A representação feminina em diversas áreas segue o padrão da nossa sociedade, por causa dos moldes patriarcais de opressão e machismo, nas artes não seria diferente. O cinema surgiu centrado em figuras masculinas e com protagonismo dos homens. Eles eram estrelas, diretores e ocupavam a parte técnica, enquanto as mulheres eram sempre retratadas pelo olhar masculino, e muitas vezes extremamente sexualizadas.

Ao longo do tempo as mulheres foram ganhando espaço nas produções audiovisuais e ocupando, também, as áreas técnicas. Infelizmente, a desigualdade de gênero no cinema e visível ainda hoje, é a tentativa de invisibilizar o trabalho de mulheres na construção da sétima arte é notória. Para conseguir se desenvolver em áreas dendro de produções audiovisuais as mulheres lutaram por igualdade, uma batalha que segue até os dias de hoje.

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Segundo a professora do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Thais Oliveira, o primeiro desafio enfrentado segue até os dias atuais, que é o simples fato da mulher ser mulher.

“Ainda existe uma questão estrutural, não apenas no cinema, mas no Brasil e no mundo todo, isso faz com que não coloquem as mulheres no mesmo lugar, ganhando o mesmo salário ou em uma posição de destaque em relação aos homens. Algumas histórias foram até invisibilizadas, por isso existe uma tentativa de buscar e resgatar que mulheres foram importantes para a história do cinema”, explica.

Ancine

Segundo dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine) 75,4% dos filmes analisados foram dirigidos por homens brancos, 19,7% por mulheres brancas e 2,1% por homens negros. A presença dominante de homens brancos também é registrada em outras funções, como roteiristas (59,9%), diretores de fotografia (85%) e diretores de arte (59%).

Cerca de 59,9% dos roteiros de filmes foram escritos por homens brancos, 16,2% por mulheres brancas e 16,9% em parcerias entre homens brancos e mulheres brancas. Os homens negros foram roteiristas em 2,1% dos filmes e estiveram em parcerias com homens brancos em 3,5%. Não houve nenhuma mulher negra como roteirista, segundo a pesquisa.

Os dados apresentados em 2018 pela Ancine, fazem parte do estudo Diversidade de Gênero e Raça nos lançamentos brasileiros de 2016, estudo mais recente da Agência.

No Brasil, por exemplo, mesmo que a população feminina ultrapasse, em números, a população masculina, ainda há um recorte claro de gênero quando o assunto são as produções cinematográficas.

“Essa base de sistema de dominação patriarcal está presente na nossa história em vários momentos. Precisamos entender a condição da mulher na sociedade e lutar para que a gente possa ser vista e ouvida. É um reflexo de toda estrutura da sociedade que precisa haver uma mobilização para que isso não se mantenha. A mulher pode sim, ser o que ela quiser”, ressalta a professora.

Descredibilização da mulher

Nenhuma mulher está livre de passar pela descredibilização sociedade, e provavelmente vão passar por isso em algum momento da vida. A Thais é uma mulher da área técnica, além de professora de cinema é especialista em som no cinema. Apesar da vasta experiência com o audiovisual as experiencias ruins e as dúvidas sobre sua competência pelo simples fato de ser mulher chegaram.

“É interessante a percepção que coisas assim acontecem. Muitas vezes eu tive que falar mais alto, me impor e até provar que eu sabia apenas por ser mulher. Isso acontece por uma série de estruturas já enraizadas, dizendo que a mulher não é capaz de desempenhar uma função técnica com qualidade. Essa é uma posição totalmente equivocada”, pontua.

Há uma tendência estrutural de querer que mulheres assumam áreas de organização ou de direção de arte para as mulheres.

“A condução para as áreas criativas é feita como se as mulheres não fossem capazes de executar bem outras funções. Podemos ser boas em direção fotográfica ou trabalhar com questões técnicas. É necessário que fique bem claro que podemos trabalhar em áreas técnicas e desempenhar esse trabalho tão bem ou até melhor que homens. Lugar de mulher é onde ela quiser, onde ela se sentir bem e com o que ela gosta de fazer”, finaliza.

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