Com acesso ampliado ao mercado de trabalho formal antes de atingir a maioridade legal, jovens brasileiros estão mais interessados na educação financeira, buscando formação e informação que auxiliem na relação com o dinheiro visando economia e também investimentos. Uma das oportunidades que esses jovens têm para ingressar de forma sólida nas atividades laborais são os programas de aprendizagem em todo o país.
A plataforma utilizada para o cadastro e seleção de jovens para os programas desenvolvidos em parceria com a Rede Nacional de Aprendizagem, Promoção Social e Integração (Renapsi), possui conteúdo didático relacionado a diversos temas, entre eles, a educação financeira. O conteúdo é gratuito mediante cadastro e está ao alcance de qualquer jovem interessado, não sendo necessário ter sido selecionado em algum programa.
Jully Alves é uma dessas jovens. Aos 18 anos, moradora da cidade do Rio de Janeiro ela coleciona experiências no mercado informal em pequenos bicos como venda de bombons, garçonete e artesanato. Depois de um longo período na informalidade, a jovem acaba de ter a sua carteira assinada pela primeira vez como jovem aprendiz no programa Aprendiz Carioca – iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro em parceria com a Renapsi.
Com o novo salário, a jovem que tem estudado sobre planejamento financeiro pretende se organizar para custear a faculdade, ajudar em casa e investir parte dos rendimentos.
“Pesquiso bastante sobre planejamento financeiro, porque até então nunca tive uma renda fixa, então sempre tentei me estruturar a respeito disso. Ao todo somos 6 irmãos, eu atualmente moro com meus dois irmãos mais velhos, infelizmente sou órfã desde os 14 anos de idade, então somos só nós. Ano passado aconteceu uma fatalidade aqui em casa, e ainda estamos nos recuperando disso, ajudo da maneira que eu consigo, mas com essa renda sinto que vou conseguir ajudar ainda mais”, relatou.
Educação financeira
Para o economista Gabriel Machado o planejamento financeiro deveria ser ensinado desde a infância, mas essa não é a realidade da nossa sociedade.
“Isso explica em partes porque mais de 70% da população brasileira está endividada. Saber gastar também é uma questão de educação financeira e tem que vir da primeira renda construindo um futuro de saúde financeira familiar e não caindo em ciladas como o cartão de crédito rotativo que o juro médio está acima de 430% ao ano”, explicou.
Para Gabriel, considerando que a renda familiar per capita das famílias é baixa e grande parte da população ganha um salário mínimo enfrentando dificuldades para suprir as necessidades da família, a renda extra do jovem tem um grande impacto na melhora a qualidade de vida desses núcleos familiares.
Jovens no mercado de trabalho
Segundo os dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) o Brasil fechou o primeiro semestre de 2023 com um saldo positivo de 1.023.540 milhão de empregos formais criados. O cadastro indica ainda que das 526.173 vagas de trabalho com carteira assinada criadas no Brasil nos primeiros três meses deste ano, 76,3% (401 mil) foram destinadas a profissionais com até 24 anos.
O aumento da presença de jovens no mercado de trabalho pode ser atribuído ao aquecimento da economia pós-pandemia e à melhora da expectativa sobre o Produto Interno Bruto (PIB), segundo o economista Gabriel Machado.
“Nota-se que esses empregos formais foram principalmente de jovens até 24 anos e desses na sua maioria com escolaridade com nível médio o que demonstra que o mercado necessita de mão de obra nova com pouca qualificação para tarefas de serviços administrativos e no setor industrial de produção de bens e serviços. Outro fator importante são os aumentos da empregabilidade de jovens no comércio como vendedores”, explicou.
De acordo com Gabriel, o aquecimento da economia fez com que o mercado estivesse disposto a contratar jovens, levando em conta vantagens como a possibilidade de carreira na empresa, agilidade nos processos, facilidade em novas tecnologias, essenciais na era digital. Gabriel destaca ainda que ao iniciar cedo no mercado de trabalho, o jovem tende a ter uma vida adulta com maior produtividade no trabalho e isso pode impactar significativamente o PIB.
“Em um país que ainda tem 8,6 milhões de desempregados e 3,7 milhões de desalentados – aqueles que desistem em buscar emprego, criar empregos e ter oportunidade de crescimento para os nossos jovens é melhorar autoestima e dar dignidade, ajudando assim na renda familiar”, explicou.
Políticas Públicas
Alguns fatores influenciam para que a juventude brasileira represente uma faixa significativa no mercado de trabalho, ao exemplo de políticas públicas como a Lei de Aprendizagem. Criada há mais de 20 anos, a Lei se firmou na sociedade brasileira como um mecanismo de inclusão laboral e fortalecimento de oportunidades para jovens a partir dos 14 anos. O texto da Lei estabelece critérios para a contratação de jovens, bem como determina a atuação das empresas e os direitos e deveres do aprendiz.
“É claro que políticas públicas também contribuíram de forma efetiva para esse crescimento dos empregos formais de jovens no país. A Lei de Aprendizagem impactou de forma significativa os empregos para este público, a empresa ganha benefícios como redução dos custos trabalhistas e o jovem tem a oportunidade do primeiro emprego. A experiência profissional sempre é exigida pelo mercado e jovem sempre estará em desvantagem, por isso a Lei de Aprendizagem é necessária nesse sentido”, explicou o economista Gabriel Machado.
O ingresso no mercado de trabalho através de programa de aprendizagem facilita o acesso ao emprego formal para jovens sem experiência e também contribui para o combate à exploração do trabalho infantil.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) – ODS 8 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico e ODS e ODS 10 – Redução das Desigualdades
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