De acordo com pesquisa divulgada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), saúde das comunidades rurais pode ser afetada devido a contaminação presente em poços tubulares, poço raso escavado e nascente e mananciais superficiais. Pesquisa constatou ainda que água presente em fontes mais profundas também apresentam contaminação.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o saneamento básico aparece como agente fundamental para a promoção da saúde, além do bem-estar social e mental. Assim, a contaminação da água nas zonas rurais recebe classificação como um problema de saúde pública.
“Nas comunidades rurais há uma ausência de condições de saneamento básico e de saúde ambiental para as próprias comunidades, tanto rurais quanto tradicionais”, afirma a pesquisadora Graziela Bordoni.
Pesquisa
O estudo associado ao Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás (IPTSP/UFG), fez parte da dissertação apresentada por Bordoni. Após avaliar amostras retiradas de 23 comunidades rurais no estado, foi possível identificar um percentual preocupante de contaminação. Cerca de 30% da água consumida por essas comunidades está contaminada.
“A pesquisa surgiu devido a presença dos vírus em redes de distribuição e tratamento de água, o que é uma preocupação a nível Brasil. Dependendo do tipo viral, o vírus é resistente a certos tratamentos de água”, explica Graziela, que tem como formação inicial, a graduação em Biomedicina.

Doenças de veiculação hídrica são causadas por microrganismos patogênicos, como bactérias e parasitas. De acordo com a pesquisadora, após análise das amostras, foi possível registrar o risco para desenvolvimento de doenças infecciosas nas populações das comunidades.
Nos resultados da pesquisa, 20% dos vírus identificados eram de rotavírus, 9,4% de adenovírus humano e 4,4% de enterovírus.
Saúde
“O risco do consumo de água contaminada é grande e depende do conteúdo que está naquele líquido”, explica a médica gastroenterologista Rita de Cassia Silva, membro da Federação Brasileira de Gastroenterologia. Ela explica que os tipos de contaminação são variados, como advindos de metais pesados, agrotóxicos ou bactérias e microrganismos.
“Geralmente o trato gastrointestinal é um dos primeiros a sofrer as agressões dessas substâncias, pois o nosso tubo digestivo é o primeiro a ter contato”, destaca. Além disso, ela cita as chamadas desordens gastrointestinais, como cólicas abdominais, estufamento, vômitos e diarréias.
No entanto, a especialista pontua o risco para outros sistemas do corpo humano. Nesse sentido, no caso de metais pesados e agrotóxicos, as intoxicações podem gerar danos a longo prazo. Segundo ela, alguns exemplos são a intoxicação por mercúrio, chumbo ou por agrotóxicos. Nesses casos, se eleva o risco para doenças oncológicas e outros tipos de doenças crônicas.
Vulnerabilidade
“Geralmente as pessoas mais vulneráveis são as que possuem um sistema imune mais limitado, como crianças abaixo de dois anos de idade e pessoas idosas”, explica a especialista.
Ademais, a gastroenterologista ressalta que no caso de indivíduos com doenças pré-existentes, é possível que haja danos mais significativos após a ingestão de água contaminada.
“O paciente diabético por exemplo tem uma imunidade alterada”, explica a especialista. Nesses casos, a médica ressalta que sintomas podem ser mais intensos. Além disso, ainda há o risco de doenças pré-existentes serem agravadas.
“Quem tem cálculo renal, após consumo de água rica em manganês por exemplo, pode ter uma piora do quadro”, exemplifica.
Comunidades
“As políticas públicas devem compreender que as comunidades realmente podem estar em risco”, alerta a pesquisadora. “Elas devem encontrar maneiras alternativas e melhores soluções em relação ao tratamento. Tratamento de água, de esgoto e realmente levar novas tecnologias para essas comunidades”, completa.
A coleta de amostras se deu durante o período pandêmico e segundo Graziela, à medida que os resultados da pesquisa foram sintetizados, autoridades políticas eram contatadas. Dessa forma, a equipe envolvida com o projeto organizou encontros com secretarias de saúde para apresentação das conclusões.

“O projeto conversa com os gestores de saúde e da secretaria do município.Existe essa devolutiva para auxiliar na tomada de resoluções em relação àquele problema”, ressalta.
De acordo com Graziela, para além das medidas para promoção de tratamento adequado dos recursos hídricos, é preciso que haja de maneira simultânea investimentos em hospitais, postos de saúde e na atenção à saúde pública.
Procedimentos
“A depender de qual contaminante está na amostra, temos uma conduta para tentar fazer a descontaminação dessa água”, explica a médica gastroenterologista Rita de Cássia Silva.
Diante do cenário observado pelo conjunto de pesquisadores, é esperado que novas medidas entrem em ação. De acordo com a especialista, certos níveis de contaminação podem ser revertidos, desde que haja a condução efetiva do conjunto de análises e avaliações.
“Pode-se usar filtros específicos para cada tipo de mineral, podemos fazer o uso de fervura para o extermínio de alguns vírus e bactérias e de outros mecanismos de descontaminação, desde que se conheça especificamente os agentes contaminadores”, finaliza.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 6 – Água potável e Saneamento e ODS 3 – Saúde e Bem-Estar.