A cidade tem o pior aeroporto de capitais brasileiras e o fato ainda é comemorado por políticos. Nesta semana, pela enésima vez, o governo federal prometeu assinar até o fim de setembro a ordem de serviço para obras no Aeroporto Internacional Santa Genoveva. Observe-se que ainda será assinada a ordem de serviço. E os gaviões da fiel enrolação voaram para cima da carniça. Não importa o fedor do ponto de ônibus adaptado para pousar aeronaves, o que vale é sair bem na foto.

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O enredo desse filme de terror é conhecido e o usuário do aeroporto morre no fim. Morre de raiva das mentiras. Infraero, a estatal que deveria cuidar do setor, é experiente em propagar o que não se concretiza. Então, em vez de disputar quem será papagaio-de-pirata na solenidade de anúncio, a classe política deveria se juntar para fazer do documento um aeroporto.

Goiânia já recebeu papa. Já sediou mundial de futebol. Teve uma das melhores apresentações de um beatle. Foi palco de Copa América com Maradona. E seu aeroporto não presta nem como parada de pau-de-arara. Chega de passar vergonha. Goiânia não merece o contínuo vexame. Quando o Santa Genoveva foi construído, Goiás era um Estado de economia quase 100% rural e hoje a agropecuária é responsável por 14% do PIB. A indústria e os serviços dominam a balança comercial. Quem andava na Viação Beiçola, ou seja, de carroça, passou a viajar de avião, graças à estabilidade da moeda. E o aeroporto é o mesmo do tempo do ronca.

Autoridades se engalfinham pelo mérito de retomar as obras do aeroporto. É um equívoco histórico. Deveriam brigar por um aeroporto moderno e grande para a Goiânia do século XXII, não para remediar os escombros do século XX. O aeroporto internacional nem precisa ser no território de Goiânia. Pode ser em Terezópolis ou Inhumas, mantida a média de 40 quilômetros do portão de embarque ao engarrafamento mais próximo. No lugar atual, o aeroporto de Goiânia é viável somente para voos domésticos. É cercado de conjuntos habitacionais. A cabeceira da minúscula pista fica a 6 metros do muro das casas.

Ideal seria fazer uma só estrutura, para transporte de pessoas e cargas. Mas a burrice já começou a fazer um de cargas em Anápolis e vão enfiar outros milhões no de Goiânia. Em vez de lutar para sair nas imagens, os políticos deveriam fugir da solenidade de lançamento. É melhor para sua imagem. Por pior que ela seja, deve ser melhor que a do aeroporto.