Jovens aprendizes da Renapsi do Polo de São Paulo têm aprendido na prática o que é consumo sustentável. Uniformes já utilizados, sem condições do uso cotidiano, em vez de serem descartados, ganham novo significado e longevidade. As peças são transformadas em itens para enxovais de recém-nascidos.

No dia 16 de fevereiro deste ano, o polo doou para o Grupo Noel 748 camisetas que eram utilizadas por aprendizes. São peças que já não poderiam ser usadas no dia a dia dos jovens, e que ao final do contrato são devolvidas por eles.

O Grupo Noel é uma entidade filantrópica, situada em São Paulo, sem fins lucrativos, que recebe diferentes tipos de doações e ajuda pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Uniformes se tornaram artigos para bebês. Foto: Mônica Meira.

A analisa psicossocial do Polo da Renapsi de São Paulo, Mônica Meira, explica que buscava uma saída sustentável para os uniformes usados, de tal forma que pudessem ser reaproveitados, mas descaracterizando a identidade visual da camiseta.

Jogar fora, nem pensar; Em contato com a área de assistência social do Grupo Noel, Mônica conheceu o trabalho desenvolvido em especial por um grupo de senhoras que carinhosamente são chamadas de Abelinhas.

Trata-se de um projeto em que elas costuram e customizam várias peças de roupas, uniformes, tecidos, ou ainda fazem a transformação para enxovais de primeiras necessidades para recém-nascidos, incluindo roupinhas de bebês, mantas, mijõezinhos, entre outras peças.

“Eu já conhecia o Grupo Noel de outros momentos, mas não conhecia o trabalho do projeto Abelinhas. Quando fui lá para conhecer o trabalho, parte da equipe, elas estavam fazendo uma manta com o uniforme de uma organização que também tinha doado, e estava descaracterizada, bonita”, contou Mônica.

Campanha

Após conhecer o trabalho das Abelinhas e descobrir que as camisetas poderiam ser transformadas e ser úteis para outras pessoas, Mônica explicou que uma campanha foi iniciada com os jovens.

“Quando eu estava pensando no projeto e conversando, a gente fez uma campanha para devolução dos uniformes. O jovem termina o contrato, devolve o uniforme, tem um desgaste, uma mancha, em que a gente precisa fazer a troca, e às vezes vem a fala: “ah eu preciso jogar isso no lixo”. E falamos que isso pode ser de uso para outra pessoa, conversando com os jovens no dia a dia”, disse.

Mônica Meira é analista psicossocial da Renapsi.

De acordo com Mônica Meira, foi pedido aos jovens que levassem o uniforme antigo e aos poucos, eles começaram a se interessar pela ação.

A analisa psicossocial avalia que o ganho que houve diferentes ganhos. Para a Renapsi, pois o material não seria mais descartado e sim doado. Para os jovens, que tiveram um ensinamento prático sobre consumo sustentável e solidariedade, para as Abelinhas do Grupo Noel que receberam um material que foi transformado, e por fim, para assistidos que serão contemplados com as peças ressignificadas.

Adesão

Duas aprendizes participaram ativamente do projeto. Elas são jovens da Renapsi e também trabalham na instituição. Letícia Silva Souza e Bárbara Caroline E Silva, ajudaram a receber as camisetas dos colegas, fazer uma triagem, organizar para deixar tudo encaminhado para que as peças fossem levadas para o Grupo Noel.

Letícia explicou que ficou bem animada ao saber o motivo da separação das camisetas dos jovens. Ela entende que a iniciativa é importante, pois reflete na ajuda ao próximo.

“Porque a gente sempre pode ajudar o próximo, se a gente para pra pensar, muita gente precisa da nossa ajuda e a gente não enxerga, e achei a iniciativa muito importante”, destacou a aprendiz.

A jovem argumentou que qualquer roupa doada é importante, pois ajuda a construir uma nova história para a pessoa que for receber. Para ela, os colegas precisam refletir.

“Eu acho muito importante porque a gente faz uma reflexão, somos uma classe média, temos tudo de mão beijada e é importante mostrar estes valores, e não só com o uniforme, mas o jovem sentir no coração e levar uma roupa que não usa mais e ajudar outras pessoas”, relatou.

Bem ao próximo

Já Bárbara Caroline destaca que também participou da ação e conta que alguns colegas estavam com vergonha de devolver o uniforme, pois estava manchado.

Vejo como uma coisa boa para se fazer as pessoas. Algo que iria para o lixo, se torna algo bom para outras pessoas, uma roupa, que ela talvez não iria ter. São uniformes que poderiam ser jogados fora e que transformam vidas.

Bárbara e Letícia aprendizes da Renapsi.

“Com certeza, haviam jovens que chegavam com a roupa manchada e dizia que jogaria fora, pra ele não tinha mais utilidade, o que fazer. A Mônica também nos orientou e é algo bacana de se fazer para as pessoas, roupas que as pessoas jogavam fora e que agora são transformadas”, afirmou.

Bárbara disse ainda que o trabalho contagiou, ela pretende separar roupas que não utiliza mais e também doar para pessoas ou instituições.

“Eu acho que a gente incentiva bastante as pessoas a serem mais cordiais. Eu aprendi que eu tendo uma roupa eu posso doar, não só pra Abelhinhas, mas para qualquer instituição que esteja arrecadando roupas para fazer uma coisa boa e acredito que as pessoas aprenderam com essa oportunidade”, declarou.

Abelinhas

Como vimos acima, as 748 camisetas dos jovens aprendizes foram repassadas ao Grupo Noel. A diretora de Assistência Social do Grupo Noel, Adriana Pires, explica que a instituição foi fundada em 1977 e, desde então trabalha com projetos sociais.

Grupo de “Abelinhas” do Grupo Noel. Foto: Mônica Meira.

O símbolo da instituição é uma colmeia, daí o nome “Abelinhas”, para as operárias que trabalham de forma voluntária recebendo o material e dando novo significado.

“A gente tem frentes de trabalho, algumas ligadas a área da saúde, gestantes, orientação jurídica, e para manter a casa começamos a desenvolver bazares, feiras, produtos de enxoval, e sempre contando com o trabalho das costureiras, nossas Abelinhas. Tudo isso para mover recursos para manutenção da casa e dos trabalhos assistenciais”, disse.

Enxoval feito pelas Abelinhas. Foto: Mônica Meira.

Bazar

Hoje o grupo de “Abelinhas” é composto por aproximadamente 50 senhoras. Cláudia Pennachin trabalha diretamente com elas, atuando na área de Assistência Social.

Cláudia explica que no próximo dia 07/05, haverá o Bazar das Mães, em que as Abelinhas terão oportunidade de expor produtos que serão comercializados a preço de custo.

“Tudo o que a gente produz, sempre a preço de custo. Toalhas, mochilas, colchas, gorro com cachecol, roupas de frio, panos de prato, tudo isso para ser revendido. As ações são bem-vindas. As Abelinhas fazem questão de vender, de mostrar o trabalho que estão produzindo, será um dia de festa. Ele vai ser dia 07/05 das 10 às 16 horas. A gente sugere como entrada 1 kg de alimento não perecível”, explicou.

Alcance

Luciana Luz sabe da importância das doações, como a realizada pela Renapsi, aliada ao trabalho do Grupo Noel. Hoje ela é assistente social e a Mônica conheceu o trabalho das Abelinhas por meio dela. Luciana explicou que antes de ajudar precisou ser ajudada.

O Grupo Noel a acolheu em um momento de dificuldade na vida dela. Luciana conta que foi assistida e hoje auxilia outras pessoas.

“Eu vim quando a minha filha nasceu e aí recebi esse carinho e amor. Fui acolhida no último dia de atendimento em 2014. Cheguei preocupada com a saúde da minha filha, passei por assistente social, consulta, recebi o remédio que minha filha precisava e quando comecei a frequentar e passei observar o trabalho realizado e você sente o cuidado, o amor e você sente, é impossível não sentir”, relatou.

O Grupo Noel recebe doações em espécie, produtos de cesta básica, higiene e limpeza, roupas, em geral, novas e usadas, lençol, toalha, também, roupas de bebês novas e usadas, trabalhos artesanais, alimentos. Tudo isso contribui para a assistência de pessoas em situação de vulnerabilidade social. E ações sustentáveis como a da Renapsi são relevantes.

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