É na adolescência que a gente começa pensa em trabalhar, ter um emprego para ter dinheiro, e conseguir mais independência. O trabalho alinhado a aprendizagem e priorizando a educação é fundamental para o jovem, pois traz bem mais que uma renda. Com isso, eles irão desenvolver uma série de competências e habilidades necessárias para a inserção no mercado de trabalho.

Além disso, os adolescentes desenvolvem mais responsabilidade e organização, características importantes, não apenas para eles, mas para toda a família, principalmente, aquelas que estão em situação de vulnerabilidade social. Isso, porque o salário do jovem ajuda a complementar a renda familiar.

Não tem como falar de jovem trabalhador sem citar a Rede Nacional de Aprendizagem, Promoção Social e Integração (Renapsi). São mais de 30 anos de história, e a instituição atendeu cerca de 200 mil jovens. Atualmente 22 mil estão sendo atendidos, um deles é o Thiago Mendes de 16 anos.

Veja a reportagem de Palloma Rabello

Decisão do primeiro emprego

O estudante do segundo ano do Ensino Médio viu na Renapsi a oportunidade para conquistar seu primeiro emprego. Thiago, conta que a irmã dele foi jovem aprendiz e que ele ficava ouvindo as histórias que ela contava. E quando viu que precisaria trabalhar, soube onde procurar orientação.

“A minha decisão surgiu através de uma conversa muito sincera com a minha mãe, muitas vezes eu queria algo e percebia que ela não tinha condições financeiras para comprar, porque tinha as contas de casa para pagar. Outra coisa que contribuiu bastante é que eu queria ter experiência do mercado de trabalho e não desperdiçar o tempo o meu tempo livre, foi aí que encontrei a Renapsi”, conta Thiago.

Thiago Mendes, de 16 anos, é jovem aprendiz da Renapsi – (Foto: Sagres Online)

O estudante pontua que antes dessa experiência, ele não se preocupava muito com as questões que hoje vê como fundamentais, como controle de gastos e a escolha de que profissão seguir.

“Eu gosto muito de história e filosofia, por esse fato o curso superior que mais me identifico é o Direito. Mas, não quero exercer como advogado ou delegado, meu plano é servir no exército e me tornar um oficial e assim fazer direito por lá”, afirma animado.

É perceptível a evolução do Thiago. Depois da experiência com o primeiro emprego, ele passou a priorizar a educação e sonha com novas possibilidades e com um futuro melhor!

Capacitação

Depois de se cadastrar e ser chamado para ter a oportunidade do primeiro emprego, o jovem passar por um momento de capacitação que, geralmente, dura cerca de dez dias.

Mesmo depois desse período o novo trabalhador continua com os momentos de formação, mas agora ela será ministrada uma vez por semana. A aprendizagem é essencial, pois diversas vezes, essa é a primeira oportunidade de emprego do adolescente.

Erika Lima, coordenadora da Renapsi do Polo Goiás (Foto: Sagres Online)

“Lembrando que a lei de aprendizagem determina que o contrato com o jovem precisa ter a prática profissional e a capacitação teórica. A qualificação vem para trazer todo o conteúdo dentro daquilo que o jovem foi contratado para fazer e é parte integrante do trabalho, por isso é considerada como dia de trabalho também”, explica a coordenadora da Renapsi do Polo Goiás, Erika Lima.

Segundo a Erika durante as aulas os jovens aprendem todo o conteúdo para que ele execute bem a função designada. Além disso, aprendem sobre o mercado de trabalho e as normas da CLT.

Jovens e instrutor Abner em interação. Imagem: Euller Ramos

“Todos os jovens precisam aprender sobre as normas da CLT, até mesmo para conhecer os próprios direitos enquanto trabalhador. Eles conhecem essas regras para saber sobre onde ele está inserido, seus direitos e deveres”, ressalta

Além de disso, a coordenadora explica que a metodologia da Renapsi trabalha o desenvolvimento seis competências que são fundamentais para os trabalhadores.

“Eles aprendem sobre colaboração, autoconhecimento, comunicação, criatividade, pensamento crítico e autogestão. Hoje o mercado de trabalho busca em todos os profissionais essas competências independentemente da área de atuação”, pontua.

História de sucesso

Um de vários casos de sucesso é a história do corretor e empresário, Hermes Fernandes. Ele foi jovem aprendiz em 1998, e a oportunidade gerou vários frutos para a vida dele. Para ele, houve reflexos positivos nas boas escolhas que ele tomou ao longo da vida.

Hermes Fernandes, corretor e empresário (Foto: Sagres Online)

Para entendermos os ganhos do trabalho aliado à aprendizagem, é preciso saber os resultados deste trabalho na vida de quem um dia já foi jovem aprendiz.

O Hermes, cresceu com a mãe e os seis irmãos, e tudo era muito regrado na casa dele, já que a mãe precisava dar conta de todos os gastos e contas da casa.

Ele conta que quando tinha apenas 7 anos acabou perdendo o pai e isso trouxe uma grande angústia e um sentimento de revolta devido à perda.

“Eu trazia muito ressentimento guardado, principalmente, quando via as outras crianças   com seus pais. Isso acabou refletindo na minha formação, no aprendizado e nas minhas expectativas de desenvolvimento” conta o corretor.

Esses sentimentos ruins fizeram com que Hermes ficasse cada vez mais retraído. Questões que iriam ser amenizadas anos depois, durante as formações do seu primeiro emprego. Mas como surgiu a oportunidade da inserção no mercado de trabalho.

“Eu me tornei triste e revoltado com a perda, esse sentimento veio acompanhando por muito medo. Percebi que precisava vencer essa barreira, mas não sabia como. Para a minha surpresa, as formações que recebi para o primeiro emprego foram cruciais para essa superação”, lembra.

Por incentivo da mãe, Hermes se inscreveu em um programa de aprendizagem e lembra que no momento da inscrição sentiu que estava fazendo a escolha certa.

“Minha mãe me levou e quando eu cheguei lá, me lembro de ter alguns jovens, com os uniformes, conversando entre si. Foi nesse momento que eu tive a certeza de que aquele era meu lugar”, diz emocionado.

Mudança de comportamento

Hermes citou que ele acabou se tornando um jovem mais retraído com o passar dos anos. Os momentos de capacitação oferecidos pela Renapsi, foram essenciais, para o trabalho, mas também para vida pessoal dele.

“Essa formação me levou a entender que eu era uma pessoa importante em algum processo. O trabalho foi desafiador um dia de cada vez, um processo de aprendizado que eu sou muito grato”, afirma.

Hoje, 24 anos após seu primeiro emprego, Hermes se tornou corretor e empresário. Se desenvolveu para conseguir ser uma pessoa realizada em todas as áreas da vida.

“Minha experiência com o programa de aprendizagem foi fundamental, porque ali eu entendi que era um líder, que tinha opinião valor e que eu podia iniciar os meus próprios projetos. Aprendi a valorizar a educação e as pessoas. Me tornei uma pessoa realizada, me casei, tenho dois filhos e uma vida estável. É muito satisfatório me lembrar que essa construção começou lá atrás, quando eu tinha apenas 14 anos de idade”, finaliza.

Ter contato com o ambiente de trabalho da forma certa, priorizando a educação e a aprendizagem, traz aos adolescentes mais responsabilidade, pensamento crítico e visão de mundo.

Além de tudo isso, ajuda a complementar a renda das famílias em situação de vulnerabilidade social. A experiência é muito importante para o futuro e vai muito além do jovem ganhar seu próprio dinheiro, pois proporciona também crescimento, aprendizado e autoconfiança.

Dia Internacional do Jovem Trabalhador

Você sabia que existe uma data comemorativa internacional para celebrar as conquistas do Jovem Trabalhador? O objetivo é gerar conscientização sobre a importância da oferta de trabalho seguro, qualificado e agregador para a juventude.

A data serve como reflexão para a importância dos jovens nos postos formais de trabalho e romper preconceitos sobre a contratação de pessoas sem experiência. A preocupação é de inserir jovens e novos profissionais no mercado de trabalho.

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