Os games estimulam a aprendizagem de crianças e adolescentes através da diversão. Se você quer compreender a área de Ciências da Natureza no videogame ou no computador, saiba que tem um jogo que ensina a construir foguete ou até mesmo pilotar um drone. Imagine a aluna chegar na sala de aula e simplesmente se deparar com o PlayStation? Será que é possível aprender com os jogos digitais? A resposta é sim.

Jovens da nova geração nascem imersos na tecnologia e não tem como escapar. Ainda mais em uma era de youtubers e streamers. Então, por que não trabalhar em conjunto e dialogar na mesma linguagem que eles? Este universo gamer oferece novos caminhos educacionais de forma lúdica e interativa. Sejam eles digitais ou jogos físicos, como rpg de mesa ou tabuleiros. Mas, como aplicar em sala de aula?

Professora Thaíza Montine com as alunas do 7° ano no Colégio Marista. Foto: Ananda Leonel

As alunas do 7° ano, do Colégio Marista, criaram um jogo com gamificação. A ideia surgiu depois que a professora Thaiza Montine mostrou um vídeo da agenda 2030 da Organização das Nações Unidas. O vídeo mostrava o que pode acontecer com o planeta se não cuidarmos dele.

“Quando a Thaiza mostrou esse efeito estufa, poluição, eu comecei a chorar em sala de aula. Porque eu estava muito chocada, como que pode ter tanto lixo na cidade e no mundo. Então eu quis ajudar o planeta. Porque não o esquadrão anti-lixo?”, contou a aluna de 12 anos, Ana Luísa Moreira.

Esquadrão Eco Defensores

Ela chamou suas amigas para fazerem parte do projeto e criaram na escola o “Esquadrão Eco Defensores”. Esse squad tem até um mascote: um dinossauro. Cecilia Daher, também faz parte do time e contou que o jogo gamificado é a melhor forma de chamar atenção das pessoas, principalmente das crianças. Quando os alunos seguem as regras do jogo, eles recebem uma insígnia.

Mascote do Esquadrão.

“A gente primeiro pensou nas regras, como que a gente ia fazer. Uma menina do grupo do jogo está elaborando a tabela dos pontos para colocar na sala. E cada representante de sala vai marcando os pontos de acordo com os critérios do jogo. E os cartazes que vamos colar pela escola”, ressaltou.

A coordenadora do colégio, Maria Cristina, explicou como as metodologias ativas são aplicadas com os alunos. Para ela a gamificação e os jogos digitais é uma forma lúdica das crianças aprenderem o conteúdo. Pois é importante os professores aplicarem novos métodos em suas aulas já que os alunos tem jeitos diferentes de entender o conteúdo. Pois dessa forma, a didática fica mais ampla e todos os alunos adquirem o conhecimento.

“A gente trabalha com essa faixa etária com as metodologias ativas. Acreditamos muito no potencial dessa faixa etária e a gente busca desenvolver habilidades e competências pra trazer esse aluno para aprendizagem significativa. Uma das maneiras é a gamificação então quanto mais a gente trouxer a realidade do aluno para a sala de aula, melhor vai ser a convivência, a aprendizagem”, afirmou.

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Construir um foguete

Alunos do 6° do Colégio Marista. Durante a aula, eles estavam aprendendo Ciências da Natureza com o game Kerbal Space. Foto: Colégio Marista

A professora Thaiza levou o seu PlayStation para jogarem Kerbal Space Program para os alunos do 6° ano. O game entra na área de Ciências da Natureza pois no livro, ensina sobre as camadas da atmosfera e os foguetes. No jogo, o aluno assume a responsabilidade pelo programa espacial de uma raça alienígena chamada Kerbals.

Com uma ampla variedade de peças, o estudante poderá construir uma nave espacial sendo capaz de voar (ou não) com base em princípios realistas de física orbital e aerodinâmica. Para isso, as crianças precisará gerenciar recursos, escolher a tripulação ideal e tomar decisões estratégicas para garantir o sucesso de cada missão. E a aluna Melissa conseguiu aprender física com os Kerbals.

“A gente aprende muito sobre o espaço, as camadas de ozônio, troposfera, exosfera. A gente aprende muito sobre física, as naves espaciais, ônibus. Eu acho muito legal esse tipo de jogo”, contou.

A física orbital realista do jogo significa que o aluno terá que considerar cuidadosamente a trajetória da nave, a força da gravidade e a velocidade orbital para alcançar seu destino desejado. Dessa forma, as crianças terão a oportunidade de explorar planetas e luas distantes, coletar amostras, realizar experimentos científicos e construir estações espaciais.

Fora da sala de aula

Bruno, de 11 anos, gostou tanto da aula que decidiu comprar o jogo e ir além. Ele começou a assistir os vídeos no YouTube para ajudá-lo a avançar ainda mais no game, já que se interessa por engenharia.

“Eu já consegui colocar um satélite na órbita da terra. Se você quer entrar em órbita, você precisa subir um foguete e precisa construir e fazer os cálculos. E você pode escolher se vai ter tripulação ou não. Quando eu fiz, foi sem tripulação porque eu não quis matar ninguém. Então, coloquei o satélite e um comando em que eu consegui controlar sem passageiro. Coloquei também uma proteção no satélite pra não pegar fogo. Porque se caso pegue fogo, ele queima e não vou ter sucesso na missão”, disse.

Atividade aplicada na sala de aula. Os alunos do 6° desenharam o que aprenderam sobre o planeta.

De acordo com a professora Thaiza, Kerbal Space Program é uma excelente maneira de testar a criatividade e habilidades das crianças enquanto eles lideram uma civilização alienígena em busca pelo conhecimento e descobertas no espaço.

A professora sempre busca formas criativas que estão alinhadas com os livros para os alunos interagirem. Ela também passa atividades com embasamento no jogo, por exemplo, as crianças colocarem em seus cadernos o que aprenderam.

“Tanto a parte mecânica da coisa, a matemática, eles tem condições de verem todas as camadas da atmosfera e passar por todas, de vivenciar não só a saída do foguete, como esse retorno dele à Terra. Então precisa ter o ângulo certo, porque ele precisa entrar pois se não, pega fogo. Ele pode perder combustível e tanques podem explodir pela velocidade ou ângulo de entrada. É todo um raciocínio lógico e matemático dentro da área das ciências mesmo. E na sala de aula, estamos trabalhando muito com as camadas da atmosfera, e ver isso fora do livro e a empolgação dos alunos é sensacional”, explicou.

Escola do Futuro

E que tal aprender a controlar um drone jogando? É isso que os alunos da Escola do Futuro de Aparecida de Goiânia estão aprendendo. Com 5 unidades no estado, as Escolas do Futuro de Goiás (EFGs) são uma iniciativa do governo estadual em busca de proporcionar uma educação gratuita e de qualidade para jovens do Ensino Médio e Superior. O objetivo da escola é ensinar o que há no mercado de trabalho.

Entre os cursos ofertados pela escola, temos Produção Cultural e Design; Informação e Comunicação; e Gestão e Negócios. Além das aulas presenciais, a escola oferece o método online e a distância (EaD).

Com tecnologia de ponta, os alunos aprendem programação, gestão, robótica, corte a laser e tem uma disciplina exclusiva de jogos digitais, por exemplo, desenvolvimento de games.

“Na aula de games a gente mostra a parte teórica. Eu brinco e falo que é a peça antes de ser apresentada. Estamos atrás das cortinas programando. Tem o banco de dados, personagens e a narrativa. Criar um jogo tem uma estrutura. Dependendo do que você vai criar precisa de estudo”, explicou o programador Douglas Fernandes.

Drones

Como um game de drones pode ajudar no ensino e conectar os jovens com as profissões do futuro? “Hoje o drone está inserido não só na parte de aprendizado como esporte ou uma forma de diversão. Ele é uma fonte de renda de muitas pessoas e está influenciando muito os adolescentes, já que eles têm interesse por tecnologia. Então querem entender como funciona e como poder ser utilizado como profissão”, explicou o empresário e aluno Kilrson Gomes.

“Ele pode ser utilizado na área de segurança pública, pulverização de plantações e também no desenvolvimento de materiais para mapeamento de áreas”, ressaltou. Ele explicou que os jogos digitais influenciam cada vez mais no processo de aprendizagem dos jovens.

“Ali na forma digital, por enquanto, tem como você entender que tem que ter altura, velocidade e cuidado com pessoas, edifícios e aviações. Então isso já é o começo. É o primeiro passo para inserir o drone na vida da pessoa. Aqui, a cada fase que eles vão tendo nos jogos, é como se fosse um avanço como se ele fosse pegar um drone na forma física”.

Campeonato de Games

Escola do Futuro realizou o 1° Campeonato de Games em março de 2023. Foto: Escola do Futuro.

Para os fãs de eSports, a Escola do Futuro realiza campeonatos e até mesmo aulas de Pro Player. Em março deste ano, aconteceu o primeiro campeonato de games com o objetivo de revelar novos talentos e criar startups na área de jogos eletrônicos.

Dessa forma, não atrai apenas alunos interessados na cultura nerd e tecnológica, mas também, estimula independência, criatividade e até mesmo foco na área de empreendedorismo. Na competição, 80 inscritos participaram de jogos como Maratona de Programação.

Desde criança, Maicon Douglas, agora com 16 anos, joga com seu pai. Ele busca ir além, adquirindo novas experiências e aprendizados através de campeonatos.

“Penso em seguir trabalhando com a criação de games, porque vejo novas possibilidades”, contou.

Entre as modalidades, teve e-football, League of Legends, Fortnite e Counter Strike. Como a escola oferece todo aparato tecnológico, os troféus e medalhas foram produzidos no mesmo local.

“Eles se interessam muito por jogos. Pra eles estarem se profissionalizando e qualificando no mercado de trabalho, é necessário estudo. Pois é um mercado grande e pouco explorado no Brasil. E a aqui na escola, queremos explorar esse mercado e colocar eles como profissionais e também no cenário competitivo de forma nacional e internacional”, finalizou Douglas.

Arena Repense

Esta reportagem integra a segunda temporada da série Repense desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Renapsi e da  Fundação Pró Cerrado

Ao longo de 48 episódios abordamos temas relativos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) da Organização das Nações Unidas ONU. Nesta reportagem a temática inclui o ODS: 04 – Educação de Qualidade.

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