As dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência são diversas, mas todas com uma característica em comum: o preconceito. Falta de rampas, ausência de tradução em Braille ou mesmo de um intérprete de Libras; esses gestos de inclusão podem ser apenas detalhes, mas fazem toda a diferença na vida de milhões de pessoas.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 25% da população brasileira possui algum tipo de deficiência. Elizabeth Campos é coordenadora do Fórum Goiano de Inclusão no Mercado de Trabalho das Pessoas com Deficiência e dos Reabilitados pelo INSS (FINTPODER) e explica a discriminação vivida na pele.

“Eu tenho Poliomielite na perna esquerda. Trabalhei 25 anos como gestora de RH e, quando trabalhava em uma escola, as empresas me perguntavam se havia alunos PcD para cumprirem a cota de inclusão. Mas sempre falavam que queriam ‘igual eu”.

Elizabeth explica que sua deficiência é considerada “leve” e por isso há preferência. Ela ainda reitera que o preconceito contra cegos, surdos, autistas e pessoas com Síndrome de Down é ainda maior.

“As empresas não querem ter ‘problema’ ou ‘dor de cabeça’. Para eles, incluir essa acessibilidade no ambiente de trabalho é ‘muito complexo’, mas isso tudo é por falta de conhecimento”.

A fala da coordenadora do FINTPODER é representada com evidência na vida de Carlos Guilherme. O funcionário de uma rede de lojas de calçados, em Goiânia, tem apenas 24 anos e desde os 3 meses de vida é surdo. Hoje, ele cursa Fotografia e sonha em se formar.

Carlos trabalha numa rede de lojas de calçados. Foto: João Vitor Simões

Suporte

Com a ajuda da intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) do Universo Demà Sagres, Eduarda Lorrayne, a comunicação ficou um pouco mais facilitada. Mas, na empresa que trabalha, foi disponibilizado um curso para que os colegas de trabalho possam incluir Carlos nas atividades diárias e ensiná-lo de forma mais direta e facilitada.

Ele conta que a proatividade e vontade dos demais amigos e funcionários em se comunicarem o motiva e deixa feliz. Segundo ele, geralmente o preconceito é percebido de forma direta.

“Queremos que as pessoas inseridas no ambiente de trabalho aprendam Libras, assim a ajuda pode ser recíproca. Eles me ajudam e eu ajudo também. Ficaríamos muito felizes e seria bom para todos”, desabafa.

Combate ao preconceito

O desafio central das pessoas com deficiência é o combate ao capacitismo. De acordo com a Academia Brasileira de Letras, o termo capacitismo é dado ao ato de discriminar pessoas com deficiência (PCD) – seja ela física ou mental.

Calar aqueles que tratam como incapaz ou com inferioridade é o que motiva Maria Eulina da Silva. A vendedora do setor de padaria de um supermercado da capital goiana teve paralisia infantil quando mais jovem, mas isso nunca foi motivo de vergonha ou para que desistisse de seus sonhos.

“O segredo é não deixar que os outros digam o que podemos ou não fazer. Querer é poder e eu sei que posso. Se não nos importarmos com o que os outros vão dizer, a gente ‘passa’ por cima de qualquer coisa”, explica.

A paraense veio para Goiás em 2004 em busca de oportunidade de emprego. No norte do país, ela foi professora particular e diz que nunca deixou que nada, nem ninguém, a impedisse de fazer aquilo que sonha.

“Tive oportunidade de trabalho formal só aqui em Goiânia. Na minha cidade as pessoas tinham muito preconceito. Isso infelizmente a gente enfrenta sempre, mas eu nunca liguei e isso nunca me impediu de nada”.

Desafio

No mesmo mercado, o sorriso carismático do ‘seu Sebastião’ cativa de longe. O açougueiro de 60 anos sofreu um acidente quando era mais novo. Sebastião Saraiva trabalhava no transporte de arroz, até que o caminhão, vindo do Maranhão, tombou e ele teve sua perna quebrada em diferentes pontos.

Sebastião passou por sete cirurgias e ficou mais de um ano e meio sem andar. Hoje, ele e a esposa trabalham no mesmo lugar há 20 anos e relata que força de vontade e perseverança são peça chave para alcançar a felicidade.

Sebastião é açougueiro em uma rede de supermercado. Foto: João Vitor Simões.

“Há muitas pessoas ruins no mercado de trabalho… Sempre olham pra mim e acham que eu não vou dar conta por não poder pegar muito peso, nem fazer muito esforço, mas eu dou conta do recado”, afirma com um sorriso no rosto.

Sebastião completa destacando que encontrou muito apoio dos colegas de trabalho.

“Os meninos aqui do açougue também me ajudam bastante. Sabem dos meus limites e me respeitam muito com aquilo que não consigo fazer. E isso serve de lição pras pessoas”, complementa.

O resumo de desejo de toda pessoa com deficiência é um só: respeito. Além disso, a promoção de maior autonomia e liberdade para que elas possam ser incluídas na sociedade de forma justa e equivalente, é fundamental.

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