A interseção entre os avanços na Inteligência Artificial (IA) e na ciência de dados oferece uma abordagem promissora para conter a disseminação de doenças infecciosas e aprimorar os sistemas de saúde em nações com recursos limitados.

Dezesseis projetos de pesquisa, destinados a abordar esse desafio crucial, foram cuidadosamente selecionados em resposta a uma chamada de propostas lançada pela Rede Global de Inteligência Artificial para Preparação e Resposta a Pandemias e Epidemias (AI4PEP), com financiamento garantido pela Universidade York e pelo Centro Internacional de Pesquisa para o Desenvolvimento do Ministério de Desenvolvimento Internacional do Canadá.

Dentre esses projetos inovadores, destaca-se o “AutoAI-Pandemics: Democratizando a Aprendizagem de Máquina para Análise, Estudo e Controle de Epidemias e Pandemias”. Este projeto é liderado pelo professor André Carlos Ponce de Leon Ferreira Carvalho, pesquisador principal do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI), em colaboração com seu aluno de doutorado, Robson Parmezan Bonidia.

Uso adequado

O CeMEAI, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiado pela FAPESP, tem sua sede no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), localizado em São Carlos.

“Embora a IA crie novas oportunidades, seu uso adequado requer conhecimentos avançados de computação, estatística e matemática, limitando seu uso por não especialistas, por exemplo, biólogos, médicos e epidemiologistas. Nosso objetivo é desenvolver uma plataforma integrada e fácil que possa ser efetivamente empregada por não especialistas que trabalham com doenças infecciosas”, descreveram Carvalho e Bonidia no estudo submetido.

“Essa plataforma, denominada AutoAI-Pandemics, fornecerá soluções robustas usando aprendizado de máquina automatizado (automated machine learning) para análise epidemiológica capaz de detectar possíveis cenários epidêmicos e recomendar intervenções para suprimir com segurança a propagação de doenças, com o mínimo impacto social; análise de bioinformática, ajudando pesquisadores das ciências da vida com a análise do genoma do patógeno e combatendo a desinformação para auxiliar na busca de fontes confiáveis de informação”, completaram.

Pandemia

De acordo com os pesquisadores, a plataforma desenvolvida tem a capacidade de atuar em diversas fases críticas durante uma epidemia ou pandemia. “O AutoAI-Pandemics pode ser usado por formuladores de políticas públicas e outras partes interessadas, profissionais de saúde, indústrias farmacêuticas, organizações de vigilância genômica e para combater a desinformação”, explica Robson Bonidia, que tem a bioinformática como uma das principais áreas de seu doutorado.

Seus esforços já foram reconhecidos com o prêmio Latin America Research Awards (LARA) em 2021, uma iniciativa promovida pelo Google. “A maior riqueza desse projeto está na democratização da IA, de podermos agregar estudos e pesquisadores de várias áreas do conhecimento em uma interface simples e que não necessite embasamento matemático específico para sua atualização, podendo beneficiar milhares de pessoas”, comenta o pesquisador, em entrevista à Agência Fapesp.

Além disso, o projeto figurou como finalista entre os 15 melhores entre 82 participantes no Falling Walls Lab Brasil 2022, um evento promovido pela Falling Walls Foundation em parceria com o Centro Alemão de Ciência e Inovação.

Em relação ao financiamento obtido, Bonidia destaca que ele será direcionado para a contratação de especialistas de universidades brasileiras e internacionais, que se unirão à equipe ao longo dos quatro anos de duração do projeto. Esta iniciativa promete revolucionar a forma como enfrentamos as ameaças das epidemias, especialmente em regiões com recursos limitados.

“Com esse trabalho, estamos melhorando os serviços de saúde e permitindo que mais pessoas tenham acesso a saúde gratuita e de qualidade. Os recursos, da ordem de R$ 1,3 milhão, serão utilizados pela equipe brasileira em bolsas, equipamentos, treinamentos e workshops”, destaca Carvalho.

*Com informações do CeMEAI, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão da FAPESP

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 10 – Redução das Desigualdades

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