Neste sábado (24) Goiânia completa 87 anos de existência. Inicialmente a cidade foi planejada para 50 mil habitantes, mas hoje é uma grande metrópole com população próxima de um 1,5 milhão de pessoas.

Inicialmente, Goiânia teve origem no Plano Diretor elaborado pelo arquiteto Atílio Corrêa Lima, na década de 30, do século passado, e se inspirou, então, em concepções avançadas para criar uma cidade moderna e planejada, como uma espécie de ponta de lança da interiorização do Brasil.

No entanto, com quase 90 décadas de existência, a jovem senhora Goiânia sofre com problemas de ordenamento urbano. Mas o que será da capital no futuro? Qual a cidade que queremos?

A coordenadora da Comissão de Política Urbana e Ambiental do Conselho de Arquitetura e Urbanismo, o CAU-GO, Maria Ester de Souza, avalia que para pensar no futuro da cidade é preciso considerar o cenário da pandemia da Covid-19.

Para ela, uma cidade no porte de Goiânia precisa rever prioridades de investimentos, integrando o cidadão a espaços que possam proporcionar um bem estar.

“Uma cidade do porte de Goiânia, capital de uma região metropolitana, no futuro precisa rever suas prioridades de investimento. Nós somos o centro polarizador de uma série de serviços, de base logística para muita coisa acontecer na região metropolitana. A gente precisa estabelecer uma nova relação com as nossas áreas verdes, nossos córregos, com a construção dessa malha viária logística que a gente tem aqui, porque senão a gente vai repetir erros que outras cidades grandes repetiram, abrindo mais espaço para os carros, sem considerar essas estruturas naturais e tão importantes”, afirma.

Um dos pontos de integração que estão sendo estudados por empresas é a transformação de espaços urbanos destinados a carros para pedestres. Em Goiânia, um tradicional local do tipo é a rua do lazer, no Centro de capital. O engenheiro e gerente de desenvolvimento imobiliário do Grupo Toctao, Rafael Roriz, diz que o futuro da cidade passa por uma nova contextualização, fazendo as pessoas terem mais prioridade do que os carros.

“Muitos técnicos nem contabilizam que a caminhada a pé faz parte da mobilidade urbana. Eles puseram só a questão do carro, transporte coletivo. A partir do momento que você faz esse incentivo de as pessoas caminharem, tem que ter uma iluminação bacana, oferecer serviços, segurança, ter um lugar gostoso para sentar. Goiânia é uma cidade muito quente, tem que pensar em uma sombra”, enumera.

Uma das questões do futuro de Goiânia é o Plano Diretor que trata de pontos de planejamento da cidade para os próximos 10 anos. A revisão do plano deveria ter sido encaminhada à Câmara em 2017, mas só foi em 2019 e foi retirado de pauta pela prefeitura, após mais de 100 emendas apresentadas pelos vereadores na Comissão Mista da Câmara. A conselheira do CAU Goiás, Maria Ester de Souza avalia que a sociedade precisa se sentir representada no plano.

“O plano diretor é uma ferramenta muito importante para o planejamento da cidade, futuro e do que seria a possibilidade das pessoas na cidade. Eu diria que ainda é muito usado como ferramenta política”, afirma. “O plano diretor precisa começar a ser implantado, pensado e trabalhado com outra metodologia”, analisa.

Nos 87 anos, Goiânia a cada dia constrói e reconstrói, sua população se organiza e se reorganiza. Seus caminhos são assinalados por demandas, por escassez de recursos, por interferências internas e externas, pelo controle social sobre as políticas públicas, tudo isso na busca não só do desenho urbano, mas do equilíbrio das funções, enquanto espaço e lugar de convivência humana.