Talento ou dinheiro? O que vale mais na Fórmula 1?

A temporada de 20221 da Formula 1, (F1), começa no próximo fim de semana, dias 18, 19 e 20, com o Grande Prêmio do Bahrein. Mas antes mesmo do início dos roncos dos motores, o calendário deste ano já começa com suas particularidades. A guerra que aflige o Leste Europeu entre Rússia e Ucrânia vem repercutindo em todo o mundo e na Fórmula 1 não foi diferente.

Depois de anunciar o cancelamento do Grande Prêmio da Rússia de 2022, a escuderia Haas anunciou o fim do patrocínio da empresa russa UralKali, uma das gigantes internacionais do ramo dos fertilizantes, de propriedade do oligarca Dmitry Mazepin, e a saída de Nikita Mazepin, filho do empresário, da equipe americana.

Com isso, uma das cobiçadas 20 vagas de titular na maior categoria do automobilismo mundial, foi reaberta. E o favorito para assumir o posto por alguns dias chegou a ser um brasileiro: Pietro Fittipaldi, de 25 anos, reserva do time desde a temporada 2019. Mas a Haas também precisava de alguém que trouxesse patrocinadores – se possível, com marcas fortes.

E este foi justamente o calcanhar de Aquiles do brasileiro: Pietro Fittipaldi não tem apoio de empresas brasileiras para assegurar a vaga de titular na equipe americana. Nem uma tentativa de patrocínio de última hora com Banco do Brasil, que chegou a estampar o macacão de Fittipaldi em foto divulgada na quarta-feira (9), foi suficiente para abrir espaço na categoria.

Pietro Fittipaldi tentou “cavar” um patrocínio com o Banco do Brasil. Não deu certo. Foto: Divulgação Haas F1 Team.

Vale lembrar que o país não tem um piloto disputando toda a temporada da F1 desde a saída de Felipe Massa da Williams, no fim de 2017, o que é apontado como uma das principais causas da queda da audiência da categoria no Brasil.

Ao todo, o Brasil soma 101 vitórias, 293 pódios e oito títulos mundiais na F1. São seis vencedores: além de Fittipaldi, Piquet e Senna, a bandeira verde e amarela já foi ostentada no lugar mais alto do pódio por José Carlos Pace, Rubens Barrichello e Felipe Massa.

Que a Fórmula 1 sempre foi um esporte de cifras milionárias, nunca foi segredo para ninguém. Muitos pilotos talentosos se quer chegariam a principal categoria do automobilismo mundial sem um pequeno “empurrãozinho” no início de suas carreiras.

Em 2018, ex-piloto da categoria Rubens Barrichello, ao saber que o afastamento do piloto brasileiro Luiz Razia da equipe Marussia seria devido por falta de pagamentos dos patrocinadores do piloto à escuderia, teceu críticas a categoria dizendo que o dinheiro tem falado mais alto que o talento, especialmente nas equipes menores.

“Ele perdeu a vaga? Eu não sabia. Hoje, não há mais 100% de talento na Fórmula 1. Todos sabem que existem vagas compradas. O mundo é assim. Você até pode entrar na categoria com dinheiro, mas não fica lá se não for bom o suficiente”, disse Rubinho à época.

O chefe da Haas, Gunther Steiner, chegou a afirmar que Pietro era o primeiro na fila para assumir a vaga. Mas, os rumores eram de que o time estava em busca de alguém com um bom aporte financeiro e alguma experiência na categoria.

Haas escolhe Kevin Magnussen

Parecia que finalmente chegaria a vez de Pietro Fittipaldi assumir um dos cockpits do time. Só que conhecendo a situação econômica da equipe, era lógico que um forte aporte financeiro seria necessário. E não seria algo fácil para o brasileiro levantar em tão pouco tempo.

Sejam bem-vindos à Fórmula 1 amigos e amigas, a casa do “cash is king”. A Haas uniu o útil ao agradável – experiência e patrocínio forte – e trouxe de volta o dinamarquês Kevin Magnussen, que disputou 79 GPs pela equipe entre 2017 e 2020.

Apoiado por Anders Holch Povlsen, o homem mais rico da Dinamarca e dono da grife Jack & Jones, Magnussen chegou com uma boa verba para equipe – estimada em € 20 milhões (aproximadamente R$ 111 milhões) – e assegurou a vaga com um contrato de pelo menos dois anos.

Dinamarquês Kevin Magnussen será piloto titular da Haas em 2022. Foto: Divulgação Haas F1 Team.

Vagas “compradas”

Comprar a vaga na maior categoria mundial do automobilismo, é algo que existe desde o primeiro mundial em 1950. Ficando mais evidente ainda, com o maior alcance global da categoria nos anos 1970 com o boom da exposição publicitária, que permite que as equipes pudessem cobrar cada vez mais caro por seus assentos.

Até aí, nenhum problema. Afinal, alguns dos grandes campeões do mundo chegaram assim na F-1. Niki Lauda, por exemplo, pegou dinheiro de um banco austríaco para garantir a estreia. Michael Schumacher teve a Mercedes desembolsando cerca de US$ 300 mil para a Jordan o colocar no GP da Bélgica de 1991.

Porém, a situação chegou num patamar tão absurdo que, agora, pilotos não apenas estão comprando vagas: compram o time inteiro. Em 2021, nada menos do que 30% das equipes tiveram como dono ou sócio um pai bilionário que colocou o filho no volante.

Alguns exemplos são: Lance Stroll (Aston Martin), Nicholas Latifi (Williams) e o por último o caso mais emblemático: do russo Nikita Mazepin (Haas).

O fato é que com todo este cenpario a porta da Fórmula 1 parece ter se fechado para Pietro Fittipaldi: o neto de Emerson dificilmente terá um caminho mais aberto para a categoria do que foi em 2022. Talvez seja mais interessante seguir outro caminho, até mesmo no Brasil. Às vezes, é preciso recalcular a rota.

Ou seja caros leitores, não se iludam. Dinheiro é muito mais importante na Fórmula 1 do que o talento, ainda mais no contexto de equipes médias e pequenas. Em um caso como o da Haas, que perdeu o patrocínio por um motivo totalmente alheio ao automobilismo, ainda mais.

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