Se você possui a capacidade de saber conviver com os próprios pensamentos, emoções e histórias, consegue aceitar e lidar com esses sentimentos, é resiliente e pode se adaptar ao meio e aos relacionamentos, então você está em dia com a sua agilidade emocional.
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Nesta quarta-feira (22), a psicóloga, analista comportamental, professional coaching e especialista em Psicologia Organizacional da Consultoria Estalo, Cecília Nunes, abriu o terceiro dia da Jornada do Conhecimento 2023 com este tema. O evento abordou a metodologia da psicóloga e autora sul-africana do livro “Agilidade Emocional”, Susan David.
“Um dos primeiros passos para que a gente tenha uma condição de lidar melhor com as nossas emoções é se perceber. Se a gente não enxerga como está, não tem como fazer nada a respeito. Não há ação que a gente possa fazer para se sentir melhor ou lidar com o sentimento que ali está preponderando em nossa vida”, analisa Cecília Nunes.
Rede social e a positividade tóxica
Segundo a metodologia, quem é ágil emocionalmente consegue manter um espírito permanente de desafio, crescimento e bem-estar. No entanto, Cecília Nunes reforça que as pessoas são frágeis e têm dificuldades de identificar suas emoções, que basicamente são 7: alegria, raiva, tristeza, medo, surpresa, desprezo e aversão.
“O que acontece ao longo da vida é que a gente bloqueia as emoções desafiantes. Quando perguntam ‘Oi, tudo bem? Como vocês estão?’ a resposta natural é ‘Está tudo bem’ e é aí que a gente entra na síndrome do ‘tá tudo bem’. E hoje em dia, cada vez mais, até por um viés muito forte de positividade tóxica das redes sociais, em que a gente só aparece mostrando a nossa cara mais linda, onde não se demonstra que as coisas estão difíceis”, reflete.

De acordo com a psicóloga, situações negativas vêm para ajudar e ensinar. O viver positivamente de Susan David foi realizado com mais de 70 mil pessoas. Um terço desse montante acredita na existência de uma “emoção ruim”, e o quanto a sociedade promove a positividade em detrimento da verdade emocional.
“O que a Susan trata no conceito da agilidade emocional é a nossa capacidade de conviver e viver com nossos pensamentos e emoções de forma corajosa e curiosa. Em que a gente vai lá e lida com que está sentindo, percebendo e tem uma ação sobre isso. Existe a resiliência e a capacidade de adaptação, que é a ação sobre essas emoções”, exemplifica.
Pontos de atenção
Cecília Nunes frisa que os chamados extremos, que são as situações muito felizes, positivas, ou muito tristes e negativas do dia a dia, são pontos de atenção. Estes fatores, segundo ela, precisam ser constantemente observados.
“Tudo que é demais, tudo que é extremo, precisa ser observado. São pontos de atenção em nossa vida, para que a gente olhe para isso. Não é à toa que as nossas emoções existem, e todas elas vêm para nos sinalizar alguma coisa”, afirma.
Bloqueios
Muitas dessas emoções extremas podem estar relacionadas a situações vividas no passado, como na infância. O medo de falar em público ou de dirigir são alguns exemplos de bloqueios de ação.
“A gente fica preso em nossos pensamentos e os transforma em bloqueios de ação, que é o que a gente chama de ganchos mentais. Você já ouviu falar nos gatilhos? Quando acontece algo que é muito forte, quando sinto que não sou bom em alguma coisa, vou evitar aquelas situações e não vou fazer. Medo de dirigir é um ótimo exemplo”, contextualiza.
Para Cecília Nunes, o bloqueio impede qualquer possibilidade de tentar aprender novamente. A escrita expressiva, ou seja, escrever em um papel as emoções ruins, está entre as ações que ajudam a lidar melhor com essas situações.
“Ao longo da vida precisamos nos experimentar para comprovar para nós mesmos que podemos ser diferentes a sensação de fazer algo parecido. A partir do momento que se identificam esses ganchos, é possível lidar com eles”, acrescenta.
Os cinco passos da agilidade emocional
– Olhar de frente: enfrentar e conviver de forma corajosa com os sentimentos, pensamentos e emoções; ter autocompaixão e olhar para a criança que fomos um dia; perceber-se como um trabalho em andamento; encarar os sentimentos não como bons ou ruins, mas apenas como existindo; nomear as emoções de forma correta.
– Afastar-se: dissociar-se de pensamentos e emoções e observá-los para enxergá-los pelo que são; escrever [passar para o papel] sobre episódios emocionalmente carregados; olhar para as mesmas coisas de uma forma diferente; ressignificar; conectar-se a valores; exercitar a atenção plena [mindfulness].
– Ser coerente com seus motivos: a arte de viver de acordo com o seu conjunto de valores pessoais; identificar crenças e comportamentos que conferem significado e satisfação; identificar valores verdadeiramente próprios e agir movido por eles.
– Seguir em frente: faça algo, a ação é a base da mudança; faça ajustes na rotina alinhados a seus valores; ao respeitar quem se é, é possível ter agilidade emocional para experimentar, falhar e perdoar.
– Tornar-se real: nomear a si mesmo como agente da própria vida; aceitar a si mesmo com paixão, coragem e curiosidade; abraçar a identidade que está evoluindo e liberar narrativas que não são mais úteis; deixar de perseguir a perfeição para poder desfrutar o processo de amar e viver.