Jogar a caixa de leite no lixo sem se preocupar com reciclagem ou sem pensar em empreender com isso é uma atitude ultrapassada. Você pode pensar agora, mas o que dá para fazer com uma embalagem simples?

Vamos começar do início? Alunos do Ensino Médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), com idades entre 17 e 19 anos, criaram um negócio usando um material que é descartado facilmente em Goiás e em todo Brasil, a caixa de leite.

A equipe é completa, e conta com presidente, diretor de RH, produção, finanças e marketing: apesar de parecerem muito jovens para ocupar esses cargos, eles deram conta do recado e desenvolveram uma carteira.

O mais legal é que essas funções de liderança, comuns dentro das empresas, são colocadas em prática por alunos do ensino médio, por meio do programa Miniempresa. As ações estão ligadas ao empreendedorismo jovem.

Eco Wallet

A estudante Yasmin Mickaelle De Oliveira Moura é a presidente da Eco Wallet, a miniempresa que usa as caixas de leite como matéria prima. Ela contou que o primeiro momento do projeto foi um período de interação entre os estudantes, já que eles eram de salas diferentes.

Estudantes do IFG que fundaram a miniempresa. (Foto: Palloma Rabêllo)

Isso foi importante para criar um vínculo entre os integrantes e ter um fluxo melhor no desenvolvimento do projeto e depois foi a hora de definir os cargos.

“A gente tem um diretor para cada área, RH, financeiro, produção; É como uma empresa mesmo. E para a gente conseguir chegar ao produto final, todas as áreas de atuação foram de suma importância. Foi tudo bem organizado e cada compra tinha que passar primeiro pela área de finanças para ser aprovada e só depois ter o recurso liberado para a compra dos materiais”, explica Yasmin.

Para escolher e definir as responsabilidades os integrantes responderam perguntas para saber em qual área teriam mais aptidão. A estudante Agnes de Miranda Santos ficou responsável pelas finanças da empresa.

“Eu já considerava esse cargo porque sou apaixonada por matemática. Então, já pensei no financeiro, em fazer contas e que isso é algo que eu tenho facilidade. Depois fiz o teste de aptidão e os resultados confirmaram que essa é a área certa para mim”, ressalta.

Produto

Depois da equipe se conhecer e definir os cargos, é a hora de desenvolver o protótipo e produto final. “Nós dividimos a turma em quatro para trazer ideias e criar um protótipo. O surpreendente é que no final todos trouxeram sugestões relacionadas a carteiras. Por isso, escolhemos essa ideia e adaptamos para que o produto trouxesse mais inovação e sustentabilidade”, conta a presidente da Eco Wallet.

A carteira é chamada de Small Case. Depois da confecção nem dá para perceber que um dia esse item, que é muito útil, foi uma caixa de leite comum, como essas que tem aí na sua casa. Além disso, ela é super funcional, bonita e sustentável.

O estudante Pedro Augusto Moreira Araújo, que também é diretor de Produção da miniempresa, explica que sempre houve o propósito de chegar em algo sustentável.

“O mais legal é que deu tudo certo, pois são materiais muito úteis para a gente. A caixa de leite é muito resistente e optamos por um tecido bonito e de qualidade. Tudo se encaixou perfeitamente e facilitou na hora de entregar o produto final”, frisa Pedro Augusto.

Tentativas

E não pense que eles chegaram facilmente nesses materiais escolhidos para desenvolver o protótipo. Houve outras tentativas e também um estudo do que usar para chegar no item ideal.

“Tivemos ao todo três tentativas, com caixa de papelão que seria ruim, porque com água acabaria se dissolvendo, com papel crepom que ficaria muito frágil e o terceiro e escolhido que foi a caixa de leite que é um material mais resistente e que duraria mais tempo”, afirma.

Small Case, carteira feita de caixa de leite. (Foto: Palloma Rabêllo)

Capital social

Antes de começar a produção foi preciso definir o capital social da empresa. A Agnes, que é responsável pelas finanças, explica que a empresa precisa ter esse valor até conseguir obter lucro.

“O capital social é um valor que a empresa precisa para se manter até conseguir lucro com a venda dos produtos. Nós precisávamos de acionistas e para calcular esse valor, vimos o quanto íamos gastar de salário, quanto a gente precisaria produzir para obter esse dinheiro”, explica Agnes.

Habilidades e capacitação

O empreendedorismo jovem é uma temática cada vez mais relevante na sociedade contemporânea, especialmente diante da necessidade de desenvolvimento de habilidades empreendedoras desde cedo.

Instituições como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), entre outras desempenham um papel fundamental nesse contexto, oferecendo suporte e orientação para jovens que desejam iniciar seus próprios negócios.

Ao proporcionar programas de capacitação, consultoria especializada e apoio técnico, o Sebrae contribui significativamente para o desenvolvimento do empreendedorismo juvenil, capacitando os jovens a identificar oportunidades de negócio, elaborar planos estratégicos e superar desafios empresariais.

Essa abordagem não apenas promove a cultura empreendedora desde a fase escolar, como também estimula o protagonismo juvenil e o desenvolvimento socioeconômico das comunidades.

De acordo com Mariana Chaves, representante da área de desenvolvimento de empreendedorismo juvenil do Sebrae, o empreendedorismo jovem é uma ferramenta poderosa para impulsionar a economia e promover o desenvolvimento social. “Acreditamos que cada jovem empreendedor é um agente de mudança capaz de impactar positivamente sua comunidade e contribuir para um futuro mais próspero e sustentável”, apontou.

Empreendedorismo

Diretora executiva da Junior Achievement (JA), Marisa Brandão. (Foto: Palloma Rabêllo)

O Brasil é um dos países que mais empreende no mundo, mas ainda é preciso que essa mentalidade seja incentivada. O programa Miniempresa, permite que milhares de estudantes de todo o Brasil vivenciem o empreendedorismo ainda no ambiente escolar.

De acordo com a diretora executiva da Junior Achievement (JA), Marisa Brandão, o projeto é na verdade centenário, porque a JA foi fundada em 1919. O miniempresa é um dos primeiros programas que se desenvolveu para começar o projeto. 

“A JÁ é uma instituição centenária que está em 100 países e presente no Brasil há 40 anos e em Goiás há 20. O projeto Miniempresa é a vitrine e tem a maior carga horária sendo considerado o carro-chefe de todos os programas que a Junior Achievement trabalha. Existem várias temáticas ligadas a empreendedorismo, preparação para o mercado de trabalho, educação financeira e sustentabilidade. Todos eles convergem para tratar de protagonismo juvenil e a iniciativa empreendedora desses jovens perante a sua própria vida”, ressalta.

Gestora de Projetos da Junior Achievement, Jacqueline Firmino. (Foto: Palloma Rabêllo)

Segundo a gestora de Projetos da Junior Achievement, Jacqueline Firmino, a educação empreendedora, ao contrário do que muitos pensam, não é só criar uma empresa, na verdade, vai muito além disso.

“Ela mostra o mundo de possibilidades para esses jovens! A gente costuma dizer que a vida é o seu maior empreendimento. Então, a ideia é mostrar essas possibilidades para que eles entendam que podem empreender na própria vida. Isso, independente de ser empresário de um negócio, de trabalhar em uma organização ou ter uma outra atividade profissional”, explica. 

Habilidades e competências

Esses jovens empresários adquiram habilidades e competências que são fundamentais para o desenvolvimento de uma sociedade melhor. Estabelecendo metas, tomando decisões, tendo persistência, autoconfiança e se tornando protagonistas da sua própria história. Ser um jovem empreendedor é uma lição que se pode aprender desde cedo.

“As habilidades que eu aprendi vão me ajudar no futuro, mas  já estão me ajudando hoje! Me tornei uma pessoa mais paciente, que entende que nem tudo é no meu tempo. Eu sou eternamente grato a esse programa que me ensinou a trabalhar com o próximo e tirar a ideia do papel, fazendo tudo acontecer”, afirma o estudante e  gerente de RH da Eco Wallet, Ediclecio Junior Trindade Nobre.

Pedro Augusto também conta que aprendeu muito treinando as habilidades na construção da empresa.

“A habilidade que eu acabei desenvolvendo foi a ética de trabalho para aprender a trabalhar com as pessoas e empenho, porque sem dedicação as coisas não fluem”, disse.

A Educação Empreendedora auxilia ainda a melhorar a comunicação dos jovens. Esse foi o caso da estudante e diretora de Marketing, Ana Clara Nolli que conseguiu melhorar a oratória e encontrou uma nova atividade.

“Eu aprendi muito com essa experiência. Sou extremamente tímida para conversar com as pessoas, aqui eu desenvolvi esse meu lado e eu tenho certeza que eu vou levar isso para o resto da minha vida. Além disso, descobri uma verdadeira paixão ao produzir e editar vídeos”, conta.

Arena Repense

O tema empreendedorismo jovem retratado nesta reportagem integrou o programa Arena Repense. Além da experiência de jovens com a Eco Wallet, outro destaque é para a Educação Empreendedora vivida pelo estudante Victor Carrijo Guimarães.

Filho de empreendedor, o estrategista em Marketing Digital e estudante de Administração, conta que sempre viu o pai empreender, mas fez questão de participar do Programa Miniempresa, da Junior Achievement e do IFG, e também do Empretec, do Sebrae.

“Foi onde tive o primeiro contato e comecei a compreender que empreender não é só abrir uma empresa, não é só montar um negócio. É preciso entender vários aspectos e é possível empreender de várias formas”, afirma Carrijo.

Hoje, o jovem empreededor inicia uma nova forma de empreender: ensinar médicos a se posicionarem nas redes sociais levando saúde às pessoas de forma gratuita.

Outro exemplo é o designer sênior, empreendedor e CEO da Boldz, Luiz Henrique Almeida Rocha. Ele sabe bem o que o momento de virar a chave para o empreendedorismo sem deixar os estudos representa.

“Quando as pessoas entendem que aquilo que elas estão fazendo tem um nome, que é uma ferramenta de melhorar, aprimorar, de evolução, isso as faz passar à próxima etapa, ainda mais falando do jovem, já que ele está em um momento tão decisivo, de escolher uma faculdade, e investir em ferramentas que podem potencializar a habilidade empreendedora dele, seja em uma palestra no Sebrae, por exemplo”, afirma.

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