Quem nunca sentiu uma sensação de alívio ao pisar na grama depois de um longo tempo dentro de casa, pisando em chãos frios e sem muito contato com a natureza? Essa percepção pode ser explicada pelo fato de sermos, sim, parte da natureza, e não um ser destacado do ambiente natural.

“A gente se coloca muito separado da natureza e precisamos buscar recursos para reconectar. Essa conexão, na verdade, mostra que a gente nunca se desconectou. Nós somos natureza”, explica a bióloga Thalita Campbel, especialista em Ecologia.

Thalita Campbel é bióloga especialista em Ecologia. (Imagem: Sagres TV)

Conforme Thalita, essa sensação de bem-estar sempre que estamos em um ambiente natural é motivo de diversas pesquisas. Um exemplo disso é um estudo publicado na revista de saúde pública Health & Place, que apontou que os níveis de estresse reduzem quando vivemos perto da natureza.

“O hormônio do estresse diminui quando estamos em um ambiente natural, os batimentos cardíacos reduzem a frequência, a nossa pressão [arterial] melhora. Então, temos vários benefícios orgânicos e sistêmicos por estarmos na natureza justamente porque somos natureza”, ressalta a bióloga. 

Relação com a comunicação

E como relacionar natureza e comunicação, principalmente em benefício das pessoas e do meio ambiente? Para o professor e doutor em Administração de Empresas, Hélder Antônio da Silva, o uso da biomimética na comunicação traz às pessoas, além de bem-estar, mais confiança. 

A biomimética é a ciência que cria processos e tecnologias para os seres humanos inspirados no funcionamento da natureza. Algo que podemos exemplificar é a construção do avião, que foi inspirado no voo dos pássaros. 

Hélder Antônio da Silva é professor e doutor em Administração de Empresas. (Foto: Arquivo pessoal)

“É trazer um bem-estar à pessoa ao olhar aquela marca e relembrar que a organização trabalha com sustentabilidade. Em primeiro momento, isso fixa uma imagem bonita e, no segundo momento, eu confio nessa marca porque ela desenvolveu um produto em cima da sustentabilidade”, destaca o professor. 

Apesar de a biomimética na comunicação e no marketing ainda serem considerados embrionários no Brasil, algumas marcas já trabalham com esse tipo de diálogo com a população e os consumidores. 

“Fred Gelli foi uma das pessoas que criou a logomarca das Olimpíadas do Rio de Janeiro, de 2016. Ele criou inspirado em imagens principalmente do Pão de Açúcar do Rio. Ele trouxe a biomimética para dentro das logomarcas e a gente começou a perceber essa relação com outras marcas de longas datas”, cita Hélder Antônio. 

Logomarca das Olimpíadas do Rio de Janeiro, de 2016. (Foto: Divulgação)

Em Minas Gerais, por exemplo, existem parques e unidades de conservação que têm em seu logo elementos naturais ou animais. “Esse é o grande barato da biomimética na área do marketing, porque traz vida, a questão do meio ambiente, que faz bem, e traz felicidade ao ver”, reforça o doutor.

Além disso, outros projetos que utilizam em sua divulgação algum animal em extinção ajudam a conservar espécies. “Um exemplo disso é o Projeto TAMAR. A logomarca deles é a tartaruga-marinha e está até hoje, é um sucesso de preservação da espécie, mas eles trabalham muitas outras coisas também”, comenta Hélder. 

Logomarca Projeto TAMAR. (Imagem: Divulgação/Facebook)

Comunicação sensorial

Assim como os seres humanos se comunicam por variadas formas, como na oralidade, por meio do comportamento e de maneira escrita, os animais também têm suas comunicações específicas e padronizadas. De acordo com Thalita Campbel, alguns desses padrões podem ser identificados em sons emitidos por golfinhos, que contêm a ecolocalização, e na comunicação das abelhas, que podem informar ao restante da colmeia qual sua direção, distância e quantidade de recursos.

“Pensando em comunicação, a natureza pode trazer de inteligência essa comunicação multisensorial. Muitas vezes a gente limita à verbal e visual, mas a natureza expande essa interpretação do que é comunicação, como a mudança da cor das folhas ao longo do ano. Aí a gente consegue fazer uma leitura de ciclos, da passagem do tempo”, argumenta a bióloga. 

Neste caso, o marketing já utiliza uma espécie de comunicação sensorial para atrair e fidelizar clientes. Chamado de Marketing de Experiência, a estratégia engaja as pessoas devido à criação de experiências inovadoras e memoráveis. Isso tudo envolve o consumidor de forma emocional e física, por gerar diferentes estímulos sensoriais. A partir daí é estabelecido o vínculo entre comprador e marca. 

Uma referência nesse sentido é a compra de um produto que você já conhece pela internet. Por estar familiarizado com a loja física, você reconhece o aroma, a temperatura do local, o ambiente e recebe determinado tipo de tratamento. Se você realiza a compra pela internet, o marketing de experiência traz todo esse conforto da loja física para dentro da sua casa.

Então, a embalagem vem com tecidos ou texturas que te lembre a loja, assim como o aroma, entre outros aspectos. Em alguns casos, os consumidores recebem até cartas afetivas que ativam o emocional e os lembram de como é o tratamento na loja física. 

Confira a reportagem na íntegra:

Na próxima semana, você verá como esse assunto se conecta com a Sustentabilidade.

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