(Foto: Arquivo Pessoal/ Thiago Arantes)

Rostov, 14 de junho de 2018

Desde que vim à Rússia pela primeira vez, em novembro de 2016, uma coisa já estava clara: o idioma seria um problema. E, quanto a isso, não haveria remédio. Gosto de aprender línguas, mas o diagnóstico era definitivo.

Nao daria pra aprender russo em um ano e meio; e eles não aprenderia inglês no mesmo período. No meu caso, por falta de tempo e por outras prioridades; no deles, possivelmente por tudo e pela dificuldade que costuma significar aprender um segundo idioma depois dos 20 anos. Nao consegui terminar o curso de Linguística que comecei em 2009 (adivinhem, falta de tempo e outras prioridades…), mas digo por experiência própria aprender o terceiro, o quarto, o quinto idioma, é algo mais fácil. Comecei a falar inglês aos 11; espanhol aos 31; catalão aos 33. Os russos, ou a maioria deles, só falaram russo o vida inteira. Outro alfabeto, outras regras, outro planeta.

Faço esse preâmbulo para dizer que, apesar de toda a dificuldade, é justamente nela que os anfitriões da Copa me surpreendem até aqui. Se a ideia da Copa do Mundo russa é mostrar um país diferente dos estereótipos ao mundo, nesse aspecto ela começou bem.

O script costuma ser o mesmo: Russo tenta falar russo; vê que você não fala; faz uma cara de “e agora, o que eu faço?”; tenta entender inglês; faz uma cara de “ah, já sei”; pega o telefone e abre algum aplicativo de tradução; e aí, voilá!, finalmente existe um diálogo.

É assim nos táxis, foi assim no hotel de Rostov (esqueçam o papo de “nos hotéis as pessoas falam inglês… Neste, não falam nem “how are you?”), e foi assim até mesmo com os voluntários da Fifa, que em teoria sempre falam mais de dois idiomas.

A diferença fundamental é que, ao contrário de tudo o que já se havia dito dos russos para mim, a vontade deles de ajudar é imensa. Mímicas, Google Translator, “peraí que eu vou chamar quem fala inglês”, “desenha aqui o que vc quer”… A Copa da Rússia, em seus breves cinco dias de cobertura, já me mostrou um país que quer ajudar.

Foi assim, graças à ajuda de um grupo de voluntários liderado por Anatoli – um russo que passou um mês no Brasil, também como voluntário, no Rio-2016 – que consegui participar da transmissão da Sagres 730 na partida de abertura da Copa do Mundo.

Por questões de segurança, não se pode simplesmente conectar os equipamentos de transmissão e sair falando por aí. É preciso fazer uma autenticação que, depois de uma hora e vários “espera aí que vou chamar meu superior”, conseguimos fazer. Seria bem fácil para eles simplesmente dizer “não dá”, ou “nao entendo o que você quer”. Seria, na minha concepção até ontem, bastante russo.

Mas os russos não são tão russos assim. O alfabeto cirílico e os diálogos ainda são incompreensíveis. Mas uma coisa já deu pra entender: eles querem fazer e tudo para driblar esse problema de comunicação.