Tão importante quanto preservar rios e mananciais, é ter a capacidade de não consumir mais água do que a natureza consegue repor. Este é um dos temas debatidos nesta semana no Seminário Águas para o Futuro, em Rio Quente, Goiás. O seminário é promovido pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Goiás (Semad-GO) em parceria com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Para o presidente do Instituto Espinhaço, Luiz Cláudio de Oliveira, o Brasil deve assumir o protagonismo deste desafio.

Leia mais: Goiás assina pacto nacional pela governança da água

“O Brasil tem essa responsabilidade de transformar essa percepção, de fazer uma agenda disruptiva, de mostrar ao mundo que é possível um país como o nosso, continental e tão belo, conseguir alçar voo a condições que outros países conseguiram, se desenvolver em uma relação harmoniosa com a água que é aquilo que nós temos de mais importante na vida. Tudo que fazemos tem água, e o Brasil é um grande líder nessa agenda. É preciso que o Brasil ensine ao mundo que é possível produzir alimentos e, simultaneamente, conservar a natureza, proteger as águas. Mais do que produzir alimentos é produzir água, e esse é o grande desafio que o Brasil, se nossos governantes tiverem esse olhar amoroso, vamos conseguir”, afirma Oliveira em entrevista à Sagres.

Assista à reportagem especial sobre o seminário

Além disso, o presidente do Instituto Espinhaço defende que o Brasil ressignifique o olhar que tem sobre o recurso natural essencial à vida. “O Brasil tem uma responsabilidade enorme. Não só porque concentra grande parte das reservas de água doce do planeta Terra, mas sobretudo porque talvez caiba ao povo brasileiro, ao povo que fala português, convencer o mundo de que uma outra relação com a água é possível”, avalia.

Águas para o Futuro

Águas para o Futuro, inclusive, é um dos projetos do Instituto, presente em 11 estados. A ação visa a “produção de água” para a segurança hídrica, bem como, para contribuir com a agenda de minimização dos efeitos das mudanças climáticas por meio de soluções baseadas na natureza, reforçando os serviços ecossistêmicos. 

“Não é possível ter agenda agrícola sem água, não é possível ter abastecimento público sem água, mas também não é possível ter sociedade sem água. Todas as sociedades ao longo da história do mundo cresceram em torno das águas. Goiás também cresce, com a força das suas águas, por isso é importante e muito forte essa agenda aqui hoje”, ressalta Oliveira.

Afastamento

Ainda segundo Luiz Cláudio Oliveira, o mundo viveu, porém, nos últimos dois séculos, o que chamou de “afastamento da agenda as águas”. “Nós poluímos as águas, usamos as águas como commodity, como ativo econômico, e talvez agora seja o grande momento da revolução desse modelo mental. Colocar a água em uma agenda de centralidade das ações do poder público, mas fundamentalmente da agenda do cidadão goiano. Ter uma outra relação com a água é fundamental para o Brasil”, pontua.

Segundo o presidente do Instituto Espinhaço, entretanto, não é possível promover agendas sustentáveis sem ressignificar o olhar da sociedade sobre as águas. “Ressignificar a relação das pessoas com a natureza e harmonizar essas relações. Nós entendemos que não é possível promover a agenda do desenvolvimento sustentável, não é possível acabar com a pobreza, não é possível erradicar o analfabetismo, melhorar os índices de educação, de segurança, de inclusão, sem tratarmos a agenda da água. Quem não cuida das pessoas também não cuida dos rios”

Leia mais

Paz mundial e mudanças climáticas têm relação direta com compartilhamento de águas, avalia Unesco

Preservação do Cerrado fica em segundo plano em relação à Amazônia, afirmam secretários de Goiás e Tocantins

Evento sobre o Cerrado destaca importância do bioma e discute ações para sua preservação