O contato com a natureza e os benefícios da jardinagem são temas frequentemente discutidos. Colocar as mãos na terra não só auxilia na prevenção da depressão, mas também nos assegura hortaliças livres de veneno em nosso prato quando plantamos nossa própria comida. Além disso, a jardinagem ou o cultivo de uma horta envolve movimento e esforço físico, tornando-se uma atividade física que traz efeitos positivos tanto para o corpo quanto para a mente.
A intensidade do esforço na jardinagem pode variar de acordo com o tamanho da horta, mas os benefícios são percebidos mesmo por quem cuida de pequenos jardins ou plantações. Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, a prática de atividades físicas de nível moderado por 2,5 horas por semana pode reduzir significativamente o risco de obesidade, pressão alta, diabetes tipo 2, osteoporose, doenças cardíacas, derrame, depressão, câncer de cólon e morte prematura.
A ótima notícia é que a jardinagem se enquadra nas atividades moderadas recomendadas pelos especialistas. Além disso, por ser uma atividade prazerosa, as pessoas que se dedicam à jardinagem tendem a se exercitar em média de 40 a 50 minutos a mais do que aquelas que optam por exercícios “tradicionais”, como caminhar ou andar de bicicleta.
Benefícios
Cuidar de uma horta ou jardim vai além de ser uma atividade prazerosa e relaxante, pois também pode trazer significativos benefícios físicos. Especialistas calcularam o gasto calórico associado a diferentes tarefas de jardinagem, proporcionando uma ideia do impacto que essas atividades podem ter no corpo. Vale lembrar que esses números são médias e podem variar conforme a intensidade do esforço, idade e características individuais.
- Paisagismo pesado pode queimar entre 400 a 600 calorias por hora, dependendo da intensidade e da natureza das tarefas realizadas.
- Varrer as folhas pode resultar em uma queima de 350 a 450 calorias por hora, tornando-se uma opção eficaz para exercitar-se ao ar livre.
- Limpar o jardim pode ajudar a gastar cerca de 400 calorias por hora, contribuindo para o fortalecimento muscular e aumento da resistência.
- Cortar a grama é uma atividade que pode queimar de 250 a 350 calorias por hora, dependendo do tamanho e da dificuldade do terreno.
- Capinar pode ser uma tarefa que queima entre 200 a 400 calorias por hora, promovendo o fortalecimento dos músculos das pernas e do core.
- Plantar flores também pode proporcionar uma queima de calorias significativa, variando de 200 a 400 calorias por hora, enquanto se trabalha o solo e realiza movimentos precisos.
- Regar a horta ou o jardim, apesar de ser uma atividade menos intensa, ainda pode resultar em uma queima de aproximadamente 120 calorias por hora.
Além do benefício calórico, cuidar de hortas e jardins também tem sido comprovado pela ciência como uma forma eficaz de aliviar a mente e reduzir o estresse. A prática dessas atividades ao ar livre pode proporcionar um contato mais próximo com a natureza, promovendo sensações de bem-estar e relaxamento. Estudos têm demonstrado que atividades relacionadas à jardinagem podem melhorar o humor, reduzir a ansiedade e até mesmo ajudar no combate à depressão.
Em 2006, um estudo realizado pelo St. Vincent’s Hospital em Darlinghurst, Austrália, teve como objetivo identificar fatores de risco para demência em uma coorte de idosos australianos. Ao acompanhar mais de 2.800 pessoas com mais de 60 anos ao longo de 16 anos, os pesquisadores fizeram uma descoberta significativa: a prática de atividade física, especialmente a jardinagem, pode ter um efeito protetor contra a incidência de demência. Especificamente, concluíram que a jardinagem pode reduzir o risco de desenvolver demência em até 36%.
Outro estudo holandês, publicado no Journal of Health Psychology, encontrou resultados semelhantes ao investigar os efeitos da jardinagem e da leitura na redução dos níveis de cortisol após uma tarefa estressante. Embora ambos os grupos tenham experimentado reduções no cortisol, o grupo que praticou a jardinagem obteve reduções significativamente mais fortes. Além disso, os participantes relataram um humor positivo restaurado após a jardinagem, enquanto aqueles que realizaram leitura tiveram uma piora ainda maior no humor.
Uma meta-análise realizada em 2017 também proporcionou evidências sólidas dos efeitos benéficos da jardinagem na saúde, segundo os autores do estudo. Os resultados, de forma geral, sugerem que o envolvimento em atividades de jardinagem tem um impacto significativamente positivo na saúde em diversos aspectos. Entre os benefícios observados estão a redução dos sintomas de depressão e ansiedade, diminuição do estresse, melhoria nos distúrbios do humor e do índice de massa corporal (IMC), bem como aumentos na qualidade de vida, senso de comunidade, níveis de atividade física e função cognitiva.
Durante a pandemia, muitas pessoas perceberam a importância das atividades ao ar livre sob o sol, não só pela sensação de bem-estar, mas também pela necessidade de manter níveis adequados de vitamina D no organismo. A vitamina D desempenha diversos papéis essenciais, incluindo a facilitação da absorção de cálcio e a manutenção da saúde dos ossos, além de auxiliar na prevenção de doenças respiratórias.
A conexão entre o sol e as plantas também é notável, uma vez que as plantas requerem luz solar para realizar a fotossíntese, um processo crucial para a sua sobrevivência. Ao estar em áreas verdes, as pessoas também podem garantir a obtenção adequada de vitamina D por meio da exposição ao sol.
Outro aspecto relevante é que, mesmo em espaços reduzidos, como apartamentos, a prática da jardinagem tem se mostrado benéfica. A jardinagem contribui para regular os neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar e felicidade, como a serotonina e a dopamina. Isso pode ajudar a melhorar o humor, reduzir o estresse e aumentar a sensação de satisfação geral com a vida.
Déficit de natureza
A síndrome do déficit de natureza é uma preocupação cada vez mais presente na sociedade moderna, principalmente quando se trata do desenvolvimento saudável das crianças. Richard Louv, autor de “A última criança na Natureza”, destaca os efeitos negativos que o afastamento da natureza pode ter nas crianças, como dificuldade de concentração, depressão e obesidade. No entanto, esses impactos não se limitam apenas às crianças, mas afetam pessoas de todas as idades.
Um estudo realizado pelo Centro Europeu de Meio Ambiente e Saúde Humana revelou que passar pelo menos duas horas por semana em áreas verdes pode melhorar a saúde, reduzindo a pressão sanguínea, diminuindo os níveis de hormônios relacionados ao estresse, a ansiedade e a sensação de solidão. O contato com a natureza proporciona uma sensação de calma e bem-estar, e uma das maneiras eficazes de promover essa conexão é através da jardinagem.
Além dos benefícios para a saúde mental e emocional, trabalhar com a terra e se conectar com a natureza traz outras vantagens, como economizar dinheiro em produtos, evitar gastos em academias, reduzir o consumo de recursos usados para produzir, embalar e enviar produtos comerciais, e possibilitar o acesso a frutas e vegetais orgânicos a preços mais acessíveis. Além disso, a jardinagem proporciona um habitat para animais selvagens, especialmente polinizadores, contribuindo para a biodiversidade.
Para aqueles que não possuem um pedaço de terra para cultivar, ingressar em uma horta comunitária ou se voluntariar em parques ou projetos de limpeza pública pode ser uma alternativa. Ajudar amigos e familiares que possuam uma área verde é outra forma de fortalecer relacionamentos enquanto cuida da saúde e do meio ambiente.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 02, 03 e 12 – Fome Zero e Agricultura Sustentável, Saúde e Bem Estar e Consumo e Produção Responsáveis
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