Luciane de Lima tem uma história de superação. Há 10 anos, a advogada começou a sentir mal-estar, dores de cabeça, ter lapsos de memória, dificuldade para se alimentar e ingerir líquidos. Sua função renal estava bastante comprometida e ela estava entre os milhares de brasileiros que precisavam de um transplante de órgãos. Após sete meses e meio de hemodiálise, Luciane recebeu um novo rim. O doador foi seu marido, Antônio Carlos Lisboa.

“Viver na esperança da chegada de um órgão é extremamente complexo. Quando uma pessoa diz sim para a doação de órgãos, muitas vezes, está pensando em alguém que sequer conhece. Há a necessidade de pensar no legado que as pessoas querem deixar para esse mundo. É muito importante que as pessoas tenham esse sentimento de poder ajudar alguém quando estiverem partindo deste mundo. É a última oportunidade de fazer o bem”, destaca Luciane, que fez do transplante, o ponto de partida para mudanças radicais.

Paixão

O impacto do transplante renal na vida de Luciane foi grande. Mudou sua relação com a atividade física, praticada esporadicamente até então. Entrou em um grupo de corrida e se apaixonou pelo esporte. Pouco tempo depois, incluiu exercícios de fortalecimento, natação e bicicleta na rotina e começou a participar de competições.

E foi justamente nos Jogos Mundiais para Transplantados, com 1550 atletas de 46 países, entre transplantados e doadores, em Perth (Austrália) no último mês de abril, que Luciane colocou em jogo sua mudança para o esporte. Ficou em terceiro lugar nas provas de 100 metros e de salto em distância na categoria de 40 a 49 anos. Ao lado de sete outros atletas, representou a Liga de Atletas Transplantados, que adota o esporte como filosofia de vida e promove a causa da doação de órgãos.

A Liga

Fundada por Luciane e outros atletas em 2021, a Liga dos Atletas Transplantados, reúne 42 atletas brasileiros transplantados de fígado, rins, pulmão, pâncreas, coração e medula que superaram doenças graves. O grupo utiliza o esporte como um grande aliado para a manutenção da saúde física e psíquica, participa de competições e dissemina a conscientização sobre a importância da doação de órgãos, desmistificando mitos sobre o assunto.

“Inicialmente, a ideia da Liga era reunir atletas para conseguir patrocínio para os Jogos Mundiais da Austrália. Nossa primeira reunião foi em janeiro de 2022, conversamos e entendemos que era preciso lutar pela conscientização da doação de órgãos. Nosso maior objetivo passou a ser atrair mais atletas e compreendemos que nosso papel era muito maior do que ir aos jogos, mas mostrar que o transplante não é o fim da vida, que é possível ter uma vida de qualidade praticando esportes”, explica o engenheiro e corredor Cornelis Poel, um dos fundadores da Liga, que em 2011 foi diagnosticado com colangite esclerosante primária, uma doença rara autoimune que resultou em um transplante de fígado em 2018.

Espera

Apesar de o Brasil possuir o maior sistema público de transplante de órgãos no mundo, a fila de transplantes ultrapassou 50 mil pessoas pela primeira vez desde 1998, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Em 2022, o Brasil realizou pouco mais da metade (21,8 mil) dos cerca de 40 mil transplantes necessários de córnea, fígado, coração, pulmão e rim. Segundo a ABTO, a expectativa era de que os números de transplante retornassem aos mesmos índices do período pré-pandemia, mas isso ainda não aconteceu.

Essa reportagem contempla os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Saiba mais.

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