A jornalista Ananda Leonel, atualmente apresentadora do Aperte o Play e repórter do Sistema Sagres de Comunicação, foi uma das palestrantes da edição goiana da Campus Party, festival de tecnologia, ciência e empreendedorismo.

Em entrevista ao Sagres Online, Ananda conta que sua trajetória profissional tem sido construída em meio a evoluções e descobertas. Entre elas, a união entre games, cultura Geek e a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), viés adotado pelo Sistema Sagres de Comunicação.

O Start

“Eu cresci com jogos, a minha família ama jogar. Assim, cresci em um lar onde os games e o universo da cultura Geek e pop, sempre estiveram enraizados dentro de mim”, define Ananda. Para ela, é difícil imaginar um universo (ou quaisquer metaversos) em que os elementos da tecnologia e dos games não estejam presentes.

Nesse sentido, a escolha de nicho para atuar no campo do jornalismo foi certeira. Após se formar em Goiás, a jornalista já sabia que não havia nenhum programa específico sobre games, E-sports ou cultura Geek no estado. Seria então a pioneira. Um risco no qual decidiu apostar.

“Eu comecei a atuar de forma profissional ainda no meu estágio no Sistema Sagres de Comunicação. No início de 2021, a empresa me propôs criar um projeto”, relembra.

Ananda no estúdio do “Aperte o Play”, programa especializado em games, cultura Geek e novidades do E-sports (Foto: Reprodução Instagram/@anandaleonel)

Era o início do Aperte o Play, programa segmentado na área de games, E-sports e cultura Geek. Mas, com um “plus” a mais, como diz Ananda. Ela conta que tanto no programa, como em sua coluna para o Sagres Online e reportagens para outros formatos do veículo, é preciso existir um viés social, influenciado pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Isso me fez ter um outro olhar para o universo dos games”, explica. Assim, o que antes abraçava o universo de curiosidades, notícias e atualizações de um cenário em constante movimento, agora também integrava outros assuntos. Como por exemplo, a conexão com temáticas de inclusão, novas profissões, saúde mental e crescimento econômico.

Oportunidades

“Eu decidi apostar nesse mercado e encarar os desafios”, afirma a jornalista. Aliás, ela complementa: jornalista, produtora de conteúdo e streamer. “Por conta das informações, tecnologia e da internet, os esportes eletrônicos e o mundo dos games não são mais só ‘joguinhos’. Eles transformam vidas. Desde as profissões, e até mesmo em mercados competitivos, como o do E-sport eletrônico”, ressalta.

A intersecção entre novas tecnologias e Jornalismo abre oportunidades para segmento dos games (Foto: Rubens Salomão/Sagres Online)

Para ela, estar em constante atualização é indispensável. Dessa forma, quando recebe mensagens curiosas sobre como ingressar no mundo do jornalismo de games, a resposta é bem definida: estudos, curiosidade e uma boa “dose” de coragem.

“Eu também gosto de falar sobre os meus erros, para que as pessoas não precisem repeti-los. Com os meus erros eu aprendi, e desejo que as pessoas não precisem passar por alguns desafios que passei e que possam alavancar as suas carreiras”, completa.

Um bom conteúdo nasce a partir de uma ideia, mas a jornalista destaca que o processo não para por aí. Assim, ela se define como uma profissional “multiplataforma”, e destaca que estar sempre atenta às atualizações das redes sociais e em novas formas de relacionamento com o público aparecem como diferenciais.

Adaptações

“Quando uma mulher luta pelo seu espaço, se observa que apenas homens se incomodam e nos chamam de ‘rude’. E falo por experiência. O segredo é simples: continue a nadar! Encare os desafios, se desafie e, claro, busque evoluir como um Pokémon”, brinca.

Além disso, ela complementa que outros fatores também são primordiais em sua carreira profissional. Nesse sentido, contar com uma boa rede de apoio e ter uma lista de inspirações no seu mercado, pode fazer toda a diferença. “O grande diferencial da minha carreira foi ter topado desafios e se eu errar, eu vou aprender com esses erros, buscar evoluir e estudar”, define.

No cenário em que novos formatos surgem constantemente, a linguagem para construir conteúdos também entra em movimento acompanhar esse dinamismo. “A internet é um campo gigantesco. Você não necessariamente precisa trabalhar em um veículo jornalístico, é possível atuar com produção de conteúdo, no meu caso, eu uno as duas coisas”, explica.

“Eu só tinha um papel e um sonho”, relembra bem-humorada, ao contar sobre o surgimento do programa Aperte o Play. O nome surgiu em meio a uma partida de jogos, uma “call”. Olhando para o presente e para o horizonte que ainda pretende alcançar, a jornalista define um bom profisisonal é moldado pela prática e disponibilidade em continuar aprendendo.

“Sei que tenho um longo caminho a percorrer, muitas coisas para aprender, afinal, sou uma eterna aprendiz. Mas, sou muito grata por cada passinho e pelas pessoas incríveis que eu encontro nessa ‘quest’ que eu chamo de vida”, diz, fazendo referência ao termo que jogadores usam para definir a jornada buscada durante um jogo.

Machismo

“Eu acredito que não seja uma jornada tão longa graças às mulheres que atuam no mercado e, hoje, as coisas estão mudando, mas ainda é uma luta árdua”, define. Segundo a apresentadora, o machismo ainda persiste ditando muitas regras no campo dos games. No entanto, personagens importantes da vida real aparecem para que mudanças ganhem força.

“Se hoje consigo atuar, é porque tem mulheres incríveis que abriram as portas, como a Nyvi Stephen e diversas outras mulheres sensacionais. Mas ainda sim, existe o machismo e eu tenho a sensação de que preciso trabalhar dez vezes mais que um homem para ser respeitada e ouvida”, afirma.

Para a jornalista, o machismo enraizado no universo dos games e tecnologia reflete a presença generalizada do patriarcado. Apesar de reconhecer que discursos machistas ainda são latentes, Ananda enxerga o futuro com otimismo.

“A luta por equidade de gênero continua em todos os cenários, não só nos games. Eu já passei por situações de machismo. Eu sei que não foi a primeira e não será a última. Mas, a luta continua e não vou parar. Hoje, não busco validação de quem não respeita meu trabalho”, complementa.

Além disso, a jornalista explica que no mercado de games, quando posições ligadas a narração ou a comentários de partidas de E-Sports ganham vozes femininas, existe um sistema que ainda tenta minimizar a validade de seus discursos.

“Sempre existem homens para criticar o tom da voz ou o que elas estão falando. E se fosse um homem, ali, falando as mesmas coisas, eles aplaudem, entende? É muita luta por respeito, pelo direito de trabalhar tranquilamente e principalmente, por oportunidade”, diz.

Futuro

Ao pensar no futuro, Ananda relembra as boas bases do presente. A família, por exemplo, é definida com uma constante rede de apoio e de inspiração. Além disso, sempre traz o nome de Catarina, sua filha de 6 anos, que já começa a “treinar” os pequenos dedos no mundo dos games, sempre contanto com o apoio e supervisão da “mãe streamer”.

”Meu pai é a minha maior influência no mundo dos games e da cultura pop. Ainda me lembro de soprar cartucho no Nintendo”, relembra. “As discussões no almoço de domingo na minha casa são sobre o último episódio de One Piece ou alguma atualização de um jogo. Meu pai e meus irmãos jogam até hoje, e não seria diferente com a minha filha”, conclui.

Para Ananda, olhar para o passado é lembrar de partidas de jogos na Lan House mais próxima, no jogo que demorava para “rodar”, e nas primeiras matérias que escreveu. Segundo ela, “está subindo degrauzinho por degrauzinho”, mas aspira grandes sonhos.

“Quero que a minha filha tenha orgulho de mim e que de alguma forma, eu consiga dar a ela um mundo onde ela e outras meninas não precisam passar pelo o que nós passamos. E, para isso, a luta continua”, completa.

Leia mais