Seguindo com a série especial de reportagens Repense Consumo do Sistema Sagres, pautada no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 12 da Organização das Nações-Unidas (ONU), Consumo e Produção Responsáveis, este episódio pretende mostrar que futebol e sustentabilidade não são dois universos distintos, pelo contrário, podem ser trabalhados em conjunto, visando a preservação ambiental e a conscientização da sociedade. Assista à reportagem a seguir

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Na reportagem anterior, do repórter Paulo Massad, essa realidade já foi demonstrada pelo Fortaleza Esporte Clube, uma das primeiras agremiações do futebol brasileiro a incorporar os ODSs no dia a dia do clube.

Agora, o exemplo vem do Estádio Nilton Santos, do Botafogo Futebol e Regatas. Em julho 2016, a empresa MeuCopo Eco, de Florianópolis (SC), iniciou uma parceria com o Botafogo de Futebol e Regatas, sendo um dos primeiros clubes de futebol a reduzir a quantidade de copos descartáveis gerados no estádio e a compartilhar uma cultura sustentável com os torcedores através dos copos reutilizáveis, como explica a gestora ambiental, Luana Ferreto Dias, que fez um estudo de caso no Estádio Nilton Santos.

“Decidi unir minha paixão por futebol com a gestão ambiental e de resíduos. Primeiramente, entrei em contato com o MeuCopo Eco, que é inspirada em outra empresa criada na França, que trabalha com essa logística de copos reutilizáveis. Desde 2016, eles começaram a propor essa logística para alguns times de futebol aqui do Brasil. E o primeiro time que fechou essa parceria foi o Botafogo”, explicou.

Os copos descartáveis estão no topo da lista de resíduos mais gerados em estádios de futebol no Brasil, na frente de latinhas de refrigerantes e guardanapos.

“De acordo com os documentos disponibilizados pela empresa, o clube alcançou uma redução imediata de quase 30% do número de resíduos por partida. O clube já comercializou mais de 47 mil copos reutilizáveis, evitando mais de 190 mil copos descartáveis no Estádio Nilton Santos. Uma outra curiosidade que acho bem interessante, em 2018, o Botafogo, em parceria com o Meu Copo Eco, também com o Spotify, realizaram a primeira partida da América Latina sem copos descartáveis”, afirmou.

Luana Ferreto Dias ainda destacou como o futebol pode ajudar na conscientização a respeito da preservação ambiental e da sustentabilidade.

“Essa potência que o futebol tem de unir as pessoas, uma grande quantidade de pessoas em um único espaço, acredito que pode ser uma ferramenta incrível de educação ambiental e de conscientização das pessoas. Não só de educação, mas uma influência positiva, porque no momento em que um clube ou um estádio consegue mostrar que uma logística de copos reutilizáveis é possível, isso pode se tornar um exemplo para outros clubes”, opinou.

Para a gestora ambiental, o momento atual é o ideal para os clubes de futebol se posicionarem e comprarem essa briga na tentativa de construir um mundo mais sustentável.

“Com a pandemia, eu comecei a sentir que esse assunto tem crescido e no momento que um assunto cresce, a responsabilidade aparece. Então, acredito que os clubes de futebol precisam ter essa consciência de que precisa ter uma responsabilidade socioambiental, até porque são questões que andam juntas, não tem como separar as duas coisas. Não foi o foco da minha pesquisa essa parte econômica, mas existe uma economia. Tudo que é descartado, você está colocando dinheiro no lixo. O plástico, que tem grande potencial de ser reutilizado, acaba indo para o aterro sanitário. Então, você está enterrando dinheiro”, finalizou.

Mineirão

Além do Estádio Nilton Santos no Rio de Janeiro (RJ), a reportagem também apurou que o Mineirão, em Belo Horizonte (MG), também adota uma série de medidas sustentáveis com o objetivo de preservação dos recursos naturais, como explica a responsável pelo setor de Meio Ambiente e Sustentabilidade do estádio, Bárbara Freitas.

“Tudo começou com a criação do projeto Gigante pela Natureza, que visa a adoção de práticas sustentáveis na operação do estádio. Em relação à gestão de resíduos, a Minas Arena firmou um contrato com a Associação dos Catadores de Papelão Materiais Reaproveitável (ASMARE) de Belo Horizonte. A parceria é pautada na sustentabilidade, porque impacta de forma positiva na parte econômica, social e ambiental. Os catadores veem ao estádio em todos os jogos e eventos e fazem toda a separação dos materiais recicláveis, para depois fazer a destinação correta. Então, a gente consegue aumentar o ciclo de vida dos produtos e diminui a destinação de resíduos para o aterro sanitário”, explicou.

Além da reciclagem, Bárbara Freitas informou que todos os outros resíduos que são gerados têm a destinação correta, como por exemplo é feita compostagem com a poda do gramado.

Bárbara Freitas afirmou que o Mineirão trabalha com três grandes principais eixos de atuação na questão ambiental. Além da gestão de resíduos já mencionada, o estádio também atua na eficiência energética e hídrica.

“Durante a reforma do Mineirão, o projeto previu a instalação de uma usina solar fotovoltaica na cobertura do estádio. A energia solar é inesgotável, abundante, renovável, temos incidência solar no Brasil o ano todo e é uma energia de baixo carbono, então deveria ser priorizada em todas as instalações. A gente tem uma eficiência energética considerável, em função dessa usina solar, além de outras práticas, como a setorização da iluminação, a dimerização, ou seja, a gente consegue fazer um controle da incidência de luz nos ambientes, de acordo com o que é necessário”, destacou.

Ainda na reforma do estádio para a Copa do Mundo de 2014, Bárbara Freitas contou que foram instalados reservatórios de água para reaproveitar a água da chuva, garantindo a eficiência hídrica.

“Tem aproximadamente 5 milhões de litros de capacidade. Então, toda chuva é escoada para esses reservatórios, a gente faz um tratamento simples nessa água para irrigar o gramado e utilizar nas descargas das bacias e mictórios. Então, temos um consumo muito menor de água tratada e faz com que a gente tenha autonomia de três meses durante o ano. Isso faz uma redução no nosso consumo de aproximadamente 70%, então a conta de água vem bem mais baixa”, esclareceu.

Por fim, Bárbara Freitas fez questão de deixar claro o compromisso do Mineirão com a preservação ambiental e a sustentabilidade.

“Aderimos ao pacto global da ONU, que é uma iniciativa voluntária internacional. A gente se compromete, de alguma forma, a observar os objetivos de desenvolvimento sustentável, os ODSs, visando garantir um planeta mais saudável, não só para as gerações futuras, mas atualmente também, já estamos vivendo em um ambiente escasso, com crises climáticas. Então, temos de alguma forma de encontrar soluções para diminuir nosso impacto e trazer benefícios para a nossa comunidade”, reconheceu.

Os exemplos mostram que a sustentabilidade pode sim ser trabalhada no meio do futebol e que é possível estar muito mais presente no nosso esporte.

Próximo capítulo

Na semana que vem, você acompanha reportagem de Palloma Rabelo em que o Turismo se apresenta como uma forma sustentável de desenvolvimento econômico e de imersão a práticas ambientais.

Repense

Esta reportagem integra a série Repense Consumo desenvolvida pelo Sistema Sagres com o apoio da Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 12 episódios vamos aprofundar sobre temas relativos a sustentabilidade, a produção e consumo, que estão conectados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável – ODS 12 da Organização das Nações Unidas (ONU), que é “Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis”.

Nesta reportagem retratamos como é feito o descarte correto do lixo eletrônico. No entanto, outro resíduo que preocupa especialistas do meio ambiente é o lixo hospitalar. Esse assunto você confere na semana que vem, na reportagem de Sinval Lopes.