*Com informações do site Futebol de Goyaz

O dia 15 de outubro é um dia especial. No Brasil, a data é reservada para homenagear os mais de dois milhões e meio de professores que trabalham na educação básica do país e também em outras áreas específicas. Como no esporte, por exemplo.

Um dos principais treinadores da história do futebol goiano, Paulo Gonçalves cursou arquitetura e se formou em educação física, tornando-se professor dentro de campo e também das salas de aula. Nesta data especial e aos 85 anos de idade, ele atendeu a reportagem da Sagres e falou do sentimento de ser um educador.

“A sensação é espetacular. Sabe por que? Você quando está no magistério, dentro de uma sala de aula ou mesmo fora dela em uma atividade acadêmica qualquer, sempre está preocupado em ensinar o que há de melhor. Você está preocupado em repassar alguma coisa boa para aqueles alunos. A intenção é sempre essa, mostrar que é possível conhecer mais”, disse em entrevista ao repórter Rafael Bessa.

Nascido em Sacramento, Minas Gerais, Paulo Gonçalves chegou em Goiás aos quatro anos de idade. Iniciou sua trajetória no futebol como jogador, defendendo o Goiânia de 1950 a 1954, enquanto dividia as atenções também com o curso de arquitetura. Os estudos, no entanto, foram interrompidos por um acidente automobilístico.

Belo Horizonte foi a capital para fazer sua recuperação e quatro meses depois se aventurar em uma nova experiência: o curso de Educação Física. O diploma fez com que ele fosse convidado para ajudar na fundação da ESEFFEGO (Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia do Estado de Goiás) no final da década de 1960. “Para mim foi maravilhoso também porque é uma coisa que glorifica a gente também”.

Em 1970, Paulo Gonçalves recebeu um convite para comandar o Goiânia, onde teve sua primeira experiência como treinador. À frente do Galo, chegou ao vice-campeonato daquela temporada. No ano seguinte, já como técnico do Atlético-GO, conquistou o título mais expressivo do clube rubro-negro, o primeiro nacional do futebol goiano: o Torneio da Integração Nacional.

Em seu currículo também o feito de ter sido o técnico do Goiás Esporte Clube na primeira participação do clube esmeraldino na elite do futebol brasileiro em 1973. A mesma situação aconteceu com o Atlético-GO na elite do Brasileirão em 1979.

Durante todas esses primeiros desafios como treinador, Paulo Gonçalves garante ter sido essencial a sua formação acadêmica. “A gente realmente leva muito da sala de aula. Para uma palestra com os jogadores, por exemplo, você tem uma facilidade muito maior porque ali entra a área da psicologia e uma série de outras atividades que você procura infiltrar nos atletas. Então favorece muito o trabalho como técnico”, destacou.

As duas profissões de Paulo Gonçalves seguiram se conectando durante sua passagem pelo Vila Nova em 1992, quando dividia suas atenções com o clube colorado e sua atividade de professor da Universidade Federal e a Escola Técnica. Neste período, desenvolveu a teoria da visão periférica para os jogadores, que acabou resultando no livro “Visão periférica e futebol”.

“Se trata unicamente de desenvolver no jogador a capacidade de tirar um pouco ou quase tudo a visão da bola, não ficar olhando somente para bola enquanto você tem outros aspectos para ver. Onde você vai chutar a bola no gol, tirar o chute, a distância fora do goleiro. Tudo isso traz um benefício muito grande para o jogador de futebol”, explicou o professor.

As técnicas contribuíram para a formação profissional de uma dos maiores atletas da história do Goiás e do futebol goiano: Dill, o ‘artilheiro do Brasil’.

“O Dill era um jogador muito habilidoso, com uma capacidade técnica muito grande. Nós precisávamos de batedores de pênaltis e comecei a trabalhar com o Dill da seguinte maneira: ‘coloca bola na marca do pênalti, recua as passadas que você acha que vai chegar na bola e não olha mais para ela, você vai olhar para o goleiro. Quando você chegar na bola vai observar se ele vai para um lado ou para o outro. Se ele ficar fixo é fácil, é só escolher o canto, se ele se deslocar para um canto, você bate no outro e não precisa de muita força não'”, relembrou Paulo Gonçalves.

“Realmente o Dill desenvolveu essa capacidade e nunca errou um pênalti, pelo menos comigo”, disse Paulo Gonçalves, que recordou um pênalti cobrado pelo jogador esmeraldino em uma partida entre Goiás e Cruzeiro no Serra Dourado lotado, onde Dida era o goleiro da equipe mineira.

Conquistas

Professor Paulo Gonçalves com a Seleção Brasileira Feminina (Foto: Acervo Pessoal)

Um dos nomes mais importantes do futebol no estado, Paulo Gonçalves também empilhou conquistas longe de Goiás. Comandando a Seleção Brasileira Feminina de Futebol foi campeão Sul-Americano em 2002, medalha de ouro no Pan Americano de Santo Domingo em 2003 e, no mesmo ano, quinto colocado no Mundial nos Estados Unidos. Não bastasse isso, o professor foi um dos responsáveis pelas chegadas de Marta e Cristiane à Seleção Brasileira.

“Eu fui um vencedor, graças a Deus. Ganhei vários títulos no futebol goiano, vários na Seleção Brasileira Feminina. Foi um sucesso. E aqui no estado todas as passagens que eu tive foram um sucesso, eu não posso reclamar de nada”, celebrou.

No meio de tantos troféus, ele guarda com carinho a faixa de campeão do Torneio da Integração Nacional com o Atlético-GO, o primeiro título nacional do futebol goiano.

“É uma preciosidade. Foi o primeiro torneio aqui em Goiás onde vieram vários clubes de primeira linha do futebol brasileiro e o Atlético-GO foi campeão e se destacou no cenário nacional. Não só o clube, mas também o futebol goiano ganhou destaque com essa conquista”, finalizou.

Clubes que treinou: Goiânia (1970); Atlético-GO (1971); Goiás (1972-73); Atlético-GO (1974); Vila Nova (1975); Goiás (1976-77); Atlético-GO (1979); Goiás (1983); Goiás (1984); Goiás (1985); Vila Nova (1992); Atlético-GO (1994); Goiás (1996-97); Vila Nova (1997); Atlético-GO (1997); Seleção Brasil Feminina (2002-03).

Paulo Gonçalves exibe faixa do Torneio da Integração Nacional com o Atlético-GO (Foto: Rafael Bessa/Sagres Online)