Além de avaliar os cenários da disputa eleitoral no Estado, o pepista rebateu as críticas feitas pelos adversários ao seu governo e apontou as causas do afastamento entre o seu PP e o PSDB do senador Marconi Perillo     O governador Alcides Rodrigues Filho (PP) está otimista em relação a
2010. Segundo ele, este ano será muito positivo sob todos os aspectos.  
O pepista anunciou mais investimentos para obras em todo o Estado e
está animado com a expectativa de lançamento de uma candidatura da Nova
Frente – composta por PP, DEM, PR, PSB e PTN – ao governo estadual.   Em relação à indefinição na escolha de um nome para encabeçar esse grupo, o governador diz que é preciso aguardar o momento oportuno e lembra que nas últimas eleições os candidatos que saíram na dianteira acabaram derrotados.   O governador visitou a redação da Tribuna na quinta-feira, 31 de dezembro, acompanhado do secretário da Fazenda, Jorcelino Braga, e do presidente da Agência Goiana de Comunicação (Agecom), Marcus Vinícius de Faria Felipe. Além de avaliar os cenários da disputa eleitoral no Estado, o pepista rebateu as críticas feitas pelos adversários ao seu governo e apontou as causas do afastamento entre o seu PP e o PSDB do senador Marconi Perillo.  
Anapaula Hoekveld, Elizeth Araújo, Marcos Bandeira e Vassil Oliveira  
Tribuna do Planalto – O que o sr. espera de 2010?
Alcides Rodrigues – É um ano atípico, de eleição e Copa do Mundo. Acredito que este ano vai passar muito rápido, mas vai ser positivo sob todos os aspectos. Vai ser um ano de barulho, mas vamos continuar tocando o barco, com respeito à coisa pública, procurando modernizar de fato o Estado, como estamos fazendo. Hoje, olhando os jornais, a gente vê muita coisa positiva no dia. Aliás, vemos isso todos os dias, com investimentos em obras importantes, em infraestrutura, saneamento, como foi a ordem de serviço (assinada) há poucos dias na barragem do João Leite, que deverá ser inaugurada ainda. Temos 15 obras só em saneamento, muitos conjuntos habitacionais para inaugurar e asfalto em mais de 40 frentes de serviços de obras rodoviárias importantes, que estão sendo executadas, obras de implantação e pavimentação e também de restauração. Há regiões onde que nós já concluímos (as obras) e outras – em que tivemos problemas em licitações, problemas de ordem legal, jurídica – para iniciar neste ano.  
Haverá mais investimento em Segurança Pública?
Nos últimos dias, a Segurança Pública teve um investimento muito importante, não só pelo anúncio do plano de cargos e salários, de carreira, dos policiais civis, que também vai atingir os militares. Nós vamos abrir concurso para soldados e também para oficiais e, com isso, aumentar a possibilidade de ascensão ao posto imediatamente superior, por parte dos que já estão na ativa. E teremos o plano de carreira para delegados, agentes, escrivães, para a Polícia Técnica Científica e também para o Sistema Prisional. E com a entrega daquelas 60 viaturas de bombeiro na porta do Palácio há poucos dias, são mais de duas mil viaturas, todas com recursos do tesouro estadual. As últimas 600 que foram entregues nós não consideramos porque foi iniciativa do governo federal. Então, entregamos com recursos do tesouro estadual quase quatro vezes mais do que o governo federal. Desse modo, atingimos os 246 municípios com viaturas novas, que já estão sendo distribuídas. São notícias boas. Ficamos felizes em proporcionar isso ao Estado. Neste último dia do ano, tivemos o término do pagamento pela Sefaz de empréstimo de R$ 40 milhões. Tivemos o Orçamento votado no ano corrido, pela primeira vez na história, e, também, pela primeira vez na história do Estado, a dívida pública diminuiu 5,6%. De R$ 13,2 bilhões chegou a R$ 12,5 bilhões, quer dizer, 5,6%, o que não deixa de ser um dado muito positivo. Então, a gente fica muito feliz com isso.  
As dívidas do Estado estão sob controle?
Do ponto de vista financeiro e fiscal tudo está sob controle. Não há problemas nas contas do Estado. Tivemos um crescimento muito grande na verba extra limite, que era zero. Quando assumimos o Estado, não tínhamos condições de pegar meio centavo. Hoje temos R$ 1,780 bilhão. São recursos consideráveis em muito pouco tempo. São pontos positivos e por isso é que estamos tão felizes e acreditamos que este ano de 2010 vai ser muito melhor. Nós recuperamos o Estado. Muitos dos problemas que tínhamos no passado recente já não temos mais. Avançamos. Mas claro que ainda temos problemas, e o principal deles é a Celg. E como é um montante muito grande, são R$ 6 bilhões de dívidas, numa empresa cujo valor foi fixado em R$ 200 milhões, ou seja, uma dívida 30 vezes maior do que ela vale, a negociação é difícil, não é nada fácil. Essas dificuldades não ocorrem por falta de boa vontade do governo federal, através dos seus técnicos e empresas, ou por parte do governo do Estado. De qualquer forma, existe a conversação e acreditamos num desfecho logo para o início deste ano, dentro dessas próximas semanas, quem sabe, ou nos próximos meses. Estas são notícias boas para a população de nosso Estado.  
Por que o governo federal, que mostra uma relação tão boa com o governo do Estado, tem obras paradas aqui e demora na negociação com a Celg e na construção do aeroporto de Goiânia? Não falta boa vontade do governo federal?
Não. O governo federal tem demonstrado uma boa vontade enorme. No caso da Celg, é por causa dos números, que têm reflexo até no superávit primário do governo federal. São R$ 6 bilhões. E isso é muito dinheiro em qualquer lugar do planeta. Qual a justificativa (por parte da União) para investir R$ 6 bilhões em uma empresa que vale R$ 200 milhões? Então, tem de ter a vontade técnica e também a vontade política, e por isso é que é demorado. E como é uma empresa estatal, tem de ter justificativa. No caso do aeroporto, não é por causa do governo federal que isso (a paralisação) ocorreu. É por causa do Tribunal de Contas da União, que deu um parecer contrário à continuidade da obra. E qual o ordenador de despesa, qual o gestor que vai contrariar um parecer do Tribunal, já que depois vai responder criminalmente por ele? Ninguém faz isso, principalmente quem trabalha na área técnica e se mantém no emprego durante vários governos. Neste caso, segundo o Tribunal de Contas da União, poderia haver um sobrepreço, ou seja, um superfaturamento da obra, o que eu, particularmente, longe de questionar o TCU, desconheço. O governo ficou amarrado. O que tem de ser feito é uma nova licitação. Agora, para se fazer nova licitação, tem de ter uma negociação, porque qualquer empresa que faz parte desse consórcio e que se sentir lesada, vai entrar na Justiça, e isso vai perdurar por anos. Não é por falta de recursos, não é por falta de vontade e, sim, por questões de ordem jurídica.  
A obra do anel viário de Goiânia também continua parada. Por quê?
A obra do anel viário de Goiânia está há mais de dez anos paralisada pelo mesmo motivo. O Tribunal interveio e este é mais um problema jurídico. Também não é por falta de vontade política. Nós já estivemos pessoalmente com a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, que tem a responsabilidade nestas principais obras, e até perante outros ministérios. Fomos à Infraero, já falamos com o presidente, já fomos ao Tribunal de Contas da União, que inclusive à época era presidido por um goiano, que demonstrou boa vontade, mas o corpo técnico de lá foi contra. E, além da burocracia normal existente no poder público, em todas as áreas, há esse viés de ordem jurídica. É muito fácil falar que o governo federal não tem boa vontade. Ao contrário, ele tem uma enorme boa vontade e, mais que isso, tem dinheiro para gastar e não está conseguindo gastar. Da mesma forma, nós encontramos aqui no Estado alguns entraves de excesso de burocracia. Os trâmites são demorados, são morosos mesmo.  
Esse é o caso do Paci, por exemplo?
Não, o Paci tem as dificuldades normais. Primeiro tem a questão da documentação, que sempre fica a cargo das prefeituras e, muitas vezes, isso acaba emperrando o processo. Porém, os recursos já estão assegurados. Nós já iniciamos, inclusive, inaugurações de obras do Paci em alguns municípios que já estão prontos. O último deles foi Aruanã, onde completamos a pavimentação de todas as ruas e avenidas. Não tem um palmo da cidade sem asfalto. Aliás, merecidamente porque é uma cidade importante para o turismo goiano. É o portal de entrada para o nosso principal santuário ecológico, que é o Rio Araguaia. E por sinal está uma cidade bonita, toda pavimentada. Tem recursos lá dos governos federal, estadual e do município.  
Outra obra que se arrasta por muito tempo é a do Centro de Excelência do Esporte. Como ela está?
Há recursos do governo federal com a contrapartida do governo do Estado e ela está indo num ritmo muito lento, porque também tem pendências de ordem legal com o Tribunal de Contas do Estado. Esse é um dos problemas. Lamentavelmente, isso existe, mas temos de lutar, e com ação conjunta, com a participação de todos, temos de eliminar essas dificuldades porque quem fica penalisado é o Estado, é o cidadão, a população. Agora, ninguém é contra a fiscalização, e tem de haver fiscalização mesmo para verificar a boa aplicação do dinheiro público. Isso é essencial.  
O sistema público já tem uma burocracia que é dele, mas o próprio presidente Lula reclama que existe um viés político nesta obstrução de obras por parte do TCU. E aqui em Goiás, nós também temos esse problema, existe esse viés político?
Lamentavelmente, eu tenho de dizer que sim. E o presidente Lula, por certo, também tem suas razões, porque estamos sentindo na pele. Agora, Tribunal de Contas é um órgão técnico que deveria ter uma visão técnica. E aqui eu não quero estender essa minha assertiva com relação a todos os componentes desses órgãos públicos, que têm todo o nosso respeito e que devem ter o respeito de todos os goianos. No entanto, aqui e ali a gente encontra uma ação política para cercear a vontade e a intenção de se fazer obras importantes para Goiás, procurando protelar.  
A Educação é uma das áreas atingidas por esse excesso de burocracia?
Todas as áreas são atingidas. Nós já tivemos recursos em conta, por quase dois anos, para a Educação, para fazer obra, e por causa da burocracia a obra não saía. E nós somos cobrados. E, como disse, há outras áreas. Não é só a Educação. Ela é um exemplo claro. Mas temos conversado muito e as coisas têm avançado. A grande maioria das pessoas tem procurado ajudar, mas, na verdade, para um processo correr tem de ter, no mínimo, 80 assinaturas diferentes. Isso é próprio do Estado. É um negócio moroso. Futuramente esses entraves tendem a desaparecer, porque não há necessidade de tanta burocracia.  
O decreto que o sr. assinou para desburocratizar internamente vai ajudar neste processo?
Vai melhorar bastante, sem dúvida. É um avanço enorme que foi alcançado, mas, mesmo assim, teremos de avançar muito para acabar com o excesso de burocracia, que é um dos impeditivos para a realização de obras importantes.  
Uma crítica comum ao seu governo é a de que ele não tem uma marca. Qual é a marca do seu governo?
A marca do nosso governo é, primeiro, modernizar de fato o Estado, para fazer com que ele seja moderno em suas ações, em suas práticas no dia a dia, economizando, elegendo prioridades, honrando o prometido, dando credibilidade ao poder público. É inadmissível que o Estado não cumpra com os seus compromissos em todas as áreas. Quando o governo autoriza coisas, ele deve ter recursos já locados para não criar falsas expectativas, não só entre os poderes, mas entre instituições e até com as prefeituras. É inadmissível prometer e não cumprir, dar um sinal de positivo do Executivo para uma determinada obra no interior, por exemplo, e ela não acontecer. Essas situações criam uma falsa expectativa. E também fica ruim para o nome de quem faz esse tipo de ação. Por isso, uma das marcas registradas do nosso governo é a responsabilidade, e eu acho que já é uma grande conquista, porque, para você fazer obras sem deixar para outro pagar, você tem de ter recursos em conta. Você não pode fazer obras e deixar para outro pagar. Aliás, a Lei de Responsabilidade fiscal veio para isso. E, infelizmente, ela veio tarde. Acho que deveria ter vindo antes, assim não teríamos casos escabrosos por esse Brasil afora. Mas uma das nossas marcas é esta. Além disso, é trabalhar em silêncio. Nós achamos que o que precisa aparecer são as obras. O governador não precisa ficar aparecendo a cada momento. Temos mais de 30 obras sendo executadas agora só de infraestrutura no setor rodoviário, com investimentos consideráveis, e, no entanto, não estamos fazendo estardalhaço. O governador não precisa aparecer, mas a obra está lá. Você vai na região sudeste, por exemplo, não tem uma rodovia em estado precário. Todas foram restauradas, foram construídas várias outras e outras (obras) estão sendo executadas naquela região. São mais de 30 obras, algumas delas já prontas para serem inauguradas nas diversas regiões do Estado, e outras que serão iniciadas em 2010.
Nessas obras de infraestrutura, o Estado pretende investir em saneamento básico?
Já estamos fazendo obras de saneamento. Temos, inclusive, 15 obras de grande porte prontas para serem inauguradas aqui no Estado, e vamos começar a inaugurar pelo menos uma por semana. Temos a barragem do João Leite, que é uma obra de R$ 200 milhões. Assinamos agora a ordem de serviço com recursos já locados de R$ 180 milhões, que vai possibilitar a construção de elevatórios de água bruta, de água tratada e distribuição dessa água para Goiânia e região metropolitana. E queremos fazer não só a universalização da distribuição de água aqui na capital, sendo que vai ser a primeira capital do Brasil a contar com isso, como também todo o esgoto coletado sendo tratado. São obras importantes. Além disso, os números falam mais claramente. Só para se ter uma ideia, em plena crise mundial nós tivemos em 2008 investimentos de mais de R$ 700 milhões, com recursos do tesouro. Isso é o dobro da média dos últimos 10 anos. É um número considerável e com o pagamento em dia. Não tem conta que está para trás para ser paga. Tudo está em dia. Os carros que nós entregamos, todos estão pagos com recursos do tesouro. Pagamos salários em dia, pagamos prestadores de serviços, empreiteiras. Tudo em dia. Chegamos em 2009 a R$ 1 bilhão de investimentos. Vamos fechar o governo redondinho,de forma econômica e fiscal. Não há subterfúgios, não tem mentiras. E nós tivemos duas crises: a do déficit mensal de R$ 100 milhões, que chegaria a R$ 1 bilhão por ano se não tivéssemos estancado esta sangria, e investimemtos de R$ 500 milhões na Celg – e olha que nunca tiramos meio centavo de lá para pagar qualquer coisa do poder Executivo, o que já aconteceu antes. Há outros exemplos. Por isso, a marca deste governo é a credibilidade, é pagar em dia. Quando a gente fala, as pessoas acreditam. E eu acho que é uma grande marca. Além disso, o Estado tem feito várias obras nas mais diversas áreas. Na Educação, por exemplo, temos centenas de obras para serem inauguradas, escolas estão sendo restauradas e ampliadas, outras, construídas.  
E os problemas enfrentados pela UEG, em 2009, foram superados?
O próprio reitor da UEG disse em uma solenidade que encontrou 600 protestos contra a Universidade Estadual de Goiás; R$ 21 milhões de dívidas. Pagamos tudo, não devemos um centavo. Não existe nenhum protesto e ainda tem dinheiro em caixa. E desde que entramos, renegociamos a dívida do Bolsa Universitária e pagamos tudo religiosamente em dia. Mais: ampliamos o Bolsa Universitária e criamos a bolsa para mestrado e doutorado, coisa que não existia desde a época do governador Ary Valadão, que dava essa bolsa aos docentes de nível superior. São muitas conquistas, em todas as áreas. E são dados reais. Agora, a população sabe distinguir. E ela está reconhecendo. Temos pesquisas que demonstram isso.  
E em relação à Saúde?
Na área da Saúde, não escutamos reclamações em relação ao principal hospital do Estado, o Hugo, e nem em relação à falta de remédios de alto custo no Centro Juarez Barbosa.  
No Estado, há obras importantes que foram inauguradas antes de serem concluídas, como as do Centro Cultural Oscar Niemeyer e da barragem do João Leite, que foi inaugurada várias vezes. Por que essas obras foram inauguradas antes da conclusão? O sr. pretende mostrar que é o governo Alcides que as está concluindo?
Não. Eu não quero tomar aquela obra para mim, para o meu governo totalmente, mas que eu investi mais da metade na obra e a concluímos e vamos inaugurar, isso aconteceu. Os números estão presentes, estão prontos aí para quem quiser ver. O Oscar Niemeyer foi inaugurado sem a sua conclusão, com restos a pagar, com restos a serem concluídos, como atestou o próprio Tribunal de Contas do Estado (veja reportagem no primeiro caderno). Então, isso é um fato concreto, e nós só não terminamos porque tivemos imperativos de ordem legal. Nós sabemos que é uma obra importante para o setor cultural. A administração pública tem de ser continuada. Eu vejo dessa maneira.  
Com a possibilidade de investimento e obras a serem inauguradas, o sr. fica no governo até o fim?
Eu tenho até o dia 31 de março para decidir se fico no governo ou se vou discutir a possibilidade de disputar algum cargo. Essa decisão não está tomada, mas, de qualquer forma, se eu sair, o vice-governador, Ademir Menezes, se também não for candidato, assume o governo e dará continuidade às obras, porque os recursos estão previstos. Na área da habitação, por exemplo, nós já temos 9 mil unidades prontas e entregues, 8,3 mil sendo executadas, algumas prontas para serem inauguradas, principalmente no Entorno do Distrito Federal, e mais 12 mil a serem iniciadas. E assim é para ser em todas as áreas. As nossas relações com os outros poderes, com as instituições, são as melhores possíveis. É claro que o governo do Estado tem de zelar pelo seu caixa, porque tem compromissos para pagamento de salários e tudo mais. Temos sido compreensivos com o setor produtivo e eles têm reconhecido isso.  
Em termos de resultados práticos, o seu modo discreto de agir não é contraditório, levando-se em conta que 2010 é um ano eleitoral?
À primeira vista pode parecer, mas as ações do governo já estão chegando lá na ponta. Se você pegar qualquer pesquisa de opinião pública, em que são ouvidas as pessoas com discernimento, você vai ver a alta positividade de avaliação do governo. E isso está chegando lá na ponta também. A tendência é acabar com esse populismo existente. Até porque a população tem hoje maior acesso às informações. As pessoas estão muito bem informadas. Os meios de comunicação e de acesso, principalmente aqueles que compõem a base da pirâmide social, estão mais presentes. Eles vão checar. E cada um (político) tem seu estilo. Tem um que é do tipo da galinha garnisé, que bota um ovinho e sai fazendo um barulhaço; e tem a pata, que põe um ovo enorme e não dá um pio. Agora, a população sabe distinguir.  
O sr. parece muito animado com a candidatura da Nova Frente. Como estão as articulações para o lançamento de um nome?
O bom é que não sou só eu que estou animado com essa candidatura. Os componentes dessa Nova Frente, presidentes de partidos e as lideranças fortes do Estado, estão nesta expectativa com bastante otimismo. Temos pessoas que já colocaram seus nomes para possíveis candidaturas e que estão entusiasmadíssimas. Então, isso é muito bom e há bons nomes sendo ventilados para iniciar uma campanha eleitoral defendendo um projeto, defendendo determinadas questões de Estado.  
Entre esses nomes, os mais comentados são os dos deputados Sandro Mabel (PR) e Ronaldo Caiado (DEM), e dos secretários Ernesto Roller (Segurança) e Jorcelino Braga (Fazenda). Braga (ao lado), por exemplo, tem dito que só será candidato se o sr. quiser. O sr. quer que ele seja candidato?
A discussão tem de envolver outras pessoas, outras lideranças. Eu não sou ditador, não sou imperador, longe disso, e também tenho um partido que fala por mim. Sou apenas o governador e quem vai decidir isso são as lideranças, os partidos, que na hora oportuna vão procurar um nome que aglutine os demais e com o qual possamos partir para a luta. E, além desses, nós temos outros possíveis nomes. Está muito longe da eleição, e todo mundo sabe que ninguém ganha eleição de véspera. Tudo tem o tempo e a hora certos.  
Essa frente terá candidato mesmo?
Esse é o pensamento de alguns partidos, entre eles o DEM, o PR, o PP, o PSB e o PTN.  
Qual o pensamento do sr.?
Eu estarei com a maioria. Que seja um nome que dê um tratamento responsável na condução da coisa pública e que tenha esse compromisso com o Estado e, por conseguinte, com a população.  
Os nomes aqui citados têm esse perfil?
Todos são excelentes nomes. Na hora da discussão, deve sair a definição.  
Como deve ser a definição do candidato?
O que mais aglutinar e tiver maior possibilidade de vitória, que tenha o respeito e o apoio dos demais. Esse deve ser o critério.  
Normalmente os pré-candidatos afirmam que quem tem de conduzir esse processo é o governador.  
Eu agradeço muito se me for dada essa responsabilidade, até porque comungo com o pensamento dessas lideranças que, como disse, são lideranças de respeito em nosso Estado.  
Quer dizer que se o sr. for chamado para liderar esse processo de definição , vai assumir esse papel?
Claro. Agora, eu não posso fazer uma discussão política fora do tempo porque tenho de administrar o Estado. E se eu ficar só envolvido com política, isso pode comprometer a parte administrativa. Mas, na hora oportuna, não vou fugir da luta.   Deixar essa definição para depois não é um risco? Não vai ficar tarde?
Não, ao contrário. Política é definida na hora oportuna. Não adianta atravessar o carro na frente dos bois. Tem muita gente que fica quatro, cinco anos em campanha. Têm outros que acham que deve ser depois. Eu, particularmente, acho que tem de ser na hora certa, nem antes, nem depois. A definição da candidatura do sr. ao governo foi feita mais ou menos em dezembro.
Não. Foi feita em janeiro uma pré-definição, e que não criou nenhuma aresta. Então, não teve sequela.  
As bases pressionam por uma definição do partido?
Todos querem resultado. O prefeito quer, e a maioria dos prefeitos está passando por dificuldades. Eles querem resultados administrativos. Eles não querem resultados políticos agora. Querem administração, parceria para executar obras, porque não têm recursos próprios. Precisam ter parceria com os governos federal e estadual. Aquele que não atentar para isso e não tentar concretizar isso, será penalizado em relação à opinião pública por não realizar nada.  
O discurso do PSDB, por exemplo, é de que as bases estão com o senador Marconi Perillo e só a cúpula seguiria as definições dos partidos. Qual é a opinião do sr.?Tem uma pesquisa feita por um instituto aqui em Goiás, em que menos de 10% dos eleitores definiram os seus candidatos. Só isso aí já desmente essa assertiva. Se essa pesquisa aponta que apenas 9% têm candidatos, e os outros 91%? É um caso muito empírico. Agora, com relação às bases, eu pergunto: o DEM fazia parte dessa base, o PR fazia parte. O PP, da mesma forma. O PSB e o PTN, da mesma maneira. Quem vai ter mais tempo de televisão? Quem tem chapa forte para deputado estadual? Eu sei quem tem mais candidatos fortes e competitivos, tanto na área federal quanto na estadual. Caso estejamos juntos realmente, teremos aí não só o maior tempo de televisão, como o maior número de candidaturas. Essa Frente exclui o PSDB. Porque o PSDB já escolheu um candidato. Já tem um candidato publicamente posto, que está em campanha. E se os outros estão discutindo um novo projeto, é porque não concordam com essa candidatura.  
Os outros partidos não concordam porque a candidatura do senador não foi discutida antes, dentro da base?
Claro. Apresentaram o candidato do PSDB e querem que todos os outros partidos engulam essa candidatura. Isso não existe em política.  
Se os tucanos tivessem procurado o PP e os outros partidos da base para conversar, isso seria diferente?
A discussão tem de ser ampla. Então, se já tem um partido com candidato oficializado, não tem mais motivos para procurar e discutir. Se os outros estão procurando alternativas, é porque não concordam com essa candidatura. Isso tem de ser dito. E aqui não vai nenhuma questão de ordem pessoal. Ao contrário, defendemos um projeto e vamos nessa direção.  
O sr. é aliado do presidente Lula e o DEM não quer subir no palanque lulista. Como será resolvida esta situação na Frente?
Nós tivemos muitos exemplos nos estados brasileiros em que partidos irreconciliáveis caminharam juntos. Temos muitos municípios do nosso Estado em que o PT teve como vice o DEM ou vice-versa. A discussão nacional é diferente porque cada Estado tem sua realidade.  
Há pepistas e peemedebistas que consideram a hipótese de composição entre PP e PMDB para 2010. O sr. acredita nessa possibilidade?
O PMDB vai ter uma candidatura, e eles têm dito isso. Há dois nomes dentro do PMDB. Então, eu acho que nós teremos aqui no Estado, no mínimo, três candidaturas.  
Se o candidato for o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, seria mais fácil tentar uma conversa com o PMDB?
Aí teríamos de consultar os partidos para ver se aceitariam esse nome do PMDB como candidato.  
O sr. disse que está cedo para definir esse nome para a Nova Frente, mas há uma expectativa de data para a definição?
Claro que há. Nem antes e nem depois (do período eleitoral), porque a eleição é definida nos últimos meses. Nas últimas quatro eleições, aquele que saiu primeiro perdeu.  
Quem faz mais pressão na direção de uma definição, a imprensa (que quer saber para informar) ou os seus aliados?
A imprensa está no seu papel de saber, de procurar averiguar e noticiar os fatos. Então, é natural que ela faça as perguntas e tenha expectativa de respostas também. Agora, ninguém tem me feito pressão. Ao contrário, todos estão tranquilos. Os prefeitos e lideranças do interior estão querendo resultados, obras. Estão querendo justificar a sua eleição perante a opinião pública, e da mesma forma o Estado. Imagina se eu tivesse ficado 24 horas fazendo fuxico, como estaria este Estado? Estaria em déficit alto, tudo teria piorado e eu estaria sendo apedrejado por aí afora. Então, nós fizemos o correto, em minha opinião. E eu mostrei que o importante é trabalhar administrativamente e apresentar resultados. E foi isso que ocorreu aqui no Estado. Todos sabem das dificuldades que tivemos e ainda temos, mas a grande maioria já foi solucionada.  
O PSDB tem feito oposição ao governo do sr. e de uma certa forma está ensaiando uma oposição maior ainda na Assembleia. O sr. vai manter os tucanos no governo?
Nesses últimos dias, na Assembleia, tivemos votação do orçamento com um resultado expressivo. Isso demonstrou de forma clara que eu tenho o apoio da Casa, aliás, de forma suprapartidária, e não só nesta questão do Orçamento, mas em todas as outras. Nunca tivemos uma matéria rejeitada na Assembleia, até porque mandamos sempre para aquela Casa matérias de interesse público. E os parlamentares têm, com muito critério, avaliado e aprovado nossas matérias, independentemente de cor partidária. Aliás, eu tenho uma relação muito boa com a Assembleia e há muito não faço uma visita aos nossos deputados. Tenho procurado manter uma distância respeitosa daquela Casa, porque é um poder independente. Nunca procurei interferir nos trabalhos, ao contrário, tenho prestigiado o Legislativo na medida do possível. Da mesma forma é meu relacionamento com o Poder Judiciário e com o Ministério Público, porque tenho direitos e deveres e eles também, e nunca ultrapassamos este limite.  
O que o sr. espera da CPI da Celg?
Eu espero que a verdade venha à tona, como todo o povo de Goiás espera.  
Que verdade é essa, já que o sr. tem acesso aos documentos?
Existe uma CPI que está sendo feita e que por certo nos dará um resultado. Esperamos que seja um resultado, se não com a totalidade da verdade, pelo menos próximo a toda a verdade do que ocorreu com essa importante empresa. Mas eu acho isso até irrelevante neste momento. A verdade tem de ser mostrada, mas o que é mais importante é resolver esta questão (do endividamento), que é o que todos esperam. E nós esperamos também, até porque há uma necessidade para que isso ocorra.  
O sr. acredita que está caminhando para a resolução final?
Eu tenho dito sempre e volto a repetir: a Celg foi avaliada em R$ 200 milhões e deve R$ 6 bilhões. Imagina você comprar uma empresa que vale R$ 200 milhões e tirar do seu bolso R$ 6 bilhões e colocar lá dentro. Então, é uma discussão difícil, demorada.  
Em março já será possível ter uma visão do quadro político definido?
Eu não tenho dúvida disso, até porque este será um ano que vai correr muito rápido, primeiro por causa da Copa do Mundo, e, em segundo lugar, por causa das eleições. Acredito que a discussão da Copa do Mundo será muito mais acentuada do que a discussão política. Depois que terminar a Copa é que acontecerá a discussão política. Em anos anteriores, isso já aconteceu.  
O governador costuma pedir a quem quer ser candidato para deixar o governo no início do ano. O sr. vai fazer essa cobrança em janeiro?
Ainda não defini essa data. Posso definir do dia pra noite, ou posso deixar esse prazo lá pra frente. Isso vai depender do andamento das coisas. O governador tem essa prerrogativa de solicitar que quem for candidato deixe os cargos ou fique até a data limite, que é 31 de março.  
O que o sr. está observando para definir o seu futuro político?
O cenário político muda como as nuvens. Há pouco tempo ninguém pensava sequer que existiria uma quebradeira mundial, capitaneada pelo país mais rico do mundo, que são os Estados Unidos. De repente a crise foi instalada e criou-se uma situação não só de risco, mas de muita expectativa no cenário econômico mundial, que chegou até nós. Então, pode haver problemas políticos, problemas administrativos, enfim, uma série de coisas. A prudência nos diz que devemos fazer as coisas de acordo com o que o momento permite, ou seja, não quero fazer nenhuma projeção no meu caso pessoal antes da hora, porque acho que é prematuro.  
Essas dúvidas, não só do sr., mas do prefeito de Goiânia, Iris Rezende, e dos outros pré-candidatos, acabam criando uma indefinição geral no Estado. Isso é bom para a política?
Hoje, qualquer ato que você faça aqui, no outro dia qualquer distrito do nosso Estado já tem ciência do que foi feito, em tempo real. Então, essa definição antes da hora é bobagem, e eu acredito, inclusive, que quem fica muito exposto perante a opinião pública pode até queimar o filme, já que uma exposição de imagem pode ser cansativa para o eleitor.  
Que Estado o sr. vai deixar para o seu sucessor?
Um Estado mais moderno, uma administração feita com muita responsabilidade, um Estado com credibilidade, com as contas em dia, com os compromissos em dia e muitas obras entregues à população. Esse é o Estado que queremos entregar quando deixarmos o governo.  
Que Estado é esse comparado ao que o sr. recebeu?
Vou deixar o Estado em condições bem diferentes de como peguei. Não vou deixar dívidas, déficit de R$ 100 milhões mensais, por exemplo. Seguramente será bem diferente. Se houver um rompimento definitivo entre PP e PSDB, que imagem o sr. espera deixar para a população, porque os tucanos que fazem oposição ao seu governo querem colar no sr. a imagem de traidor em relação ao senador Marconi Perillo.
Quem trai é quem rouba, quem age diferente da expectativa e da confiança do povo. Então, essa imagem para mim não vai colar, embora seja um discurso corrente. Este mote em cima da minha pessoa não colará jamais, pode ter certeza disso.  
Neste período, desde que assumiu o governo, o que mais doeu no sr., em termos das críticas feitas?
Eu tenho dois ouvidos. Entra em um e sai no outro. E tenho também enfrentado todos os desafios. É claro que a gente tem contratempos a toda hora, mas tenho procurado superar isso, do contrário não estaria com esses resultados que todos estão sabendo. Reconhecido pela área técnica do governo federal, reconhecido por aqueles que têm contato direto com o governo. Então, tenho procurado passar por cima disso. Todos os dias, enfrento problemas, novos desafios, e estou sempre atento a isso e não procuro ficar ouvindo fofocas, fuxico de quem não tem o que fazer.  
O sr. parece não se abalar muito facilmente, porque enfrenta todas essas críticas em silêncio. Qual o custo disso para a saúde, para o dia a dia, do sr., que é médico?
Eu já me blindei com relação a isso. Se não fosse assim, já teria tido um enfarto. Porém, nada como um dia após o outro. Eu sempre digo: a verdade sempre prevalecerá. A mentira tem perna curta. E a verdade é sempre soberana.