Dois problemas surgem no horizonte do governo a partir da notícia de que o empréstimo de R$ 510 milhões na Caixa não vai sair: 1) como arrumar dinheiro para cumprir os compromissos da gestão; 2) como apaziguar a ansiedade dos aliados do interior, que contavam – e contam – com as obras e recursos anunciados.

A engenharia econômica e a arrumação política não são tarefas fáceis para um governo que precisa manter as contas em dia e, ao mesmo tempo, elevar o ânimo de sua base no momento em que vê afunilar o período de negociação para a composição das alianças para a eleição.

Passa a ser real o perigo de a falta de perspectiva de dinheiro no governo seja usada por lideranças hoje governistas como argumento, que dizer ‘desculpa’, para mudança de lado. Se isso acontecer, será como abrir uma porteira difícil de ser fechada depois.

Há tempos os aliados do senador Ronaldo Caiado (DEM) e do deputado federal Daniel Vilela (MDB) anunciam uma debandada de integrantes da base assim que se cumprissem os prazos para liberação, ou não, dos recursos prometidos pelo Estado. É a hora?

No anúncio da recuso do empréstimo, o governador José Eliton (PSDB) procurou mostrar segurança. Disse que seus auxiliares já estavam debruçados sobre a solução do nó financeiro e que nenhum compromisso assumido deixaria de ser cumprido.

Ficou no ar uma questão política de fundo: a Caixa exagerou nas condições exigidas por influência política de Caiado, ou porque a situação do governo não era de fato boa, fazendo o banco elevar a contrapartida em virtude do risco no negócio?

A informação de que o vice-presidente de Riscos da Caixa, Paulo Henrique Souza, é indicação do deputado democrata Pauderney Avelino, do Amazonas, serve para colocar mais lenha no ambiente. Caiado, de todo modo, está na dele.

Ontem, o senador, que questionou desde o início o empréstimo e foi acusado de tentar prejudicar o Estado e atrapalhar os municípios, tratou de comemorar sem medo de ser feliz.

“Claro que as condições do contrato seriam ruins, quanto maior o risco de quem quer contratar o empréstimo, mais pesados serão os encargos cobrados. E esse governo destruiu as finanças de Goiás”, disse, cheio de razão.

Noves fora as responsabilidades de lado a lado, o que segue firme é a discussão política. E aí entra o senso de oportunidade das lideranças do interior que estão fechadas agora com o governo. Se vão aproveitar para mudar de lado, ou se vão ficar firmes do lado que estão.

Porque é fato que o debate político da pré-campanha é menos para o povo e mais para o público interno, os que vivem das negociações e articulações políticas. As lideranças, enfim. E ninguém nessa história é herói ou bandido. O rumo que escolhem é definido por tudo, menos por razões de Estado.

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