A semana dos povos indígenas tem o objetivo de falar sobre os desafios enfrentados pelos povos originários na atualidade. O evento é promovido pelo Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia (IGPA) em parceria com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).

Segundo a comissão organizadora do evento, é preciso falar sobre alteridade, violências e protagonismo. Esses são pontos recorrentes e desafiadores na luta dos povos indígenas no Brasil. Essas questões devem ser debatidas pela sociedade governamental e civil para gerar visibilidade às lutas e reinvindicações dos povos originários.

Dentro da programação houve a exibição de filmes sobre a cultura indígena. O objetivo é mostrar um pouco mais sobre os rituais, vivências, experiências e lembrar que apesar das diferenças, temos muita coisa em comum.

Escolha das produções

“Os filmes foram escolhidos, por mostrar a realidade dos indígenas, e até onde a ganancia pode levar o ser humano. Alguns falam sobre conflitos sociais e outros trazem mais detalhes sobre a rotina na aldeia. Temos materiais gravados na década de 60, mas continuam trazendo discursões pertinentes para os dias de hoje”, explicou o diretor do IGPA Frederico Mael.

A primeira sessão é realizada com a produção “O Coração da Floresta”. A obra tem a fotografia do antropólogo Jesco Puttkamer, que dedicou grande parte da vida para a produções sobre os povos indígenas brasileiros. A direção é do documentarista Adrian Cowell, que se dedicou a registrar a floresta amazônica durante 50 anos.

O filme mostra a forma com que o indígena vê sua existência, como lidam com doenças, a alimentação e o uso de plantas e ervas. Com o decorrer da história percebemos que a cultura deles não está muito longe da nossa.

Por exemplo, nesse filme gravado na década de 60, os indígenas já usavam a mandioca para fazer polvilho e assim conseguir comer a tapioca. Outra questão, muito importante, é que alguns dos remédios mais utilizados, vem de descobertas e do conhecimento dos povos indígenas a respeito da natureza. E até aquele chazinho que você costuma tomar para gripe, em dias frios ou apenas para relaxar vem dos povos originários.

Outros filmes

Os dois outros filmes apresentados são:

O “Fragmento de um Povo”, rodado no final da década de 90 no início dos anos 2000. Ele fala sobre a história e a trajetória do povo Avás-canoeiros que se recusavam em ter qualquer contato com a nossa sociedade.

“Trazendo para os dias atuais, isso faz a gente refletir sobre a região norte do país, onde ainda existem povos que não querem contato com a nossa cultura por causa de infinitas questões”, disse o professor.

A última produção é “A Caminho da Extinção” que foi documentado na década de 60, tem imagens do Jesco e direção do Adrian pela BBC. O documentário fala sobre a expansão agrícola no Centro-Norte do país, da valorização da terra e também de conflito sociais.

História interligada

Sobre a importância de conhecer a cultura indígena, o professor ressalta que é a nossa história está interligada a dos povos originários e não há como refutar isso.

Foto: Palloma Rabello

“A nossa sociedade não vê o ser humano, ela vê o lucro. Quando finalmente é para valorizar o que está por trás, a tendência é preferir ver exemplos romantizados de indígenas norte-americanos. É necessário reconhecer e valorizar a nossa própria história, pois nós também temos mitos, cultura, conhecimento e ancestralidade”, frisa.

Uma curiosidade está relacionada a um dos símbolos dos Estados Unidos, muito conhecido em todo o mundo, inclusive aqui no Brasil, a águia. Aqui temos a Harpia Real ou Gavião-real, que é quase duas vezes maior e tão bonito quanto a águia norte-americana. O problema é que mesmo assim a Harpia é menos conhecida pelo nosso povo.

Frederico reforça que não tem como transformar um povo naquilo que a experiência de outras pessoas.

“Nós temos histórias e saberes que são tradicionais dos povos indígenas brasileiros. Eles são tão ricos em conhecimentos quanto os de outros países, e é crucial demonstrar que valorizamos o nosso povo, o nosso país”, disse.

Conhecimento acumulado

Foto: Palloma Rabello

Para as pessoas que imaginam que os indígenas tem uma realidade muito distantes da vida da sociedade moderna, é necessário lembrar que nada surge por acaso. Todo o conhecimento é acumulado ao longo dos anos.

“Esses povos têm o seu conhecimento próprio e este saber muitas vezes foi usurpado, roubado e colocado em uma outra roupagem para se apresentar. Além disso, eles ajudam a manter o ambiente mais regulado, pois se não tivéssemos as demarcações para terras indígenas, provavelmente já teríamos perdido uma riqueza enorme, tanto em biodiversidade quanto cultural”.

Usar a sétima arte para citar problemáticas que a sociedade precisa debater é uma forma de expor e trazer essas questões a público.

“Esses filmes abrem um espaço para o diálogo, isso não quer dizer que eles trazem uma verdade absoluta, mas sim uma oportunidade para a conversa. Com isso, percebemos a necessidade de entender a sociedade, pois não temos outra forma de caminhar e evoluir. Não existe brasileiro do Sul ou do Norte, somos todos brasileiros e todos temos costumes que vieram dos povos originários”, finaliza.

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