Poucos conhecedores do futebol deixaram de fazer a pergunta: “Porque Daniel Alves foi convocado para a Seleção Brasileira que vai disputar a Copa do Mundo?”

Jogador milionário, com idade de ex-jogador (pra mim é o que ele é), que por onde passa tem deixado decepção, que atualmente está na reserva do inexpressivo time mexicano Pumas. Realmente, não tem contribuição alguma para dar para à Seleção. Mas está convocado e vai para a Copa, recebendo cachê altíssimo como qualquer outro dos que foram chamados pelo técnico Tite, e eu também queria saber: por que?

Outras convocações também são questionadas, por menos pessoas, mas com igual falta de entendimento do porquê. É o caso do atacante Gabriel Martinelli, do Arsenal, da Inglaterra? Ele também não tem nada a contribuir com a Seleção. Tem mais gente, mas penso que os dois maiores absurdos são estes.

Há, no meu conceito um questionamento também importante, que poucos têm feito, embora todos concordem com ele: porque Gustavo Scarpa, meio-campo do Palmeiras, que a partir do ano que vem vai jogar no Nottingham Forest, da Inglaterra, não foi convocado?

Venho fazendo esta pergunta desde que foi anunciada uma reformulação em métodos e nomes para servir a Seleção, após o vexame da Copa de 2014, disputada no Brasil. Quando falaram na reformulação, imaginei que o Scarpa seria um dos nomes do novo elenco, já que além dos nomes da comissão técnica, a CBF assegurou que os critérios para convocação também seriam modificados, levando em consideração a média de desempenho do Atleta e seu comportamento. Mas…só os nomes foram trocados, os critérios continuam os mesmos: jogadores de grandes clubes do futebol internacional, ligados a marcas de produtos esportivos e a grandes negociadores no mercado do futebol internacional e algumas excepcionalidades que atuam no futebol brasileiro.

Aí está o motivo pelo qual o melhor jogador do futebol brasileiro na atualidade, não vai para para Copa do Mundo. Gustavo Scarpa vem merecendo convocações desde que se firmou como titular na equipe do Fluminense RJ, em 2016. Seus números sempre foram impressionantes, mesmo quando enfrentou problemas como a implicância de Wanderlei Luxemburgo, em sua última passagem pelo Palmeiras, em 2020, que chegou a deixar o jogador fora das convocações em alguns jogos. Claro que Luxemburgo fracassou e perdeu o emprego, sendo substituído pelo português Abel Ferreira, que nunca mais escalou o time sem que Gustavo Scarpa estivesse entre os titulares.

Scarpa é um dos chamados Meninos de Xerém. Xerém é o local em que fica o Centro de Formação de Atletas do Fluminense, no Rio de Janeiro e de lá tem saído craque ano após ano. Ao estourar a idade para jogar na base, ou seja, ultrapassar os 20 anos, em 2015, o jovem Gustavo Scarpa foi emprestado para o Red Bull Brasil, onde foi titular em poucos jogos, afinal era um jovem de 21 anos. Participou de 11 jogos, marcou dois gols e deu duas assistências. Foi o suficiente para o Fluminense ver que era útil no seu time, que passava por sérias dificuldades financeiras. Jogou na equipe principal do Fluminense, por dois anos, depois, por falta de recebimento dos salários, ganhou os direitos econômicos na justiça e foi jogar no Palmeiras: saiu de graça.

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Mesmo jogando apenas dois anos, Scarpa deixou números consistentes no Clube onde foi formado. Em 2016 jogou 60 jogos, marcou 14 gols e deu 13 assistências. Em 2017 jogou 51 jogos, marcou sete gols e deu 16 assistências. No total, jogou pelo time profissional do Fluminense 111 jogos, marcou 26 gols e deu 29 assistências. A carreira foi conturbada em 2018, quando ganhou o direito de sair do Fluminense. Assinou contrato com o Palmeiras e o time carioca recorreu à justiça e voltou a ser dono dos seus direitos. Com contrato assinado com o Palmeiras e sendo jogador do Fluminense, teve de esperar o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) se posicionar sobre quem tinha razão e ele foi considerado o vencedor.

Assim pôde cumprir o contrato de cinco anos com o Palmeiras, a partir de junho de 2018. Mas neste primeiro ano o aproveitamento do atleta pelo clube não foi regular.

Em 2019 jogou 47 jogos, marcou 13 gols e deu sete assistências, em 2020 jogou 47 jogos (mas na maioria entrou no decorrer da partida – foi a era Luxemburgo), marcou quatro gols e deu nove assistências. Em 2021 jogou 57 jogos, marcou oito gols e deu 20 assistências e em 2022 jogou 55 jogos, marcou 13 gols e deu 15 assistências.

Nas redes sociais do jogador tem uma totalização dos jogos da carreira e o desempenho. De acordo com a informação, Gustavo Scarpa já fez 399 jogos, marcou 72 gols e deu 94 assistências.

Canhoto, é o autêntico camisa 10, criando e aparecendo para auxiliar o ataque nas finalizações. Também
poucos discutem que a melhor bola parada no futebol brasileiro é a dele. Além de atuar como autêntico 10, Scarpa também atua (e bem) como ala esquerda, onde foi escalado algumas vezes pelo técnico Abel Ferreira.

Na convocação do técnico Tite para a Copa do Mundo foram chamados, como jogadores de meio campo: Bruno Guimarães do Newcastle, da Inglaterra, Fred do Manchester United, da Inglaterra, Casemiro do Manchester United, da Inglaterra, Lucas Paquetá do West Ham, da Inglaterra e Éverton Ribeiro, do Flamengo – nenhum camisa 10 de ofício, nenhum homem com autenticamente de criação, que aparece para auxiliar os atacantes nas finalizações.

Tecnicamente não tem como comparar o desempenho de um bom jogador com outro, já que esta é uma questão muito pessoal, mas taticamente onde a lógica e os números pesam mais (ou pelo menos deveriam pesar), nenhum dos convocados pode ter a capacidade comparada a do Gustavo Scarpa.

Para a lateral esquerda Tite convocou Alex Sandro da Juventus, da Itália e Alex Telles do Sevilha, da Espanha – nenhum joga o que joga Gustavo Scarpa.

A pergunta que um jornalista esportivo mais responde neste momento nas ruas é: “O que você espera da Seleção na Copa?”. Como sempre, procuro ser realista e respondo: “Só a Copa pode nos responder. A Convocação da Seleção é muito questionável”.