O Arena Repense dessa quarta-feira (5) repercutiu como Pessoas com Deficiência (PcD) enfrentam dificuldades diariamente, como a falta de acessibilidade na cidade. A advogada e gerente de Acessibilidade da Secretaria Municipal de Direitos Humanos de Goiânia, Paula Godoi, participou da edição e definiu o capacitismo, além de trazer termos adequados para se referir a PcD.

Assista ao Arena Repense na íntegra:

“Capacitismo é preconceito contra a Pessoa com Deficiência e vem ganhando espaço, porque o termo não é novo, é antigo. Ele vem para mudar a atitude e conscientização das pessoas para que entendam que ter preconceito contra uma PcD, subestimando-a pela condição, isso não tem mais espaço na nossa sociedade”, explicou.

Essa discriminação, ainda de acordo com Paula Godoi, ocorre, por exemplo, quando alguém diz que uma PcD conseguiu passar por uma calçada de difícil acesso, sem levar em conta a dificuldade.

“Tem um texto que gosto bastante da Lau Patrón, em que ela fala que se sua calçada não estiver nivelada, vier um cadeirante com todo esforço do mundo para passar e conseguir, você vai falar ‘nossa, mas ele consegue’. Isso é capacitismo, colocar para o outro que a deficiência é uma limitação para suas condições. Ou que ele tem que se esforçar muito mais que todo mundo para chegar em algum lugar é capacitismo. A gente precisa lutar contra isso”, defende.

Termos adequados

Se referir a uma Pessoa com Deficiência como especial, ou dizer portador de deficiência, são termos que não cabem mais também na nossa sociedade. Nesse sentido, Paula Godoi trouxe pronomes adequados para se referir a pessoas com mobilidade reduzida.

“Eu sou mãe de uma criança PcD e muitos falam em crianças especiais, mas não, todas são. Eu tenho três filhos e todos são especiais, mas eu tenho um com deficiência. Então, tem termos, como portador, que não devem ser utilizados. É uma pessoa, ela vem antes da deficiência e ela não escolhe portá-la”, pontua.

“Somos seres humanos, temos direitos, garantias e precisamos ter respeito e ser respeitados. A sociedade precisa entender isso como um todo. Quando digo sociedade, não digo apenas os órgãos públicos, gestão, mas também motoristas de ônibus, atendentes de saúde. Então, a sociedade como um todo precisa ampliar a visão e entender que a inclusão é um benefício, um processo de melhora e cabe a cada um de nós proporcioná-la no dia a dia”, completa.

Educação

Para uma sociedade se conscientizar e entender a inclusão como um direito às minorias, a pauta tem que entrar em educação. Para Paula Godoi, as políticas públicas precisam ser eficazes nesse sentido de ressaltar o papel de cada cidadão no processo.

“A base de tudo é a educação inicial. Nenhuma criança nasce com capacitismo, preconceituosa ou sem a consciência do outro, muito pelo contrário. O que presencio são crianças extremamente abertas a entender a deficiência, conviver com ela e já adultos que não se importam tanto. Então, acredito muito que a educação transforma”, opina.

Sobre as políticas públicas, Paula Godoi acredita que atualmente temos uma legislação contundente. Apesar disso, o que falta é mais cobrança da sociedade em geral de assumir a responsabilidade de incluir. “Temos a Lei Brasileira de Inclusão e outras que resguardam a PcD, contudo esse cumprimento nem sempre é feito ou fiscalizado”, critica.

Cadeirante no transporte público
(Cadeirante precisou de ajuda para embarcar no Terminal Praça da Bíblia em Goiânia | Foto: Sagres Online)

Grade curricular

A advogada ainda questiona por que a inclusão não faz parte de algumas grades curriculares na educação. Na visão dela, cursos superiores que trabalham com infraestrutura deveriam ter disciplinas relacionadas ao tema.

“Como que na faculdade de arquitetura, engenharia, não tem matéria de acessibilidade? Como o engenheiro sai da faculdade, vai construir um prédio público, se ele não tem as noções de acessibilidade? Isso tem que estar na grade curricular desses cursos, na verdade de todos. A gente tem que ter voltado para cada segmento o que ele precisa se adaptar para a inclusão”, reflete.

“Tem uma diferença entre inclusão e integração, porque quando eu falo que tem acessibilidade arquitetônica, na verdade é uma integração. Mas, a inclusão de verdade acontece com materiais adaptados, quando a PcD tem as mesmas possibilidades que seus colegas. Então, a gente precisa sim dessas qualificações serem agregadas às grades curriculares, tanto da escola, quanto das faculdades”, argumenta.

Mobilidade e acessibilidade

Sobre mobilidade e acessibilidade, Paula Godoi explica que, apesar dos termos serem semelhantes, existem também algumas diferenças. Como por exemplo, a lei das calçadas acessíveis de Goiânia diz que cada pessoa é responsável por cuidar da sua.

“Deixar a calçada acessível é permitir quem tem mobilidade reduzida ter acesso a vários locais para locomover por toda a cidade. Então, acessibilidade é garantir acesso dessas pessoas. A mobilidade é sobre a condução de cada pessoa sobre suas próprias condições”, pontuou.

*Esse conteúdo está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU 10 e 11 – Redução das Desigualdades e Cidades e Comunidades Sustentáveis

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