Arthur Barcelos
Arthur Barcelos
Apaixonado por futebol e geopolítica, é o especialista de futebol internacional da Sagres e neste espaço tem o objetivo de agregar os dois temas com curiosidades e histórias do mundo da bola.

A Primavera Árabe do futebol

Talvez exceto apenas pelos argentinos, campeões mundiais, ninguém aproveitou tanto a última Copa do Mundo como os árabes. Sediado pelo Catar, o torneio foi o primeiro Mundial da Fifa realizado no Oriente Médio e, por algumas semanas, tornou Doha a capital do mundo árabe.

Marroquinos, tunisianos, sauditas e catarenses, ou mesmo egípcios e argelinos, que não foram representados por suas seleções nacionais na competição, agitaram as ruas e os estádios. O povo árabe ficou em evidência e se uniu em torno da bandeira da Palestina durante um dos momentos mais tensos do conflito com Israel.

“A Palestina é o 33º país na Copa do Mundo, a nossa causa e luta em todo o mundo árabe”, disse um marroquino à reportagem do New York Times. Até mesmo os iranianos – que têm origem persa – aproveitaram as câmeras de um dos maiores eventos esportivos do mundo para denunciar a opressão do seu governo.

Na mais extravagante e cara Copa do Mundo de todos os tempos, em que mais de R$ 1,2 bilhão foram gastos para a construção de estádios, hotéis e modalidades de transporte, o que parecia impensável se tornou real: a Fifa se curvou ao país sede. Isso diante de acusações de corrupção para a escolha da sede.

Pela primeira vez na história, um Mundial de futebol aconteceu no fim do ano, no meio da temporada europeia, ao invés do período tradicional, entre junho e julho. Diante de tanto poder e dinheiro, nem mesmo os graves problemas de direitos humanos do Catar apagaram os holofotes da competição.

A Copa de 2022 se tornou um dos maiores exemplos de sportswashing, com proporções ainda maiores às de Itália 1934, Argentina 1978 e Rússia 2018, e mostrou que o Mundial vai muito além de ser apenas um grande evento esportivo. Se tratou do mais importante capítulo do projeto do Catar, que ambiciona ainda mais.

Em contraste com os protestos do Ocidente, o emirado tem fortes laços com os governos americano, britânico, alemão e francês. A maior base militar dos Estados Unidos está no país, que é dono da terceira maior reserva de gás natural do mundo e tem sido uma alternativa para a crise energética na Europa.

Em meio a essas parcerias, o Catar mostra que não vai economizar dinheiro e esforços para ser protagonista na geopolítica mundial, e a realização de grandes eventos esportivos é um passo importante nesse caminho. O país, que já está no calendário da Fórmula 1 desde 2021, agora quer os Jogos Olímpicos de 2036.

Por diferentes motivos, Marrocos e Arábia Saudita também entraram na mesma onda do Catar e se tornaram o centro das atenções do futebol no último mês. Apaixonados pelo esporte, os marroquinos surpreenderam o mundo com uma campanha histórica e vão receber o Mundial de Clubes no próximo mês.

Com questões ainda mais graves do que as dos vizinhos, a Arábia Saudita também deseja maior protagonismo no cenário mundial e tem utilizado o esporte para isso. Recentemente, celebrou o que talvez tenha sido o último encontro entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, embaixadores do projeto para o país receber a Copa do Mundo de 2030.

O futebol é uma forma de expressão e um espaço para todos. Para o bem ou para o mal.

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