Estádio de futebol: palco capaz de proporcionar grandes emoções, que move multidões e atrai milhares de apaixonados.

Mas além de gols, o que mais os estádios são capazes de produzir? Construções imponentes, normalmente levantadas em grandes espaços abertos e com muita luz natural, os estádios têm uma utilidade que vai muito além dos dias de jogos.

Com esse pensamento, algumas arenas construídas ou reformadas para a Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil, tiveram suas estruturas exploradas para aproveitar um grande potencial energético do território brasileiro: a energia solar. Assista à reportagem a seguir

Embora seja uma prática ainda pouco explorada no país, por conta do alto custo e de investimentos sustentáveis tímidos na construção civil, grandes estádios nacionais já dispõem de usinas fotovoltaicas em suas estruturas e se tornaram importantes produtores de energia em seu entorno.

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Os mais de 6 mil painéis solares compõem a arquitetura do cobertura do Mineirão (Foto: Divulgação/Mineirão)
Gigantes sustentáveis

O maior exemplo vem de Minas Gerais: o Mineirão. Referência em sustentabilidade, o Gigante da Pampulha é o único estádio de futebol brasileiro que possui o selo platinum da certificação Leed, a mais alta classificação de incentivo à adoção de práticas de construção sustentável.

Dentre várias atividades e iniciativas em sua estrutura, o Mineirão conta com cerca de 6 mil módulos fotovoltaicos em sua cobertura, capazes de produzir, em média, 1.800 megawatt-hora/ano, o suficiente para abastecer mais de 1,4 mil residências.

Além de suprir a demanda energética dos eventos, a produção excedente da usina solar do estádio, construída em parceria com a Cemig, é injetada na rede de distribuição da concessionária para ser comercializada.

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Durante o Mundial de 2014, no duelo entre Colômbia e Grécia, em 14 de junho, pela 1ª rodada, o Mineirão se tornou o primeiro estádio a sediar uma partida do maior torneio de futebol do mundo operando com uma usina solar.

A exemplo do Mineirão, o Maracanã teve parte de sua cobertura utilizada para a instalação de painéis solares. Com uma potência de 400 kWh, a usina tem capacidade para alimentar mais de 200 residências e a energia gerada também é comercializada pela Light, empresa responsável pela distribuição de energia no Rio de Janeiro.

Ao invés de utilizar a cobertura, a usina solar da Arena de Pernambuco fica localizada no estacionamento (Foto: Divulgação/Neoenergia)

Já em São Lourenço da Mata, na região metropolitana de Recife, os engenheiros foram além. Ao invés de usar a cobertura da Arena de Pernambuco, construíram uma usina solar ao lado do estádio, próximo ao estacionamento.

Cerca de 4 mil painéis geram 1 MWh de eletricidade, o suficiente para abastecer 6 mil habitantes. Além de atender o consumo do estádio, a energia excedente é distribuída pela Neoenergia Pernambuco.

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Pioneirismo baiano

Antes das grandes arenas da Copa do Mundo, um estádio da Bahia foi pioneiro na produção de energia renovável através de sua estrutura. O Estádio de Pituaçu, localizado no bairro homônimo de Salvador, se tornou o primeiro estádio solar do Brasil.

Ao lado de um parque de preservação ambiental, a maior reserva ecológica da capital baiana, o Pituaçu teve sua usina fotovoltaica inaugurada em 2012, com mais de 2 mil painéis solares instalados na cobertura do estádio. 

Com uma capacidade de geração de 630 MWh/ano, suficiente para abastecer mais de 500 residências, a usina tem cobertura total da demanda energética dos eventos e ainda atende o consumo do prédio da Sudesb – Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia.

O Estádio de Pituaçu foi o primeiro estádio da América Latina a ter uma usina solar em sua estrutura (Foto: Divulgação/Neoenergia)
Fracasso federal

Ao contrário dos exemplos de Mineirão, Maracanã e Arena de Pernambuco, o Estádio Nacional de Brasília, o Mané Garrincha, não teve seu projeto sustentável para a Copa do Mundo de 2014 levado adiante.

A obra, estimada em mais de R$ 12 milhões, acabou abandonada pelo Governo do Distrito Federal. A ideia seria utilizar 75% da cobertura do estádio para abrigar uma usina fotovoltaica.

Iniciativa goiana

Em Goiás, nenhum estádio de futebol possui painéis solares suficientes para atender as demandas de seus eventos. No entanto, o Goiás Esporte Clube quer mudar a situação, e em breve deve ter uma usina solar em sua estrutura.

“Estamos tentando colocar energia solar no clube há quase seis meses, e não achamos ninguém que queria financiar. Mas apareceu uma empresa que, ela mesma, vai financiar para nós”, revelou Paulo Rogério Pinheiro, presidente do Goiás, em entrevista recente.

Estádio Hailé Pinheiro (Foto: Marcel Brunner/Goiás EC)
Pesquisa x limitações

Além da energia solar, há outros estudos para encontrar novas viabilidades na produção de energia que seja limpa, causando menor impacto no meio ambiente. Um exemplo foi um estudo feito por estudantes de Minas Gerais, em que se buscou transformar o barulho das torcidas dos estádios em energia sustentável. 

De acordo com o projeto, o nível de ruído necessário para produzir energia é entre 90 e 100 decibéis. A medição do barulho feito por 15 mil torcedores no estádio Independência, cuja capacidade é de 23 mil, atingiu a média esperada. 

No entanto, o professor da área de Engenharia, Carlos Barreira Martinez, explicou à Sagres que a ideia inicial era de que o protótipo pudesse gerar energia para abastecer o local dos próprios jogos. No entanto, o alto custo, entre outras questões técnicas, fez com que o projeto iniciado na metade da década passada não trouxesse resultados práticos. 

Outra ideia cogitada foi a de utilizar o tremor proporcionado pelo pulo dos torcedores. Alternativas vêm sendo buscadas em meio às pesquisas para reduzir o custo da energia elétrica, com fontes limpas e baratas.

Repense

Esta reportagem integra a série Repense Energia, desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Fundação Pró-Cerrado. Ao longo de 12 episódios, vamos aprofundar sobre temas relativos à sustentabilidade, produção e consumo que estão conectados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 07 da Organização das Nações Unidas (ONU), que é “Energia Acessível e Limpa”.