(Foto: Reprodução/ Internet)

A tragédia dessa noite me ajudou a chegar ao nome de nosso mal coletivo. É uma espécie de epidemia, que se alastrou silenciosamente em nosso meio e parece ter contaminado a todos, inclusive a este que lhes fala.

Escrevo num dos poucos momentos de lucidez, o susto deve ter baixado a febre e aproveito a ausência dos delírios para colocar as ideias em ordem.

A marca de Pilatos é “lavar as mãos” e permitir que se dê o erro, apesar de conhecê-lo previamente e ter poder para evitá-lo. Não o faz por acomodação e para não ferir seus interesses. A vilania, no caso, não está na ação propriamente dita, mas sim na omissão silenciosa. melíflua, quase piedosa… “que pena… vai-se um inocente”.

Fizemos isso com o Museu da Quinta. Há ANOS sabiam todos de seu abandono, de sua penúria, do descaso regular e sistemático de que era vítima. NINGUÉM FEZ NADA. Não gritou, não protestou, não se mobilizou para que o patrimônio da nação fosse protegido. Se fizessem passeata ia dar WO.

Mas no carnaval houve MILHOES E MILHÕES de pessoas em blocos alegres e saltitantes, em todo o país e também aqui no Rio, como se nada no país e em nossa cidade houvesse de podre nesse momento, como se houvesse motivo para alguma festa quando, só no Rio, dezenas e dezenas de pessoas – entre policiais e crianças – já morreram numa guerra atroz combatida pelo poder público com promessas vazias.

E, mesmo com tanta gente reunida, parece que a ninguém ocorrreu de aproveitar a reunião do povo para um protesto SÉRIO, ENÉRGICO e INCISIVO em busca do certo, do justo, e do republicano.

Sabemos igualmente dos nossos hospitais falidos (o de Santa Cruz pegou fogo, também), das nossas escolas acéfalas, das quadrilhas travestidas de partidos políticos, das excrecências que insistem em ser chamadas de excelências, dos problemas de transporte público, das estradas… mas nada, nada, NADA parece nos tirar da acomodação, da inércia, da omissão sistemática e constante, do bom mocismo teórico e verborrágico que insistem em apontar o erro alheio – do partido alheio da religião alheia, da opinião alheia, do grupo alheio, quaisquer que sejam – enquanto destaca as virtudes dos seus, quando TODOS se identificam no mesmo partido – O DA OMISSÃO, o DA ACOMODAÇÃO.

O BRASIL ESTÁ SE CONSUMINDO DIANTE DE NOSSOS OLHOS, que insistem em se conservar FECHADOS!

Acho que esse é um momento oportuno para uma reflexão geral em torno do que é de fato CIDADANIA, e se o bom cidadão é apenas o que paga os seus impostos e vai para casa descansar, depois do trabalho feito.

Esse tipo de cidadania “terceirizada”, ligado ao modelo da “democracia representativa”, parece que já deu o que podia dar… temos de achar um novo modelo, onde a AÇÃO, A PRESENÇA E A PARTICIPAÇÃO ditem o tom.

Uma andorinha só não faz verão, mas muitas reunidas podem formas belo espetáculo.

Vamos ver se o fogo nos faz abrir os braços e começar a experimentar um modelo de vida novo. Menos acomodado e mais ativo. Menos teórico e mais concreto.

E, juro: se algum político cínico e debochado vier hoje a público, com cara triste, dizer que o que houve foi uma tragédia e que infelizmente faltam recursos para cuidar do museu, e de todas as coisas acima citadas, com o trilhão de impostos que pagamos todos os anos, acho que hoje eu chego ao infarto.

Executivos. Doutores. Professores. Administradores. Gerentes. Motoristas. Enfermeiros. Comerciários. Bancários. Comerciantes. Banqueiros. Faxineiros. Fazendeiros. Empresários. Trabalhadores. Livres-pensadores. Artistas. Petistas. Emedebistas, Bolsonaristas, Políticos. Religiosos e ateus de todos os matizes. Homens e mulheres de Bem, de todos os tipos, raças e credos:

O Brasil está queimando. Está precisando DESESPERADAMENTE DE AMOR e TRABALHO DOS SEUS CIDADÃOS EM SUA DEFESA, NÃO COM A REVOLUÇÃO DAS ARMAS, MAS A DA JUSTIÇA, DA ORDEM, DA AÇÃO DO BEM E DA DIGNIDADE QUE SE IMPÕE SOBRE A HIPOCRISIA E A PEQUENEZ.
É HORA DE ACORDAR, ANTES QUE ESSE INCÊNDIO NOS LEVE A TODOS…

Júlio Couto Damasceno é graduado em Comunicação Social pela UFRJ e Pós-Graduado Administração de Recursos Humanos pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC-RJ. Fez também seu MBA em Marketing pela FUNDAÇÃO DOM CABRAL (1997) e o Mestrado em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ. (2005). Atualmente é empresário, consultor e professor, tendo já ministrado aulas em instituições de primeira linha como Fundação Getúlio Vargas, IBMEC e Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.