Uma pesquisa revelou que 71% das empresas brasileiras têm no máximo 10% de mulheres negras nos cargos de liderança. O estudo Pesquisa Mulheres Negras na Liderança 2023 é do Pacto Global da ONU Brasil em parceria com a 99jobs. O objetivo é compartilhar as barreiras que impedem a ascensão de mulheres negras no mercado de trabalho.

Além disso, o Observatório 2030 quis mostrar o que empresas e líderes podem fazer para incentivar e auxiliar mulheres negras a chegarem aos cargos de liderança. A organização que pertence ao Pacto Global da ONU apoia o setor empresarial  brasileiro com dados sobre o cumprimento das metas dos ODS.

A pesquisa aplicada em todos os estados do país recebeu 257 respostas de mulheres negras: 30% delas ocupam o cargo de coordenadora, 29% são gerentes, 14% supervisoras, 10% diretoras, 5% C-level, 2% conselheiras e 10% fundadoras das empresas.

Ascensão de mulheres negras

As mulheres que responderam a pesquisa têm faixa etária entre 26 e 40 anos (69%) e entre 41 e 60 anos (36%). No universo das que responderam 54% possuem pós-graduação ou MBA, 11% são mestras e apenas 2% têm doutorado. Segundo o Pacto Global da ONU, as mulheres negras desempenham um papel transformador na economia.

“Elas trazem consigo diversidade, inovação e representatividade para as empresas, desafiando estereótipos e criando ambientes mais inclusivos”, pontua a entidade. No entanto, a organização reforçou as dificuldades que elas enfrentam na ascensão para os cargos mais altos das empresas em que trabalham, o que expõe a desigualdade no mercado de trabalho.

“Nós, mulheres negras, somos uma representação minoritária em cadeiras de liderança. A maioria de nós, às vezes solitárias em espaço de poder, ainda soma a isso, diversos atravessamentos estruturais que são barreiras que impedem nossas conquistas. O objetivo da 99jobs é que a pesquisa aponte cada vez mais caminhos e engaje líderes para que mais mulheres negras avancem”, explicou Priscila Salgado, porta-voz da 99jobs.

Liderança solitária

De acordo com a pesquisa, a principal dificuldade apontada por 56% das mulheres negras para alcançar cargos de liderança é o  racismo estrutural. Na sequência aparecem questões como machismo institucional, acesso a experiências, conciliar com atividades pessoais e atividades familiares.

Mas temas como xenofobia, capacitismo e acesso à educação também foram citados. As 257  que responderam a pesquisa atuam em setores de varejo e comércio (14%), serviços (11%), terceiro setor (9%), tecnologia (7%) e sociais e educação (6%).

A falta de referências e a baixa quantidade revelou nas respostas uma liderança solitária, pois 60% das respondentes disseram ser a única liderança negra de suas empresas. No fim do questionário, elas deixaram respostas sobre como é ser uma mulher negra na liderança e trouxeram temas como “exaustão”, “batalha solitária” e “desafiador”.

“Ser desafiada não pelo cumprimento do trabalho, mas ser colocada em cheque por ser mulher e negra, por acharem que nosso lugar é sendo doméstica, que não sabemos o suficiente. Estudar e liderar é um ato de resistência, é sobre, mostrar que o nosso lugar é onde queremos estar. Que podemos mais sempre”, apontou  uma das respostas.

Inspiração para outras

Um dos destaques mais importantes da pesquisa é que para 95% das mulheres negras que já estão em cargos de liderança, a presença delas nesse espaço abre portas para outras mulheres chegarem lá também. Para elas, o que as ajudou a chegar aos altos cargos de lideranças das empresas foi experiência no mercado, qualificação acadêmica, indicação profissional e universidade de primeira linha.

Outros temas apontados foram estudo no exterior, apoio de pessoas, ter diretora mulher, resultados e competência e conhecimentos de diversidade e inclusão. Por isso, a maioria delas destacaram que gostaria de abrir portas para as novas gerações de mulheres negras.

“Eu tive muita sorte de ser recebida de braços abertos, talvez pelo meu incessante esforço em deixar minha competência sempre evidente. Mas muitas vezes ainda sou descredibilizada, talvez numa tentativa de ver como é a minha atitude sob pressão. A sensação é de que não podem haver erros e a excelência é a única coisa que você pode oferecer”, contou uma das mulheres.

“É ser resiliente e saber que é tida como uma pessoa inspiradora todos os dias,”disso outras das respondentes.

Confira todos os dados da pesquisa:

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