Em uma década, o Brasil registrou um aumento de 40% na emissão de gases de efeito estufa. Atrasado no combate ao aquecimento global, o país está longe de atingir as metas estipuladas no Acordo de Paris, e tem feito caminho inverso.

É o que apontou o relatório do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (Seeg), desenvolvido pelo Observatório do Clima. A iniciativa produz estimativas anuais das emissões de gases de efeito estufa desde 2010, quando o Brasil regulamentou a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC).

Segundo o Seeg, 2,4 bilhões de toneladas brutas de gases de efeito estufa foram emitidas no Brasil em 2021, um aumento de 12,2%. O número só não superou o de 2003 – o pico histórico nacional. De toda forma, se trata do maior crescimento desde então, duas vezes superior à média mundial estimada.

No ranking mundial, o país ocupou a sétima posição entre os maiores emissores do planeta em 2021, responsável por 3% do total mundial. Entretanto, o relatório ressaltou que, na realidade, o Brasil atualmente seja o sexto maior emissor, à frente da Indonésia, que diminuiu o desmatamento.

Maiores poluentes

De acordo com o relatório, o maior responsável pelo aumento em 2021 foi o desmatamento, que causou 1,19 bilhão de toneladas brutas de gás carbônico equivalente. A alta da poluição causada pelas mudanças de uso da terra foi de 18,5% e representou 49% das emissões brutas de gases de efeito estufa.

Já o setor energético sofreu o maior salto em 50 anos. Impactado pela retomada da economia desde a pandemia, além da queda de geração das hidrelétricas e do uso de etanol por conta da seca extrema, o setor teve aumento de 12,5%, responsável por 22% das emissões nacionais.

Também registraram altas os setores de processos industriais e de agropecuária, respectivamente responsáveis por 22% e 25% das emissões, enquanto o de resíduos teve uma queda tímida – de 0,12% em relação a 2020. Pela primeira vez na história, o setor teve oscilação para baixo, com 4% das emissões.

Década perdida

“Embora a PNMC tenha produzido inovações importantes e criado instrumentos para mensuração de emissões e combate à mudança do clima”, frisou o documento, “do ponto de vista da atmosfera, a década de 2010 foi perdida”. Portanto, o Brasil falhou em usar a política “como um instrumento para uma virada rumo a uma economia de baixo carbono”.

A décima edição do relatório também destacou o distanciamento do país em relação às metas estipuladas pelo Acordo de Paris, em 2015. Sem um plano elaborado, além de não ter seguido os objetivos, a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro os tornou mais fracos.

Anteriormente, a meta seria, em 2025, reduzir em 37% as emissões em comparação com 2005. Porém, o Seeg pontuou que, como as metas de 2015 já não são mais suficientes para estabilizar o aquecimento global, o Brasil deve atualizar o objetivo.

“Desde que começamos a publicar as estimativas anuais das emissões há 10 anos, observamos uma trajetória ascendente, que culminou no recorde em 2021. A expectativa para a próxima década é observar uma reversão, puxada pela redução e até a eliminação do desmatamento líquido”, afirmou David Tsai, coordenador do Seeg.

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