Juscileia de Carvalho e Silva é atleta de parabadminton. Esta simples frase reflete um caso de amor entre a paratleta e a modalidade. A relação começou recente, há apenas dois anos. E, os resultados são bem expressivos. Juscileia já alça voos nacionais e internacionais e ainda em 2023 pode ser coroada com a participação no Parapan.

A atleta tem sido fonte de inspiração para jovens. Juscileia tem uma trajetória marcada por obstáculos, mas também por superação, força de vontade, persistência e foco.

“Foco, fé e determinação, se você tiver essa meta, você conquista, eu estou nesta fase, sei que para alcançar vitórias tem muito trabalho, tudo é muito gratificante, mas tudo é muito treino. Então o recado que deixo é que persistem, não desistam”, declarou.

Juscileia em competição internacional em abril de 2023.

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Superação

Aos 15 anos de idade, Juscileia teve uma Mielite transversa aguda, um distúrbio neurológico, marcado por inflamação focal que, em geral, atravessa os dois lados da medula espinhal, uma das estruturas que compõem o sistema nervoso central (SNC). Juscileia ficou paraplégica.

“Aos 15 anos tive uma mielite transversa na medula, uma lesão medular, esse foi o motivo no qual estou paraplégica, tenho uma lesão medular. Passei por um processo de reabilitação, adaptação em cadeira de roda”, conta.

Durante o tratamento, Juscileia foi encaminhada para atividades esportivas, uma forma de adaptar as condições motoras, além de um incentivo para continuar em frente.

“Desde então, comecei a ver o mundo de uma forma diferente, ver com possibilidades novas, dá pra viver, tranquilo, trabalhar, estudar, curtir e hoje eu trabalho, estudo, eu curto, sou atleta, faço tudo”, disse.

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Trabalho

Juscileia tem 30 anos de idade e mora em Recanto das Emas, cidade administrativa do Distrito Federal. Ela é aprendiz da Renapsi e faz parte do programa Jovem Candango. Juscileia além de mandar muito bem nas quadras, atua com precisão fora delas.

Ela trabalha na Secretaria de Esportes do Distrito Federal e atualmente suas funções estão ligadas ao projeto: Educador Esportivo Voluntário. A ação beneficia mais de 12 mil pessoas, entre professores e alunos. O projeto é voltado para educadores que atuam em comunidades locais

Medalhas que Juscileia conquistou em participações em diferentes competições.

A atleta conta que sempre foi ligada ao Esporte, e trabalhar diretamente com educação, a partir de projetos de iniciação e assistência, ajudou a se sentir em casa.

“Por incrível que pareça, caí no local que eu sinto que é minha casa. Já sou ligado ao esporte desde sempre. Eu fui parar direto na Secretaria de Esportes, no qual veio o amor de primeira”, disse.

Juscileia está no seu segundo ano no programa Jovem Candango. Ela passou por outras áreas na pasta do Esporte, colaborando no Bolsa Atleta e também no PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil).

“É muito importante porque é algo que sempre fiz, integrar projetos sociais, e vim parar neste projeto de incentivo e reinserção de jovens e trazê-los para o mundo do esporte, convívio familiar, sou muito grata pela oportunidade”, relatou.

Juscileia ao lado dos colegas de trabalho na Secretaria de Esportes.

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Juscileia e o Parabadminton

Entre a ocorrência da Mielite transversa aguda, e a chegada até o Parabadminton, Juscileia percorreu alguns caminhos. Ela começou no halterofilismo, mas não se identificou e depois seguiu para o Atletismo, mas também não se identificou.

“Eu já vendo já os esportes olímpicos e paralímpicos já tive experiências anteriores. Comecei com o halterofilismo, não me identifiquei. Já tentei o Atletismo, comecei mas também não me identifiquei e não tinha aquilo por amor, e paixão”, relatou.

Há cerca de dois anos, Juscileia conheceu o Parabadminton. Um professor a convidou para fazer um teste, ela abriu o coração, se animou e não deu outra. Deu Match!! Pode ser um encontro na linguagem da web ou no sentido literal na tradução do inglês, competição entre dois adversários.

“E aí me apresentaram o Parabadminton, eu fiz um teste para ver o que dava, e, hoje estou nesse esporte, gera adrenalina, o coração acelerado, o sangue em quadra, é o que gosto. Eu sou muito de correr, lutar e isso me mantém inteira, com disposição na modalidade”, afirmou.

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Crescimento

Após o encontro com o Badminton, Juscileia começou a participar de competições locais e nacionais. Em menos de dois anos, já começaram a pintar os resultados expressivos, como dois terceiros lugares em etapas do campeonato Brasileiro, uma no ano passado, e outra neste ano.

“Acho que sou muito competitiva e em quadra, tem esse lance, é você e seu adversário, de você brigar por aquele resultado, dar o seu máximo, pois só depende de você. É isso que acho bacana!. Em grupo você trabalha muito com a equipe e no badminton você tem a parte que é você, sua cabeça, sua técnica, o seu desempenho em quadra. E pensei, é isso que quero fazer!”, relatou.

Juscileia também conquistou a terceira colocação em etapas do Campeonato Brasileiro do ano passado.

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Internacional

Em abril deste ano, Juscileia participou de um campeonato internacional sediado no Brasil que contou com 36 federações nacionais. Para ela, uma grande oportunidade de se encontrar com referências no esporte, principalmente asiáticos.

“Os melhores do mundo estavam ali, japoneses, coreanos que são campeões olímpicos e paralímpicos. A gente viu que dá pra chegar lá. Tive partidas com bom nível técnico, venci uma americana, de uma australiana, passei de fase, cheguei as oitavas e perdi para uma japonesa, então, estou no caminho certo”, afirmou.

Com o resultado no torneio, Juscileia tem boas chances de participar do Parapan. Juscileia explicou que hoje o Parabadminton é uma modalidade paralímpica. Para os jogos paralímpicos de 2024, as chances são remotas de chegar até lá.

Mas para 2028, Juscileia sonha marcar presença. Até lá, há outros desafios, entre eles o Parapan previsto para o mês de novembro, no Chile.

“Quando você vê a galera que tá lá em cima, no topo jogando, você tem uma visão diferente. É assim que eu tenho que trabalhar, é assim que eu tenho que melhorar, seus ídolos, os melhores do mundo estão jogando, olha como é a rotina de treino, como ele faz para melhorar, eu acho que é isso que a gente precisa melhorar, pois a modalidade aqui no Brasil está na fase crescente”, avaliou.

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O que é a modalidade?

O parabadminton é um esporte jogado com raquete e peteca que, em seu formato paralímpico, é praticado por atletas com deficiência física, intelectual e surdos.

A modalidade é disputada em uma quadra retangular; As dimensões variam de acordo com as classes; A referência é a utilização das marcações de uma quadra oficial de badminton.

O jogo é disputado em melhor de 3 games de 21 pontos, vence quem ganhar 2 games. Existem 5 formas de disputas: simples (individual) masculina/feminina, duplas masculina/feminina e dupla mista.

Para se fazer o ponto é necessário que a peteca toque o chão da quadra do adversário ou que ele cometa um erro, como jogar a peteca para fora da quadra.

Juscileia ao lado de integrantes da equipe de Parabadminton

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