Se você costuma acompanhar perfis literários,  já deve ter esbarrado em “Torto Arado”. Alguns classificaram o livro como “o novo clássico da literatura nacional”. Depois de tantas indicações, não teve jeito, o coloquei na minha lista. Após concluir a leitura, o pensamento não era outro: por que não o li antes?

O escritor Itamar Vieira Júnior é um autor baiano nascido na capital Salvador e responsável por obras como “Dias” (2017), “A oração do carrasco”, do mesmo ano e finalista do Prêmio Jabuti e mais recentemente, “Salvar o fogo” (2023).

O livro

“Torto Arado” é resultado de um trabalho intenso de anos de pesquisas. Isso porque o autor também é professor universitário e, durante o doutorado, pesquisou especificamente sobre populações quilombolas presentes na região nordestina.

“Sobre o que é o Torto Arado?”, me perguntam sempre que indico o livro para alguém por perto. A resposta nunca é curta, e sob o meu ponto de vista, não tem como ser. Por isso, neste texto resolvi deixar a obra falar “por si só”, com cinco citações que apresentam “um pouco” do “tudo” que Itamar Vieira constrói.

As irmãs

“Foi assim que me tornei parte de Belonísia, da mesma forma que ela se tornou parte de mim. (…) assim que crescemos, aprendemos a roçar, observamos as rezas de nossos pais, cuidamos dos irmãos mais novos. Foi assim que vimos os anos passarem e nos sentimos quase siamesas ao dividir o mesmo órgão para produzir os sons que manifestavam o que precisávamos ser.”

A família

“Aprendia que tudo estava em movimento – bem diferente das coisas sem vida que a professora mostrava em suas aulas. Meu pai olhava para mim e dizia: “O vento não sopra, ele é a própria viração”. E tudo aquilo fazia sentido. “Se o ar não se movimenta, não tem vento, se a gente não se movimenta não tem vida”, ele tentava me ensinar.”

A terra

“Havia sido parido pela terra. Achava engraçado vê-lo utilizar essa imagem para afirmar sua aptidão para a lavoura. Nunca havia pensado que tinha sido parida pela terra. A terra paria plantas e rochas. Paria nosso alimento e minhocas. Às vezes paria diamantes, escutava dizer.”

As disputas

“Aquela fazenda sempre teria donos e nós éramos meros trabalhadores, sem qualquer direito sobre ela. Não era justo ver Tio Servó e os filhos crescendo espantando os chupins das plantações de arroz. Não era justo ver meu pai e minha mãe envelhecendo, trabalhando de sol a sol, sem descanso e sem qualquer garantia de conforto em sua velhice.”

A cultura

“Meu pai, quando encontrava um problema na roça, se deitava sobre a terra com o ouvido voltado para seu interior, para decidir o que usar, o que fazer, onde avançar, onde recuar. Com um médico à procura do coração.”

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU): ODS 4 – Educação de Qualidade.

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