estadunidense hesitou, a princípio, em consentir a entrada na guerra, mas foi convencido quando houve a notícia de que uma embarcação militar norte-americana teria sido atacada no Golfo de Tonquim, na parte sul do mar da China.
Cabe destacar que, posteriormente, documentos secretos revelaram que o ataque a essa embarcação não passou de uma artimanha do governo Johnson para justificar o envolvimento na guerra.
Embora os estadunidenses contassem com armas mais aprimoradas e com tecnologia de ponta, o que poderia parecer uma campanha militar sem grandes sobressaltos acabou se tornando um verdadeiro inferno para as “tropas yankees”. Além disso, a cobertura da guerra pela mídia televisiva, com imagens diárias dos horrores da guerra e reportando a morte de muitos jovens americanos, “garotos que amavam os Beatles e os Rolling Stones”, acabaram por criar uma onda interna que pressionava o governo americano a se retirar do conflito.
O desgaste do governo foi imenso. Apesar de ter poder e tecnologia militar para arrasar os vietminh e vietcongs, a permanência dos EUA na guerra foi se tornando moralmente inaceitável. Coube ao conturbado governo de Richard Nixon anunciar um cessar fogo, em janeiro de 1973. Podemos dizer que os EUA deixavam seu aliado sul-vietnamita “na mão”. Dois anos depois, em 1975, as tropas norte-vietnamitas ocuparam Saigon e unificaram o país sob um governo de modelo socialista. Esta foi a maior e mais emblemática derrota dos EUA.
Depois do desastre militar e político na Guerra do Vietnã, podemos verificar que as duas primeiras décadas do 3º milênio revelaram novas atuações militares desastrosas dos EUA, no Iraque e no Afeganistão.
Digo desastrosas porque, no caso do Iraque, um dos efeitos foi o surgimento do grupo radical Estado Islâmico, no norte do Iraque. Já no caso do Afeganistão, depois de 20 anos de ocupação e investimentos de milhões de dólares, a eficácia da intervenção estadunidense mostrou-se frágil e chegou ao fim da forma mais atabalhoada e dramática possível, com a impotência e indolência do governo local, amplamente financiado pelo “tio Sam”, em impedir a retomada do poder pelo Talibã, além do desespero de pessoas tentando fugir do país em meio aos atentados terroristas do grupo Estado Islâmico-K.
Mas, você, meu caro leitor, deve estar se perguntando: “E a Rússia? Pois é, a Rússia também amargou alguns fracassos, mas destaco a ocupação do Afeganistão entre 1979 e 1989. Mesmo com a avaliação inicial, do alto comando soviético, segundo a qual uma intervenção direta sobre a região seria de alto custo e não traria praticamente nenhum proveito efetivo, as circunstâncias acabaram forçando esse processo de intervenção.
Ocorreu que o governo soviético ficou muito contrariado com a ineficiência do governo afegão, de Hafizullah Amin, em controlar as ações guerrilheiras dos mujahidin, guerreiros islâmicos radicais que se colocaram em uma Jihad, guerra santa, contra as interferências soviéticas.
Pois bem, os soviéticos entraram no Afeganistão acreditando que conseguiriam dominar rapidamente a situação, contudo as táticas guerrilheiras, o conhecimento estratégico das montanhas do norte do país e o apoio militar e econômico dos Estados Unidos, garantiam grande poder de resistência aos mujahidins. Assim, podemos dizer que o Afeganistão acabou por se constituir em uma espécie de “Vietnã dos soviéticos”.
Dessa forma, temos mais uma situação em que a presença de uma grande potência, em uma região em conflito, tornou-se bastante delicada. A guerra parecia sem fim, as forças soviéticas não conseguiam sucesso efetivo em suas investidas, além do mais o socialismo vivia um processo irreversível de decadência no Leste europeu.
O governo soviético não teve alternativa a não ser a de articular negociações para a retirada de suas tropas. Em fevereiro de 1989, os últimos soldados soviéticos abandonaram o Afeganistão. A guerra deixou marcas indeléveis na URSS, pois teve um custo imenso em recursos e em vidas de soldados. Além do mais, essa guerra nunca teve o apoio da população.
Bem, finalmente podemos trazer a questão para a atualidade, para avaliarmos a situação da Guerra da Ucrânia. Vladimir Putin parece ter planejado com grande antecedência sua ação de invasão ao território ucraniano. Porém, os fatos tem demonstrado que nem tudo está saindo como planejado. Putin acreditou que o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, não teria apoio interno e, assim, os russos conseguiriam efetivar rapidamente o seu domínio.
Acontece que Zelensky acabou se constituindo em uma espécie de herói da resistência e seu discurso ganhou ampla adesão popular. O apoio moral e, principalmente, econômico-militar dos EUA e seus aliados ocidentais aos ucranianos, contra Putin, tem tornado o conflito mais longo e mais desgastante do que o esperado pelo “novo Czar”.
Tem sido tanta pressão e sanções internacionais contra a Rússia que, não conseguindo efetivar até o momento o domínio russo sobre a capital Kiev, o Ministério da Defesa da Rússia afirmou, no dia 25 de março, que a primeira fase de sua operação militar na Ucrânia estava praticamente concluída e que se concentraria em “libertar” completamente a região de Donbass, no leste da Ucrânia. Esse é um claro recuo em relação as ações iniciais da Rússia.
Isso me faz pensar que parece que o “gato subiu no telhado”, ou seja, o governo Russo começa a viabilizar uma forma honrosa de terminar com o conflito, negociando a condição mais vantajosa para suas ambições, pois, tudo indica que a coisa fugiu muito daquilo que era o plano inicial. Bem, quem viver verá.
*Norberto Salomão – Advogado, Historiador, Mestre em Ciências da Religião, especialista em Mídia e Educação, Professor de História e Especialista em Geopolítica.
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