(Imagem: Reprodução/ Internet)

Mãe é coisa de Deus. A mais bela das criaturas traz em seu ceio todas as outras. Quando não gera ela adota, acolhe, acalenta, tranquiliza as tormentas ao redor. A agente de viagens Ana Cristina Mendes, de 51 anos, conhece bem o poder dos laços de afinidade que provém da alma.

Há 23 anos, ela e o marido, Adilson Mendes, com quem Ana é casada há 28 anos, adotaram o David, o mais velho dos três filhos do casal. Ana Cristina não conheceu a mãe biológica de David, mas acompanhou a gestação a distância por meio de informações repassadas por conhecidos. Quando o menino nasceu, ela e o marido estavam lá para amparar nos braços o bebê, que ela faz questão de chamar de presente de Deus.

“Nós estávamos aguardando o médico dar alta no estacionamento do hospital. Todos estavam com uma expectativa muito grande. Quando nós pegamos ele no colo foi uma emoção sem tamanho, um misto de choro e riso. Nós decidimos o nome dele ali. Foi maravilhoso”, relembra.

Assim que a criança nasceu, Ana Cristina procurou os meios legais para dar entrada no processo de adoção. Ela ressalta que apesar de burocrático, o processo legal é sempre o melhor caminho.“Se nós não tivéssemos entrado pela porta certa da adoção, se tivéssemos feito da forma errada, hoje não teríamos moral para ensinar integridade para os nossos filhos”, afirma.

Ana e Adilson têm outros dois filhos, Isaac e Daniel, ambos biológicos. Segundo ela, a relação de David com a família é harmoniosa porque o filho sempre soube a verdade.

“O meu filho ouviu desde bebê que ele nasceu no coração do papai e da mamãe, que ele foi um presente que Deus deu para nós. Então ele cresceu sabendo que a entrada dele na família foi diferente dos outros, mas que isso não diminui nem aumenta o valor dele como filho”, explica.

Mãe amor

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Berenice Piana [à direita] (Foto: Sagres on)

Assim como Ana Cristina, a ativista Berenice Piana nunca desistiu de seu filho, Dayan. Nem mesmo há de 20 anos, quando Dayan foi diagnosticado com uma síndrome até então pouco conhecida, o autismo.

Munida de coragem, ela se uniu a outras mães de autistas espalhadas pelo Brasil na luta por direitos. É por esse motivo, que o nome Berenice Piana dá o tom humano por trás da frieza numérica da Lei Federal 12.764, que institui a Política Nacional de Proteção aos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista.

Sancionada em 2012, a Lei Berenice Piana se tornou o primeiro caso de sucesso no senado como legislação participativa e até hoje constitui-se como objeto de estudo de advogados, juristas e estudantes de Direito. Ao relembrar o processo de aprovação da Lei, Berenice faz questão de dizer que a conquista só foi possível graças a união dos familiares dos autistas, especialmente das mães.

“Ser mãe de autista é ser mãe amor, ser mãe sentimento, ser mãe doação. Nós não matamos um leão por dia, matamos vários leões por dia. Nunca sabemos como será o dia de amanhã, que problemas teremos que enfrentar com o próprio filho e com a sociedade em geral. Mas isso nos fortalece, não vejo nenhuma mãe reclamando de ser mãe de autista. Ao mesmo tempo que elas enfrentam uma luta diária elas se engrandecem em amor, isso é muito bacana”, considera.

Apesar de a Lei representar uma vitórica histórica, tirá-la do papel permanece sendo um desafio. Na prática ainda há muito o que se fazer para que saúde e educação gratuitas estejam ao alcance de todos os autistas. Para Berenice Piana, o acesso pleno a cidadania será alcançado se todas as mães de autistas se unirem, não só em favor de seus filhos, como também em prol dos filhos de outras mulheres.

“Vocês (mães) podem errar por excesso de zelo, mas não errem por negligência, porque não se desiste de um filho, jamais. Ninguém pode desistir do seu filho, quando eu não desisto do meu eu não desisto de tantos outros por ai. Sempre que nós olhamos para o coletivo, estamos plantando nosso futuro ao longo prazo. Não desistam de seus filhos, não abandonem a luta, vale a pena, vale muito”, ressalta.

Do luto à luta

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Celma de Oliveira [de laranja] (Foto: Adufg)

A geógrafa Celma de Oliveira sempre esteve ao lado da filha, Ana Carolina Oliveira, mesmo nos momentos mais difíceis. Ela, o marido Romualdo Pessoa, e o filho Yago, travaram junto com a pequena Ana uma dura batalha contra um câncer. A menina infelizmente faleceu aos 10 anos em 2007, vítima da doença.

No entanto, a memória de Ana continua muito viva nos corações de seus familiares e nos bordados das cerca de 22 bordadeiras que fazem parte da Cooperativa Bordana, situada no Conjunto Caiçara em Goiânia.

Além de proporcionar momentos de lazer e o fortalecimento de amizades, a Cooperativa também gera renda para as cooperadas e movimenta a economia do bairro. Celma, que é presidente da Bordana, fundou a Cooperativa meses após a morte de Ana, com a ajuda das mulheres residentes no Conjunto Caiçara.

De acordo com ela, a Bordana é fruto do desejo da própria Ana Carolina, que desde pequena manifestava o desejo de ajudar as pessoas.

“Essa convivência coletiva com todo esse processo de formação não só do bordado, mas também de formação como um ser humano melhor, nos ajuda a resgatar nossa autoestima, nos ajuda a nos transformar em pessoas melhores. Nós temos várias histórias de superação, passando pela minha que é uma história de superação cotidiana, que é uma homenagem a minha filha que eu faço todos os dias. Eu trago ela comigo o tempo todo. Temos também histórias de mulheres aqui da comunidade”, conta.

Mães adotivas, ativistas, trabalhadoras. Mulheres acima de tudo. Como bem diz um provérbio judaico,”Deus não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, por isso fez as mães”.

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