O debate acerca da presença de celulares em escola ressurge vigorosamente neste ano inicial, suscitando questionamentos sobre proibir ou permitir parcialmente seu uso. Esta discussão complexa tem engajado não só professores e administradores escolares, mas também as mídias sociais, envolvendo diversos membros da comunidade educacional.
Recentemente, medidas restritivas foram adotadas por redes de ensino no Rio de Janeiro e em São Paulo. No final de 2023, a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro conduziu uma pesquisa pública sobre a proibição dos dispositivos durante as aulas, com 83% dos entrevistados apoiando a medida.
Tal proibição, efetivada este ano, restringe o uso mesmo durante os intervalos, exigindo que os aparelhos permaneçam desligados ou em modo silencioso nas mochilas dos estudantes, com exceções permitidas somente com autorização pedagógica.
Paralelamente, o governo de São Paulo vetou o acesso às redes sociais via Wi-Fi em toda a rede estadual de ensino. Uma legislação em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo busca regulamentar a presença desses dispositivos na escola, promovendo um “uso consciente”. Recomendações similares foram feitas pelos ministérios públicos da Bahia e do Ceará, visando restringir o acesso a atividades pedagógicas.
Tendência
Essa tendência de restrição ou proibição tem se difundido em escolas por todo o país, tanto públicas quanto privadas, refletindo preocupações com a dependência desses dispositivos e seu impacto na saúde mental dos alunos. Dados da FGV de 2023 indicam que os brasileiros passam em média mais de 9 horas diárias em seus aparelhos, evidenciando uma preocupação crescente.
Especialistas, como Lucia Dellagnelo do Banco Mundial, enfatizam a necessidade de considerar os celulares como recursos educacionais, enquanto Daniel Helene, coordenador em São Paulo, alerta para o potencial desses dispositivos em aumentar vícios e consumismo entre os jovens.
“É um problema real e urgente. Se você me perguntar se este é o principal problema das escolas e da educação no Brasil, eu vou dizer que não. Mas é uma questão importante”, pondera.
Uso estratégico
Embora algumas escolas já tenham políticas estabelecidas, como o caso da Escola Vera Cruz, que proíbe o uso de celulares em sala de aula a partir do sexto ano, o debate continua. José Carlos Alexandre Soares, professor em Pernambuco, destaca a importância de permitir o uso estratégico de celulares para o desenvolvimento de habilidades tecnológicas.
“Eu não faço um planejamento de aula engessado, eu quero que os alunos participem dos projetos e pesquisem. Peço para verificarem se o que estou falando é verídico, por exemplo”, destaca. “Às vezes, a escola não tem laboratório de informática ou computadores”, ressalta, em referência à baixa infraestrutura das escolas públicas brasileiras.
Em meio a isso, Julieta Jerusalinsky, psicanalista e fundadora do Instituto Travessias da Infância, adverte que proibições devem ser vistas com cautela, sugerindo um diálogo aberto com a comunidade escolar para alcançar os benefícios desejados.
“A gente precisa pensar que uma lei restringe satisfações, mas também nos protege. A pergunta que devemos fazer é se essa decisão seria para produzir qual proteção em relação aos jovens”, diz.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade
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