O primeiro registro de violência numa escola brasileira é de 2002, com outros casos isolados em 2003, 2011 e 2012. Mas depois de um período de cinco anos, com exceção de 2020, ano em que as escolas estavam fechadas por causa da pandemia, o Brasil registrou ao menos um caso por ano, de 2017 a 2023. No último ano, por exemplo, ocorreram 16 casos somente até outubro. Para o especialista em Educação, Daniel Cara, está acontecendo uma “permissividade” a esses casos no país.

“O Brasil vive, desde 2017, sob a permissividade do ódio. O discurso de ódio é altamente expansivo: quando ele ocorre, independentemente do tema e do motivo, ele acaba mobilizando outros discursos de ódio”, diz.

Grafico-ataque-escolas

O país registrou 24 ataques em ambiente escolar entre 2022 e outubro de 2023, com ao menos 137 vítimas, entre mortos e feridos. Por isso, o assunto foi tema da sétima edição do programa Pauta 1, que debateu as causas, consequências e propostas para o problema com a advogada especialista em Justiça Restaurativa, e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem), Cléo Garcia. 

Influência da internet

O tema da violência é fortemente associado à regulação das redes no país. Por isso, no final do ano, o Ministério da Educação (MEC) lançou um relatório com 13 medidas para combater e prevenir os ataques às escolas. Daniel Cara, que também é professor da USP, participou do Grupo de Trabalho do MEC que elaborou o relatório. O especialista aponta que os autores dos ataques planejam suas ações em comunidades de ódio na internet.

“Nessas comunidades de ódio, vários ataques em massa estão sendo planejados e a gente não pode deixar que isso ocorra na sociedade brasileira”, conta.

Então, o professor destaca frequentemente a influência das redes sociais com o discurso de ódio. “O fator brasileiro é que esses ataques se mobilizam fortemente pela misoginia, pelo racismo e pela LGBTQIA+fobia”, diz.

Regulação das redes

A solução do problema, então, segundo Daniel Cara, começa com o “controle social sobre as plataformas digitais”. O especialista explica seu argumento a partir da prática de vincular o conteúdo entregue pela plataforma ao tópico que o consumidor pesquisa na internet. 

“Uma plataforma digital, um Instagram, Twitter consegue identificar a minha preferência de consumo”, diz. “Não é possível que ela não consiga identificar os discursos de ódio, até porque tem palavras-chave e tem comportamentos. Com um pouquinho de esforço e boa vontade, as plataformas poderiam proibir demais a estruturação de comunidades de ódio, que são as mobilizadoras e as articuladoras dos ataques. Nenhum ataque no Brasil deixou de ser articulado pela internet, todos foram articulados pela internet“, afirma.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 4 – Educação de Qualidade.

Leia mais: