Em julho do ano passado, mais de 87 mil pessoas lotaram o estádio de Wembley, em Londres, para acompanhar a final da Eurocopa feminina. Em casa, a Inglaterra venceu a Alemanha e levantou a taça no tradicional palco do futebol inglês.

Desde então, a vitória das Lionesses (“leoas”, em inglês) alavancou ainda mais a popularidade do futebol feminino inglês. No entanto, o aumento do interesse foi apenas um reflexo de um sucesso que já se consolidava antes do título.

Em 2021, a Women’s Super League (WSL), primeira divisão do Campeonato Inglês de futebol feminino, fechou um acordo histórico para a transmissão do torneio com BBC e Sky. São 8 milhões de libras esterlinas anuais, cerca de R$ 50 milhões por ano.

Um dos principais clubes locais, o Arsenal aumentou quase 30% da folha salarial de sua equipe feminina, entre jogadoras e demais funcionários. Na última temporada, foram gastos 4,3 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 26,8 milhões) com salários.

Um aumento considerável em relação aos 2,6 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 16,2 milhões) gastos na campanha de 2020-21. O quadro de funcionários também aumentou, de 35 para 44, com um salário médio de 98 mil libras esterlinas (cerca de R$ 610 mil).

Apesar da valorização, está bastante distante do time masculino. Líder da Premier League, a primeira divisão do Campeonato Inglês de futebol masculino, o Arsenal tem uma folha salarial superior a 220 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 1,37 bilhões).

Os salários pagos aos homens são também um reflexo do que é a liga mais popular do futebol mundial, com enormes fontes de receita. Apesar de ainda estar distante dessa realidade, o futebol feminino inglês tem experimentado um grande crescimento.

Em maio do ano passado, o Arsenal registrou um aumento de 62% no faturamento do time feminino, reflexo não apenas do acordo de transmissão da WSL, mas também do crescimento da receita dos dias de jogo, com jogos no Emirates Stadium.

À reportagem da BBC, o clube destacou estar empenhado em desenvolver o futebol feminino de maneira sustentável, e ressaltou que “precisamos garantir que estamos investindo em jogadoras de ponta, e isso significa pagar salários competitivos”.

“Os mesmos princípios se aplicam ao nosso time masculino”, frisou o Arsenal, que acrescentou que pretende obter “receitas consistentes através de parcerias comerciais e o aumento do público nos jogos”.

Protesto canadense

A poucos meses do início da Copa do Mundo, que será disputada entre os meses de julho e agosto na Austrália e na Nova Zelândia, a seleção do Canadá, uma das mais tradicionais do futebol feminino, está em crise com a federação.

Após terem greve negada, a equipe feminina canadense protestou por pagamentos igualitários e maior investimento na seleção durante a SheBelieves Cup, torneio amistoso disputado nos Estados Unidos nas últimas duas semanas.

As atletas destacaram que, “com o maior evento da história do futebol feminino a menos de seis meses, a nossa preparação para a Copa do Mundo e o futuro do time estão sendo comprometidos pela incapacidade da federação de apoiar as seleções”.

“Apesar do nosso histórico de sucessos e objetivos atingidos por mais de uma década, continuamos a ouvir que não existe dinheiro suficiente para financiar adequadamente os nossos projetos e dos times juvenis”, afirmou a associação de jogadoras.

Em contradição com os resultados positivos e o crescimento da popularidade no país, a Federação Canadense de Futebol tem realizado cortes e as queixas também se estendem ao time masculino, que demonstrou apoio ao protesto das mulheres.

Enquanto a equipe masculina voltou a disputar o Mundial após 36 anos, o time feminino é o atual campeão olímpico. Em contraste com os 11 milhões de dólares (cerca de R$ 57,3 milhões) gastos com os homens em 2021, a federação gastou 5,1 milhões de dólares (R$ 26,6 milhões) com as mulheres no mesmo período.

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