Aparecida de Goiânia, de Goiás, do Brasil. A cidade com 600 mil habitantes completa no próximo dia 11, 99 anos. Mas não é só sobre a data de fundação. É também sobre os olhares e sonhos que ajudaram a contar a escrever a história do município. Da cruz de aroeira lavrada no cerrado ao polo industrial, Aparecida se transformou, mas não deixou pra trás a fé e a tradição.

Leia também: Vazios urbanos preocupam Aparecida de Goiânia após quase um século de história

“Sou de uma geração de catireiros e foliões. Neta, bisneta e filha de catireiros. Desde os meus 4 anos eu faço parte das folias. É uma das culturas mais ricas que tem no mundo. E Aparecida cuida bem dessa parte de sua história, mantendo a catira, folia, terço, quadrilhas e fiandeiras”. O depoimento é da Nilmari Alves Siqueira, de 68 anos.

Nascida em Goiânia e criada em Aparecida de Goiânia, Nilmari foi professora por 31 anos na rede estadual e municipal. É Mãe de quatro, avó de dois e bisavó de dois também. Apaixonada pela folia, hoje é dela o cargo de presidente na Associação dos Catireiros, Foliões e Violeiros de Aparecida. “A gente viajava muito o Brasil inteiro mostrando nosso talento. Temos cinco folias em Aparecida, mas hoje está tudo parado por causa da pandemia. Para que essa tradição permaneça com os moradores, temos um projeto chamado Catira na Escola, que ensina sobre a dança. Crianças que conhecem seu povo, trabalha para melhorar a vida dele”, ressaltou Nilmari.

Nilmari Alves

“Aparecida mudou completamente. Assisti uma evolução muito positiva e hoje é a melhor cidade pra se viver. Tem meus catireiros que eu amo muito. Eu amo essa cidade e não saio daqui por nada”, Nilmari.

Folia de Reis ou Festa de Santos Reis é uma manifestação católica, cultural e festiva, que celebra a visita dos três reis Magos ao menino Jesus. E essa conexão de Aparecida com a folia e a fé vem de muito antes, vem de 1922. Naquele ano, uma cruz de aroeira foi erguida por missionários católicos no Centro da Praça Matriz. A comunidade celebrou a primeira missa e depois construiu a Paróquia Santuário Nossa Senhora de Aparecida, que foi rota histórica dos missionários que realizavam a evangelização dos povos na época.

“A Igreja Católica foi uma das responsáveis pela formação do povoado de Aparecida. Alguns fazendeiros, que tinham uma grande devoção à Nossa Senhora Aparecida, e decidiram doar terras para fundar um patrimônio para a igreja”, conta a escritora e professora Nilda Simone Oliveira de Siqueira.

As fotos antigas recontam esses momentos e vários outros, como uma Folia de Reis na casa do Senhor Benedito Silvestre e a Vista da BR-153. Essa viagem no tempo é do acervo da professora Nilda. As fotos foram coletadas entre parentes e amigos que vivenciaram as transformações da cidade.

Com o tempo, a cidade cresceu e passou a ser conhecida como Arraial de Aparecida. Em 26 de dezembro de 1958, pela Lei n° 1.406, foi criado o Distrito de Goialândia. Mas o nome não ficou por muito tempo. Por meio do projeto de Lei nº 784/63, de 8 de agosto de 1963, a Assembleia Legislativa sancionou a Lei nº 4.927, de 14 de novembro de 1963, criando assim, o município de Aparecida de Goiânia.

“O processo de habitação de Aparecida de Goiânia, foi lento. A partir da emancipação, a cidade foi sendo loteada. Vimos também muitas invasões e assentamentos. A partir daí, nascia a vontade de desenvolvimento econômico da cidade, com a vinda de empresas”, explicou Nilda.

EVOLUÇÃO

Aparecida é a segunda maior cidade de Goiás, com quase 600 mil habitantes, segundo o IBGE. Nas últimas décadas, o município vizinho da capital deixou o título de cidade dormitório e assumiu de vez o posto de polo industrial e comercial. Essa transformação teve o empenho de vários gestores, que acreditaram e investiram na cidade. “A transformação é até assustadora. Quando vereador, tínhamos bons prefeitos, mas enfrentávamos dificuldades sem ajuda de Brasília. Um dos prefeitos que se destacaram foi Norberto Norberto José Teixeira (1993/1996), que deu início aos polos industriais”, contou o ex-vereador Samuel Borges.

Além do desenvolvimento econômico, esse crescimento considerado rápido trouxe também alguns problemas sociais, culturais e a falta de infraestrutura. “É importante a gente lembrar que em 1990 tinha menos de 100 mil habitantes e agora temos quase 600 mil. É uma das cidades que mais cresceram em termos de população do Brasil. Chegou a ser por alguns anos a cidade que que tinha o maior índice de migração interna do Brasil e com esse volume de pessoas chegando, é natural que os problemas ocorram. E nos últimos 20 anos, a cidade tem tentado equacionar esses problemas e virar a página”, afirmou o secretário da Fazenda, André Luis Rosa.

André Luis Rosa

Entre os anos de 2008 e 2020, foram criadas mais de 50 mil empresas e foi a segunda cidade que mais gerou empego no país. “Só no ano passado foram quase 2 mil novos empregos e isso tudo porque Aparecida vive um ciclo virtuoso. Empresários tem vindo pra cá com ajuda da gestão e da população”, ressaltou André.

Além da potencialização da economia, ao longo desses quase 100 anos, Aparecida também foi ganhando estrutura e reforço na área de educação e saúde – hoje, são três Cais, um Hospital e três UPAs. Aparecida também investiu em lazer e esporte e tem sido a escolha de muita gente de luta e de fé.

“Aparecida representa o futuro. è uma cidade que está em expansão e que possui indicadores melhores que muitas cidades maiores que ela. Ela constrói seu futuro junto com sue povo”, André.