A prevenção através do Manejo Integrado do Fogo (MIF) é uma das estratégias adotadas pelo Tocantins para minimizar os impactos das queimadas especialmente no período da seca. O MIF é uma metodologia que envolve cinco estratégias: preparação, prevenção, prontidão, supressão e restauração, e é realizada pelas brigadas do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins) durante todo o ano.
O Manejo Integrado do Fogo é composto por um ciclo. Nos meses que antecedem a seca crítica no estado – com altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar, além de ventos fortes, é quando os brigadistas atuam de forma mais intensa utilizando o próprio fogo com o objetivo de evitar desastres de grandes proporções, conforme explica o diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Naturatins, Warley Carlos Rodrigues.
“Utilizar o fogo para evitar o incêndio. Essa técnica consiste em reduzir o capim morto na época propícia, que vai do fim do período chuvoso até o início da estação crítica de seca aqui no Tocantins, em meados de julho para início de agosto. Aproveitamos a boa temperatura, boa umidade, ventos mais tranquilos e clima favorável para fazer uso do fogo para fazer a queima da biomassa de forma que ela não esteja disponível para queimar, incendiar e conduzir incêndios nos meses de agosto e setembro”, explicou.
Além de atuar nas ações preventivas, as brigadas atuam no período de combate e na restauração das áreas incendiadas. O Naturatins mantém ainda viveiros para efetuar, no período de recuperação, a destinação de mudas nativas.
“O Tocantins trabalha esse conceito o ano inteiro. Existem as fases do MIF dentro do ano: o período de planejamento, onde se elaboram os calendários em parceria com as comunidades; depois executa esses calendários e a brigada apoia, se for necessário, alguma comunidade a fazer o uso do fogo; é encerrado esse período de fazer uso do fogo; as brigadas começam a fazer o combate.; após combate vem a restauração. A gente trabalha o ano inteiro seguindo as fases do nível de acordo com a sazonalidade”, descreveu o diretor.
Estratégia de mosaico
Além de evitar incêndios de grandes proporções e difícil controle, o Manejo Integrado do Fogo ajuda também na preservação da fauna local e também da vida da própria equipe de brigadistas que atua no combate.
“Na hora do combate os mosaicos servem para refúgio de fauna e também para estrutura de combate, para as brigadas, durante o período de incêndio. Essas queimas que foram feitas no período mais ameno, maio, junho, no período crítico, em setembro, podem servir para estrutura de combate a incêndios florestais”, afirmou Warley Rodrigues.
Os mosaicos, que são a estratégia adotada pelos brigadistas, funcionam como uma espécie de “colcha de retalhos” divididos entre áreas queimadas e não queimadas. Essa integração das áreas com esse desenho irá evitar que o fogo se espalhe, em caso de incêndio.
“Nessa metodologia a gente considera que ter uma brigada durante todo o ano para se trabalhar o planejamento, a prevenção, as queimas controladas, queimas prescritas, o combate e a restauração possibilitam um planejamento mais efetivo, considerando que o brigadista vai estar em contato com a área de trabalho dele durante o ano inteiro, com as pessoas que vão necessitar do trabalho dele”, comentou o diretor destacando o desafio do Instituto em ampliar o manejo integrado do fogo para todo o estado.
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Parcerias
O Manejo Integrado do Fogo teve origem na unidade de conservação do Jalapão, mas já se estendeu às outras unidades de conservação do Tocantins. Além da ação do Governo do Estado, as estratégias de Manejo Integrado do Fogo contam com a parceria das comunidades, sempre levando em conta a realidade local e respeitando a cultura do povo tocantinense.
“A relação com as comunidades e com os proprietários ela é de parceria, porque o Manejo Integrado do Fogo faz as ações durante todo o ano, mas considera ecologia, cultura e o manejo básico do fogo. Nesse relacionamento com comunidades são levadas, no aspecto de gestão do fogo naquela área, as questões culturais da comunidade. Tem muitas comunidades que utilizam o fogo como ferramenta de manejo da Terra e essa peculiaridade de cada comunidade é respeitada”, lembrou o gestor.
O diretor do Naturatins explica ainda que na relação com as propriedades rurais, o órgão trabalha a autorização da queima controlada, que é divulgada amplamente aos produtores para que possam fazer uso queima legal e autorizada.
Os canais de contato com Naturatins para esclarecimentos de dúvidas são as próprias sedes das Unidades de Conservação e a Linha Verde do Naturatins – 0800 063 1155.
Conscientização
Paralelo ao Manejo Integrado do Fogo, o Governo do Tocantins, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) desenvolve o projeto Foco no Fogo que leva orientação e informação às propriedades e comunidades rurais sobre os riscos e prejuízos causados ao meio ambiente e, também, à saúde da população pela queima ilegal e incêndios florestais. O projeto conta com a parceria de 32 instituições tocantinenses que compõem o Comitê do Fogo.
“O Foco no Fogo é um projeto que há quatro anos realiza um trabalho muito importante de prevenção através da conscientização da população. E é um trabalho que vem evoluindo ao longo dos anos, com a adesão fundamental das 32 instituições que integram o Comitê do Fogo. São muitas mãos unidas para enfrentar esse problema que acomete o nosso estado todos os anos, que são as queimadas ilegais e os incêndios florestais. Mas nós acreditamos muito no poder da educação ambiental, da conversa olho no olho com os proprietários rurais, que afinal são diretamente impactados com os efeitos do fogo ilegal”, avaliou o secretário da Semarh, Marcello Lelis.
O projeto já percorreu mais de 50 municípios e povoados, com a expectativa de aumentar esse número até o final da edição de 2023, que termina no final de agosto. Durante a visita, os moradores são alertados sobre a tecnologia de monitoramento via satélite para identificação da origem do fogo e recebem a orientação de que até o dia 30 de outubro é estabelecido o período considerado “fogo zero”, por força da portaria de suspensão de queima controlada (AQC) 101 de 2023, emitida pelo Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins).
Para a realização deste trabalho de prevenção, as equipes contam com a utilização do aplicativo ODK Collect que já registra cerca de 16.400 pessoas alcançadas até o momento na edição 2023, em 2036 propriedades rurais, além de 28 ações realizadas como palestras, cursos e treinamentos.
O tema é alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança do Clima e ODS 15—Vida Terrestre.
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