“A Universidade da Maturidade trouxe renovação para minha vida, uma sensação de vitalidade. Minha fé na vida foi renovada aqui” – esse é o sentimento da dona Margarida Corrêa, de 67 anos, uma das alunas da Universidade da Maturidade (UMA), projeto desenvolvido pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) que impacta a vida de pessoas idosas no estado desde 2006.
Idealizado como um projeto de extensão da UFT, a UMA atende hoje 800 alunos com idades acima de 45 anos em sete cidades tocantinenses (Araguaína, Dianópolis, Palmas, Paraíso do Tocantins, Porto Nacional, Palmeirópolis e Tocantínia), além do polo de Campo Grande, instalado em parceria com a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
“Esse projeto transformou minha vida em tudo, na educação, nos amigos. Aprendi a conviver, aprendi várias coisas que eu não sabia, principalmente o Estatuto do Idoso. A gente estudou e saiu da rotina de uma vida sedentária, de uma vida de comodidade que estava em casa. Me tornei mais ativa. É como se eu estivesse vivendo plenamente”, completou dona Margarida.
O coordenador da UMA, professor Dr Luiz Sinesio Neto explica que a turma inicial contemplava 56 idosos em Palmas e que nos 17 anos de atividades, 6.500 alunos já foram atendidos pela tecnologia social no país.
“Podemos com clareza afirmar que a UMA surpreendeu a todos, se tornou um projeto acolhido por toda a população tocantinense e dessa maneira se configura no maior movimento social articulado do Tocantins. São 17 anos impactando positivamente a vida das pessoas. Nos dá orgulho e uma responsabilidade imensa frente aos novos desafios. A UMA é referência em educação para idosos”, reforçou.
Educação na melhor idade
Com aulas no período da tarde e encontros que vão de duas a três vezes semanais, a UMA trabalha sob duas perspectivas principais: educação em saúde na maturidade, com atividades voltadas para as questões de saúde e autocuidado, assistidas por equipes multiprofissionais; e educação ao longo da vida, abordando temas como direito do idoso, tecnologias do cotidiano e sustentabilidade.
Aos 71 anos, o aposentado José Maria Câmara Leão, viu na UMA a oportunidade de fazer novos amigos, mas também de se preparar para a próxima etapa da vida.
“A UMA me proporciona a oportunidade de fazer novos amigos, e me oferece aulas que contribuem para o meu enriquecimento pessoal e preparação para essa fase mais avançada da vida, que é a velhice. Eu era triste, desanimado com a vida, e a UMA me trouxe alegria – eu me sinto feliz aqui dentro. A interação com os colegas de aula, os abraços e a sensação de pertencimento fazem parte do que torna a UMA tão especial”, pontuou.
O curso da UMA é totalmente gratuito e para ingressar é necessário ter idade igual ou superior a 45 anos: e disposição, segundo a coordenação. Não é necessário, no entanto, ser alfabetizado. O período de ingresso varia de acordo com o polo. Não há duração específica para o curso e os acadêmicos podem permanecer enquanto for adequado. “Na UMA, só há porta de entrada”, afirmam os responsáveis pelo projeto.
Integração com a comunidade
Um dos objetivos da UMA é promover a integração dos idosos com os alunos de graduação, construindo um espaço de união entre as gerações e fortalecimento do respeito, em prol de uma sociedade mais justa e que respeite as diferenças.
“A UMA também é um espaço onde os acadêmicos e os familiares passam a ter uma nova visão sobre a velhice, sabendo dos seus direitos e deveres. O projeto leva os acadêmicos a terem uma vida mais ativa, sem preconceitos em relação a velhice e as novas gerações”, reforçou o coordenador do projeto.
Raimunda Amaro conta que foi incentivada pela família a ingressar na UMA e que passou a se sentir melhor desde que faz parte da Universidade.
“Foi minha nora que me incentivou a me matricular na UMA, como eu moro sozinha ela disse que aqui seria um local onde eu iria fazer novas amizades e acabar um pouco com a solidão. Então vim pra cá, gostei e acabei ficando. Pois quando a gente está em casa, fica desanimado, sem fazer nada. Mas aqui, na UMA, a gente tem muitas atividades para fazer. Quando estou aqui, não sinto aquele vazio, me sinto viva, feliz e capaz de fazer o que eu quiser”, relatou a aposentada de 69 anos.
No caminho de fortalecer a integração com a comunidade, a UMA desenvolve uma série de atividades como como apresentação de peças de teatro dos acadêmicos em shoppings, praças e eventos públicos. Além disso, os acadêmicos participam de atividades em escolas falando sobre a velhice para crianças e adolescentes e a Universidade se apresenta como um espaço onde a comunidade pode participar através de voluntariado e é ainda local de pesquisas sobre o envelhecimento humano.
O coordenador da Universidade da Maturidade, professor Dr. Luiz Sinesio Neto afirma que o sentimento de transformação relatado pelos alunos é o termômetro do projeto.
“A nossa principal avaliação se o programa está funcionando é dessa maneira, se está mudando a vida das pessoas e proporcionando mais qualidade de vida a elas. A UMA é exemplo de que a educação transforma vidas. Seu impacto é na saúde física, mental e social. Todas essas afirmações possuem confirmação com base em pesquisas desenvolvidas no programa”, afirmou.
Reconhecimento
Na última semana, a Universidade da Maturidade foi agraciada com o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação concedido pela Câmara dos Deputados desde 1998 a trabalhos ou ações mereceram especial destaque na defesa e promoção da Educação no Brasil.
“O prêmio Darcy Ribeiro é o coroamento de um trabalho sério, sistemático, organizado e feito com muita dedicação e conhecimento. Pela primeira vez na história do prêmio um projeto para idosos é agraciado, primeira vez que o prêmio vem pro Tocantins e UFT. Uma verdadeira honra. Podemos nos orgulhar do que fizemos”, afirmou o coordenador da UMA.
O prêmio consiste na concessão de diploma de menção honrosa e outorga de medalha com a efígie do homenageado e a cerimônia de entrega está prevista para o dia 24 de outubro em Brasília.
A Universidade da Maturidade já esteve presentem em outras cidades tocantinenses, além de estados como a Paraíba, Paraná, Amapá e Distrito Federal. Atualmente está prevista a expansão para os municípios tocantinenses de Cariri do Tocantins, Gurupi, São Sebastião do Tocantins e Tocantinópolis. O projeto é desenvolvido com recursos próprios oriundos de emendas parlamentares e trabalha também em parceria com as gestões municipais.
O tema é alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), ODS 3 – Saúde e Bem-Estar e ODS 4—Educação de Qualidade.
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