Sustentabilidade e ESG, em inglês Environmental, Social and Governance, são dois termos que têm ganhado cada vez mais destaque em projeto no cenário global. Enquanto a sustentabilidade se refere à capacidade de satisfazer as necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras, o ESG abrange uma abordagem mais ampla. A sigla considera os aspectos ambientais, sociais e de governança nas práticas empresariais e de investimento.
Pensando nisso, a empresa de mineração, Hochschild Mining, desenvolveu a ‘Trilha do Conhecimento’, do Projeto Mara Rosa, em Goiás. Trata-se de uma iniciativa de educação ambiental e patrimonial, que visa valorizar a cultura local e o bioma Cerrado. Para isso, são apresentandos os conhecimentos acumulados em mais de 10 anos de coletas de dados que embasaram os estudos e a obtenção das licenças ambientais.
De acordo com o consultor ambiental, Marco Emílio Meireles, que também é idealizador do projeto, a ideia é valorizar a educação ambiental e resgatar a tradição regional. “Os objetivos principais são divulgação do trabalho científico, a conscientização ambiental e o resgate e valorização do patrimônio cultura regional da região norte de Goiás”, revelou.
O ESG vai além do meio ambiente e inclui também os aspectos sociais e de governança. O “E” refere-se às questões ambientais, como as emissões de carbono, a gestão de resíduos, o uso de recursos naturais e a adaptação às mudanças climáticas. O “S” diz respeito às questões sociais, como a igualdade de oportunidades, a diversidade, a saúde e segurança dos colaboradores. Por fim, o “G” está relacionado à governança corporativa, englobando a transparência, a ética, a integridade, a gestão de riscos e a responsabilidade dos líderes empresariais.
Ideia
Marco Meireles explicou que, durante o período da pandemia e isolamento social de 2020, o projeto enxergou a necessidade de divulgar esses conhecimentos acumulados em mais de 10 anos. Ele contou que já faziam um trabalho com as escolas das cidades de Mara Rosa e Amaralina, mas resolveram envolver toda a sociedade.
“Tivemos a ideia de democratizar esse conhecimento, porque são documentos muito técnicos e que embasam os licenciamentos. É uma bíblia do município, porque trata de vários assuntos. Quando a gente estava desenvolvendo o projeto, percebemos a riqueza de informações, tanto ambiental, mas principalmente cultural”, afirmou.
Em seguida, para viabilizar o projeto, o idelizador explicou que foi necessário desenvolver uma plataforma para disponibilizar essas informações. “Veio a ideia de transformar em uma trilha, um espaço físico na empresa de aproximadamente dois alqueires. Basicamente, são treze estações, em que cada uma trata de um tema específico, meio físico, biótico e socioeconômico, inseridos nos estudos ambientais. Além disso, com a temática sempre ambiental ou patrimonial”, destacou.
Como inicialmente era um projeto escolar e posteriormente passou a ser para toda a sociedade, Marco Meireles disse que o projeto teve que se adaptar. “É uma trilha de cerca de 400 metros e como é de resgate cultural para toda comunidade, desenvolvemos com acessibilidade. Tem vários atrativos, réplicas de artefatos arqueológicos, o núcleo urbano originário da região, a cidade de Amaro Leite, que surgiu por volta de 1742. Então, uma das ideias foi resgatar essa história e na trilha do conhecimento reconstruimos com painéis”, ressaltou.
Trilha do Conhecimento
Vencedor do Prêmio Goiás Sustentável da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), na categoria Inovação, Ciências e Educação, o Trilha do Conhecimento tem 13 painéis em suas estações. A estação geográfica tem o objetivo de conhecer os antecedentes históricos do Projeto Mara Rosa, além de mapas e indicadores geográficos e socioeconômicos de Mara Rosa, Amaralina e região.
Na parte pré-escrita, os visitantes conhecem a ocupação humana pré-colonial na região de Mara Rosa, bem como seus vestígios, hábitos e sua cultura material. Em seguida, no Bandeirante, tem a origem e o desenvolvimento do núcleo urbano e do sertão de Amaro Leite, seu fundador e os fatos históricos e marcantes relacionados a este período.
Em ouro e geologia, é possível conhecer os conceitos básicos da geologia, a gênese das rochas e o ambiente geológico que permitiu a formação de ouro na região de Mara Rosa. Também explica o intrigante fenômeno sismológico que faz a terra tremer por aqui. No Berçário de mudas, a ideia é divulgar as técnicas de produção de mudas do cerrado, visando ações educacionais de recuperação de nascentes e restauração de áreas degradadas. Apresenta o efeito estufa e aquecimento global, mostrando ainda a importância das ações de neutralização de emissões de carbono na atmosfera.
Depois, no painel arqueológico, tem os principais conceitos de arqueologia, a divulgação dos resultados do programa arqueológico do Projeto Mara Rosa, além de prestar uma homenagem à memória do biólogo e arqueólogo Alfredo Palau Peña, o Professor Palau. Em seguida, na Flora e Dendrologia os visitantes conhecem os conceitos de dendrologia, as curiosidades sobre a flora do cerrado, bem como divulgar os programas ambientais de flora relacionados ao Projeto Mara Rosa.
Outros painéis
O painel Açafrão divulga a origem, desenvolvimento e a consolidação da cultura do Açafrão-da-Terra (Cúrcuma longa L.) na região, bem como exaltar suas propriedades culinárias, medicinais e terapêuticas, além de valorizar sua identificação sociocultural com a cidade. Na melipolnicultura, o objetivo é conhecer a importância ecológica e socioeconômica das abelhas nativas sem ferrão, apresentando aspectos relacionados a criação de abelhas sem ferrão para a produção de mel e derivados.
Na Fauna, há a divulgação dos programas ambientais de fauna relacionados ao Projeto Mara Rosa, além de conhecer os aspectos e curiosidades relacionados a ocorrência e distribuição da fauna no cerrado, sua importância ecológica e socioeconômica, bem como despertar a conscientização sobre os riscos da extinção.
Em antepenúltimo, tem o painel das Águas, dedicada a conhecer os aspectos físicos e bióticos do ciclo hidrológico, as bacias hidrográficas, as características de uso das águas superficiais e subterrâneas em Mara Rosa, bem como alertar para a importância da preservação e do consumo racional das águas. Em penúltimo, a história e memória itinerante se dedica a conhecer e resgatar as personalidades e os fatos históricos e relevantes relacionados a origem, ocupação e desenvolvimento do então Sertão de Amaro Leite, Mara Rosa e região.
Por fim, a Estação do Tempo explica o conceito e a origem da contagem do tempo cronológico, além de conceitos de tempo, clima e seus componentes (vento, temperatura, relevo, pluviosidade e pressão).
Resultados
Na opinião do consultor ambiental, o retorno do projeto tem sido muito positivo, já que o Trilha do Conhecimento expandiu de escolas para a comunidade. “Começamos a receber muitos pedidos da população e dos municípios vizinhos, depois apareceram universidades do curso de geologia. A trilha foi inaugurada em setembro de 2022 e já recebeu quase mil pessoas. Nós recebemos pequenos grupos para ser uma visita mais proveitosa”, citou.
Além disso, Marco Meireles argumentou que a história dessa região contada pela trilha existia apenas na memória das pessoas. Agora, o projeto permitiu um resgate cultural e patrimonial para se eternizar na comunidade.
“Isso também teve um resultado positivo, porque observamos uma movimentação na cidade. Primeiro teve o encontro dos filhos de Amaro Leite, no dia 24 de junho deste ano, e eles conheceram a trilha. Recebemos muitos elogios, votos de gratidão por ter resgatado a história dessas pessoas. Muitos tinham 50 anos que não retornavam à cidade e se mostraram muito emocionadas ao encontrar um projeto que fala da história deles. O retorno veio muito mais rápido do que a gente imaginava”, avaliou.
Para conhecer o projeto, é necessário agendamento pelo e-mail [email protected]. Durante a semana, o foco é para escolas e aos finais de semana para a população em geral.
Importância
Na visão de Marco Meireles, projetos como o Trilha do Conhecimento destacam a importância da educação ambiental para a construção de um futuro mais sustentável com as próximas gerações.
“A educação é o único caminho para a gente transformar um país. Ter uma sociedade mais justa, menos desigual, já que nosso país é tão rico, mas tem essas discrepâncias sociais. A educação é transformadora, qualquer informação tem que ser repassada, isso é cultura. Todo os projetos que tem como objetivo agregar o conhecimento ou repassar, principalmente ligado à educação, são fundamentais”, opinou.
Espero que daqui alguns anos essas crianças que hoje têm a oportunidade de conhecer a trilha, por exemplo, elas possam estar aqui no meu lugar, fazendo esse trabalho e replicando o conhecimento. Tão importante quanto isso são as empresas terem essa consciência”, finalizou.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 e 11 – Educação de Qualidade e Cidades e Comunidades Sustentáveis
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