Cerca de 85% da energia elétrica produzida no Brasil vem de fontes renováveis. A maior parte é produzida em usinas hidrelétricas, mas nos últimos anos, a geração de energia eólica, produzida pelo vento, e a solar vem ganhando destaque. Assista à reportagem a seguir

Os dados são de um levantamento divulgado pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Segundo a gerente de Preços do Grupo BC Energia, Nayana Scherner, a matriz elétrica brasileira é uma das mais renováveis do mundo.

“Comparado ao mundo, que hoje tem 23% de fontes renováveis, o Brasil é três vezes mais renovável que os outros países do planeta”, explicou.

Matriz energética

É um conjunto de fontes de energia ofertada no país para captar, distribuir e utilizar energia nos setores comerciais, industriais e residenciais.

A matriz representa a quantidade de energia disponível em um país, e a origem dessa energia pode ser de fontes renováveis ou não renováveis.

“Desde 1960, quando começou a expansão do mercado de energia para o crescimento de fontes renováveis, o Brasil tem, basicamente, uma fonte predominantemente hídrica. Hoje ela detém mais de 60% da matriz energética. Então a gente, realmente, depende de água e chuva”, pontuou o diretor de Negócios do Grupo BC Energia, Felipe Lech.

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O Brasil tem uma grande diversidade e extensão territorial e em cada região há uma particularidade específica, o que colabora para o desenvolvimento de diferentes fontes de energia.

“Outra vantagem para a energia elétrica produzida no Brasil é a extensão territorial. A costa litorânea que é grande e nos possibilita expandir na fonte eólica, principalmente no nordeste e sul do país. A parte solar também, então nós temos muita oportunidade e muito espaço para utilizar fontes renováveis”, ressaltou Felipe.

Particularidades

Segundo o coordenador de Planejamento e Negócios do Polo de Inovação da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), Eduardo Noronha, cada região tem uma particularidade específica. A fonte de energia do petróleo é mais concentrada na costa leste do país, na região próxima ao Rio de Janeiro e também no Recôncavo Baiano.

“Já outros tipos de fontes como o carvão mineral é mais encontrada no Sul do Brasil, a energia eólica é concentrada no Nordeste. As fontes são bem distribuídas, o Brasil tem uma grande geração hidrelétrica, usamos muito a água proveniente dos nossos rios que estão espalhados em todo o país, mas a gente daria destaque para a usina de Itaipu, no Rio Paraná,” pontua.

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Linhas de transmissão

Um fato interessante é que mesmo morando em Goiás sua casa pode estar consumindo energia que foi produzida em outros estados do país. Ou seja, por mais que em Goiânia grande parte da energia gerada seja de usinas hidrelétricas podemos consumir energia vinda de parques eólicos ou energia solar, por exemplo.

“Nós podemos consumir energia que foi gerada no norte do país. O controle e a operação são feitos de forma centralizada, visando minimizar o custo dessa energia. Existe um controle que vem das nossas fontes de energia disponíveis e precisam de uma operação mais econômica que consiga dar sustentação aos gastos. Precisamos pensar também na questão de consumo e consciência do consumidor”, explicou Eduardo Noronha.

Mundo

A matriz energética mundial é composta, em sua maioria, por fontes não renováveis. Os combustíveis fósseis como petróleo, carvão mineral e gás natural ainda constituem grande parte da energia utilizada em todo o planeta. Já uma das características da matriz energética brasileira é que a maior parte das fontes de energia são de natureza renovável.

“Esse é um grande diferencial competitivo e comparativo em relação ao restante do mundo, nós fazemos mais uso de energias renováveis e tendência é que esse processo continue evoluindo”, ressaltou Eduardo.

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Custos da produção de energia

De acordo com o coordenador de Planejamento o fato de o Brasil ter uma vantagem quando o assunto é fontes de energia renovável, também gera um impacto nos custos dessa produção.

“Isso acarreta em um menor custo. Por exemplo, o processo de extração e transformação do petróleo, até que ele possa ser realmente utilizado para gerar energia, tem um custo muito alto e isso tem um impacto em toda a cadeia produtiva”, explicou Eduardo.

Para Nayana Scherner os aquíferos existentes no Brasil possibilitam uma geração de energia a partir de fontes hídricas, uma fonte limpa e que tem um custo de geração muito baixo.

“A água em si não tem custo, o preço vem na hora da construção da usina. É uma grande vantagem ter esse tipo de fonte em território nacional em comparação a outros países que dependem muito de carvão ou de queima de combustíveis fósseis para a produção de energia” explicou.

Emissões de gases

As emissões de gases do setor de energia são provenientes da queima de combustíveis em atividades como transportes, indústria e geração de eletricidade. E como cerca de 85% da energia elétrica produzida no Brasil vem de fontes renováveis. Isso impacta diretamente na geração de gases.

“A gente tem um impacto ambiental menor, por causa da predominância de fontes renováveis e não termoelétricas. O Brasil tem taxas mais atrativas por ter essa característica de menor impacto ambiental, mesmo que gerar menos impacto seja uma luta constante”, frisou Eduardo Noronha.

Importância da diversificação da matriz energética

Sobre a diversificação da matriz energética, o diretor de Negócios do Grupo BC Energia afirmou que o Brasil traz para o mercado, novas possibilidades de contratação de energia. Normalmente, o governo faz leilões anuais para a composição da carga e segurança energética.

“Para segurança energética é preciso ter um percentual em cima da carga de energia de fontes confiáveis que eu consiga controlar como fontes térmicas e hidráulicas. É preciso ter essa segurança para haver geração suficiente para atender a carga, caso tenha um problema que as eólicas parem de gerar, por exemplo”, Felipe Lech.

O governo provém esses leilões regulados em busca da diversificação da matriz energética, mas sempre olhando para questões de segurança do sistema.

“Estão na nossa matriz que é extremamente verde. Mas também precisamos das térmicas para conseguir compor e atender a carga em momentos em que pode haver alguma falta tanto da hidráulica quanto da energia solar ou da própria eólica. Por isso, todos os anos o governo traz à mercado leilões de fontes alternativas, das mais diversas fontes de geração e cada produtor de energia busca participar de um leilão específico”, argumenta Felipe.

A diversificação é muito importante para o setor elétrico, uma fonte acaba complementando a outra, como explica Nayana.

“A complementaridade das fontes é extremamente importante. Por exemplo, quando não temos chuva temos há a radiação solar, então a fonte solar é importante para complementar em caso de uma escassez. Em períodos secos, que não há chuva na região nordeste, há bastante vento, nesse caso a energia eólica é complementar a hidráulica. A fonte solar também é complementar a eólica, em momentos em que há alta insolação, temos baixa intensidade de vento”, esclareceu.

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Repense

Esta reportagem integra a série Repense Clima desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 12 episódios vamos aprofundar sobre temas relativos à sustentabilidade, produção e consumo, que estão conectados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 07 da Organização das Nações Unidas (ONU), que é “Energia Acessível e Limpa”.