Desastres naturais resultam de eventos adversos naturais ou provocados pelo ser humano sobre um cenário vulnerável, causando grave perturbação ao funcionamento de uma comunidade envolvendo perdas e danos humanos, materiais, econômicos ou ambientais. Mas você já parou para pensar quem realmente sofre com esses eventos?

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Entre esses acontecimentos, estão as enchentes e alagamentos, causados por fortes chuvas e que atingem grande parte dos centros urbanos do país, entre eles Goiânia, como mostra a reportagem especial de Denys de Freitas, para a série especial Repense Clima, alinhada ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13 da Agenda 2030 da ONU ”Ação contra a mudança global do clima”.

Veja a reportagem a seguir:

De acordo com o engenheiro ambiental, John Wurdig, do Instituto Internacional Arayara, um fenômeno ligado aos desastres é o chamado racismo ambiental. Segundo o especialista, neste caso as pessoais mais prejudicadas por tais eventos são as que residem em áreas irregulares ou mesmo que tiveram acesso a moradia.

”A cidade foi feita para alguns que têm dinheiro, o mercado imobiliário e o capital proporcionaram isso. As zonas de periferia são as mais prejudicadas”, afirma. ”A gente sabe que o clima mudou, mas o grande impacto é local, e a gente atua sobre a emergência. Este é um círculo que passa por repensar uma cidade sustentável”, complementa.

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Wurdig argumenta que as cidades não podem se desenvolver sob a chamada ”lógica da desordem”, em que apenas regiões consideradas nobres dos municípios é que entram no planejamento urbano. O especialista analisa que as periferias, onde a população mais vulnerável reside, só são lembradas a cada quatro anos, por conta das eleições municipais.

”Essas pessoas precisam entrar na ótica do planejamento urbano e do investimento público pesado na reconstrução desta infraestrutura, como foi apontado no vídeo [da reportagem]. A drenagem é um ponto crucial, mas esquecida por muitos anos nos projetos. Essa é a lógica da desordem, pois agora vem o saneamento, agora vem a drenagem, agora trazemos água”, analisa.

Realidade que afeta famílias de jovens país afora, muitos deles atendidos pela Rede Nacional de Aprendizagem Promoção Social e Integração (Renapsi). O assistente psicossocial da Renapsi – Polo Distrito Federal, Marcelo Braga, reconhece que o Entorno da Capital Federal também carece de soluções para desastres relacionados ao clima.

”Temos várias cidades satélites que não foram desenhadas inicialmente no plano de JK. A gente tem Brasília como a capital mesmo, do poder, tem o escoamento planejado, arborização, espaços com possibilidade de permear a água, mas em algumas outras cidades a gente encontra sim essa dificuldade justamente por conta da impermeabilização do solo, dessa questão da desordem em relação à habitação e de estruturas mais precárias”, enumera.

Longo prazo

A pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Débora Olivato, mostra que a Região Centro-Oeste tem como outro problema recorrente os incêndios florestais, que acontecem exatamente no período oposto, o de estiagem.

No entanto, para mitigar esses problemas, é preciso recorrer a soluções recentes, e que vão de encontro às questões climáticas, ou seja, é literalmente correr contra o tempo.

”De dez anos para cá, estamos aprendendo a lidar com a parte da prevenção. Como fazemos isso? Governos e sociedade. É um processo de um aprendizado. Hoje temos uma política nacional de proteção e defesa civil moderna, contemporânea nesse sentido de pensar a prevenção, um trabalho de um sistema integrado entre Governo Federal, Estadual e Municipal e comunidade envolvida. Mas dez anos é extremamente recente, estamos nesse processo de aprendizado. Com a questão das mudanças climáticas, esse aprendizado precisa ser muito rápido”, analisa.

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