Sempre que vai acompanhar algum jogo do Atlético, o torcedor tem certeza de uma coisa: a dedicação de Pedro Bambu. Natural do povoado de Bambu, no município de Pindaré-Mirim, Maranhão, o volante está em sua terceira temporada pelo Dragão e está ajudando o clube a trilhar os rumos da elite do futebol brasileiro.

“Nunca imaginei, mas sempre sonhei em, um dia, chegar a um time de expressão como o Atlético. Ainda mais vivendo esse momento agora. De muita felicidade não só para mim, mas para todos os meus companheiros”, afirma Bambu.

Humilde, o volante concedeu entrevista exclusiva ao repórter Pedro Henrique Geninho. O atleta falou da carreira, dos momentos marcantes vestindo a camisa do Atlético, sobre a proposta do Marítimo de Portugal, do orgulho de suas origens e do amor à família, especialmente à mãe dona Raimunda.

-Tem muita gente que torce por mim (em Bambu). Mãe, irmão. Só não tenho meu pai, que faleceu há 16 anos. Todo mundo de onde eu moro me acompanha, me manda mensagem querendo saber como eu estou. As pessoas por onde eu passava, ligam, procuram saber. É muita gente, mas, em especial minha mãe, por tudo que a gente passou junto.

Momentos marcantes

-Existem dois momentos que ficaram marcados na minha carreira. O último jogo de 2013 contra o Guaratinguetá marcou muito. Não só pela circunstância que estávamos passando, mas porque era meu primeiro ano no Atlético. Era um time que vinha numa sequência muito ruim. Todo mundo falava que iria cair para a terceira divisão e, no último jogo, nós conseguimos fazer um gol aos 42 do segundo tempo e nos salvarmos. A final do Goiano também. Todo mundo dava o Goiás como campeão e, aos 48 do segundo tempo, fizemos o gol que nos deu o título. Foram dois momentos que ficaram marcados na minha vida e carreira.

Relação com a mãe e a família

-Eu trouxe ela (mãe) para cá este ano. Passou uns 10 dias comigo, mas não quis ficar. Disse que não era lugar para ela, porque ela tinha liberdade lá onde ela mora de andar e conversar com as pessoas. Eu entendi. Lá ela vive feliz com a nossa família.

-É um sonho que eu nunca vou realizar (pai vê-lo jogando). Todo mundo tem esse sonho de ver o pai no estádio te vendo jogar. Eu não tive essa oportunidade. Mas eu sei que ele está lá em cima olhando por mim. Foi dele que eu tirei a motivação. Às vezes eu estava trabalhando na roça e ele me mandava ir jogar bola. Ele foi o incentivador da minha carreira. Sem ele, nada teria acontecido. Esse é um sonho que nunca vou poder realizar, mas me sinto feliz por poder ajudar minha família.

-Tenho sempre o carinho, principalmente quando chego em casa. Todas (esposa e filhas) vêm me abraçar, beijar, perguntar como estou e como foi o dia de trabalho. É uma felicidade imensa estar ao lado das minha três mulheres. Autoridade é complicado (risos). Três contra um não dá.

Amor pela terra natal

-Quando termina o ano, eu vou para o lugar que moro. Lá eu ando descalço, vou para o rio, pescar, fazer o que eu gosto. Isso (dinheiro) nunca mudou minha cabeça. Foi uma coisa que eu coloquei comigo. É melhor a pessoa ter amizade, carinho, atenção do que ter dinheiro. Dinheiro nunca será o essencial na vida. O mais importante é a amizade, o carinho e o respeito que todo mundo ter por mim.

-Lá eu brinco com todo mundo, converso. Vou na casa de todo mundo. Todos me respeitam, gostam de mim. O respeito que eles têm por mim me dá motivação. Quando eu chego lá, eles têm a atenção e eu posso retribuir. Chego lá, vou para o campo brincar, converso com meus amigos de infância. Para mim, é uma felicidade imensa, pois eu me sinto em casa. Foi onde eu nasci, um interior que foi minha família que fundou. Então, se torna mais especial por isso.

Pedro Bambu por Pedro Bambu

-Sou um cara que sempre batalhou por tudo. Dedicado no seu trabalho, sempre procura melhorar. Um cara que sempre procura dar o melhor para a minha família. Por tudo que não tive na infância, eu procuro dar para elas. Só eu sei o quanto é difícil você ver uma pessoa brincando e você não poder. Você pede para sua mãe comprar uma coisa e sua mãe não tem e você vê outra pessoa comprando para o seu filho. Eu tento dar o melhor de tudo. À minha mãe eu só tenho a agradecer. Agradecer a Deus pela mãe e pela família que tenho. Dizer que o que eu tenho de importante na minha vida são elas. Eu amo muito minha mãe. Os momentos mais difíceis da minha vida ela estava comigo. A minha mãe tudo o que ela me pedir e eu puder dar, eu dou para ela. Sei o que ela fazia e faz por mim.

-Guerreiro, lutador, batalhador pelo que sempre sonhei e pelo que sempre busquei. Isso nunca vai mudar. Tudo que eu passei, hoje, quando entro em campo, tento lembrar e dar o meu melhor, porque só eu sei de onde eu vim e o que passei. Cada vez que entro em campo, isso me dá motivação para trabalhar, para jogar. Toda vez que entro no CT, agradeço a Deus tudo o que ele vem fazendo por mim. Eu relembro tudo que passei, as dificuldades que tive na infância e quando comecei a jogar bola. Isso me motiva cada vez mais, me dá força. Quando entro em campo, lembro da minha mãe, por isso me dedico ao máximo. Sei que ela está vendo. Essa é uma marca que tenho comigo de sempre entrar em campo e me doar ao máximo.

Proposta de Portugal

-A gente procurou receber da melhor maneira possível. Quando me ligaram, eu pensei em conversar com a minha família e ver o que é melhor para o Atlético. Entre eu e minha família, a gente resolveu ficar pelo que estávamos vivendo. A gente ia sair para uma cultura diferente do Brasil. Como falei, teríamos que tirar nossa filha da escola, adaptar-se à cultura, ao modo de viver e de ser das pessoas. Achei melhor ficar porque acho que Deus tem algo melhor para nós aqui.

Ídolo? Não agora

-Eu sou sempre aquele coadjuvante. Quero ser sempre aquele jogador com os pés no chão. Deixa ídolo para o Viçosa, Lino, Jorginho. Ídolo quando estiver mais velho, uma experiência maior. Eu tenho como ídolo um cara que ensinou bastante quando cheguei aqui. Me deu muitas orientações, me ensinou a dar entrevista. É o Márcio. Hoje, eu tenho ele como um espelho pelo que ele passou para mim, pelo que ele representa na minha carreira. É um cara que me dá forças, sempre me fala o que tenho de fazer para melhorar. Deixa isso de ídolo para Juninho, que passou aqui, o Lino. Vou continuar sempre aquele coadjuvante que é melhor.