Caiado com a mulher Gracinha e os filhos Marcela (E), Maria, Ana Vitória e Ronaldo Filho (Foto: Divulgação/Assessoria)

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Quem tem mais de 40 anos de idade e acompanha a política goiana, já ouviu falar de Leonino Caiado, Emival Caiado e, se for ainda mais velho, até mesmo de Totó Caiado. Leonino foi governador de Goiás entre 1971 e 1973. Emival foi deputado estadual, deputado federal e senador. Ficou conhecido nacionalmente por ter sido autor da lei que fixou a data de 21 de abril de 1960 para a mudança da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília. Totó Caiado foi o político mais influente da Velha República em Goiás.

A história dos Caiado começa no final na segunda metade do século 18. A historiadora Lena Castello Branco Ferreira de Freitas dedicou vários anos de sua carreira a pesquisar arquivos em Portugal, Rio de Janeiro, Goiânia e na cidade de Goiás, além de arquivos da família, e escreveu o livro Paixão e Poder – A Saga dos Caiado. Ela conta que Manuel Caiado de Souza foi o primeiro da família a chegar em Goiás, no final do século 18.

Ele pediu à Coroa uma sesmaria – um lote de terras distribuído a um beneficiário, em nome do rei de Portugal, com o objetivo de cultivar terras virgens. Instalou-se  na mata da Paciência, na antiga Vila Boa (cidade de Goiás), hoje no município de Faina. O primeiro Caiado a entrar para a política foi Antônio. Era avô de Antônio Ramos Caiado, o Totó Caiado, o mais importante líder político da família em meados da Vela República.

Totó Caiado foi deputado estadual três vezes e duas vezes senador da República. Ele não exerceu o cargo de governador de Goiás, mas isso não o impediu de mandar na política goiana entre 1912 e 1930 e o fazia por meio do Partido Democrata, que reunia o grupo oligárquico da época.

O Caiado mais famoso agora é Ronaldo, nascido em 25 de setembro de 1949, e que toma posse nesta terça-feira, 1º de janeiro, como governador de Goiás. Ronaldo é primo de Leonino, sobrinho de Emival e neto de Totó Caiado.

Batizado com o mesmo sobrenome do avô famoso, Ronaldo Ramos Caiado formou-se médico na Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, em 1974. Fez residência em ortopedia, mestrado na mesma universidade e especializou-se em cirurgia de coluna em Paris, na França. De volta ao Brasil foi professor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da UFRJ. Ele tem quatro filhos, Ana Vitória e Ronaldo Filho, de seu primeiro casamento, e Marcela e Maria, as duas últimas com sua mulher Gracinha Caiado.

Ronaldo Caiado interessou-se pela política quando já tinha 37 anos de idade. Nesta época, o Brasil começava sua caminhada rumo à redemocratização pós-ditadura militar e a reforma agrária entrou na agenda política.

Em 1985 os produtores rurais de linha conservadora reagiram aos movimentos pela reforma agrária e fundaram a União Democrática Ruralista (a UDR), com objetivo declarado de lutar pela preservação do direito à propriedade privada, da ordem e pelo respeito às leis do País.

Ronaldo Caiado foi um dos fundadores da UDR e seu presidente entre 1986 e 1989. Organizou grandes protestos de agricultores, como o que levou a Brasília, em fevereiro de 1987, aproximadamente 25 mil ruralistas. Chegou a ser chamado por seus companheiros de UDR de “o Lula da direita”.

Em 1989, Caiado estreou numa campanha eleitoral. Foi candidato a presidente da República pelo antigo PSD na primeira eleição presidencial depois do fim da ditadura. Teve embates com Leonel Brizola e Lula, como no histórico debate entre os presidenciáveis na TV Band, em julho de 1989.

Caiado não chegou nem perto do poder. Teve menos de 1% dos votos na eleição vencida por Fernando Collor de Mello. Sua primeira vitória foi em 1990. Elegeu-se deputado federal. Quatro anos depois, mais uma tentativa frustrada de chegar ao Executivo. Disputou a eleição para governador em 1994 com Lúcia Vânia, que era do PP, e com Maguito Vilela, do PMDB. Novamente se notabilizou pelo discurso contundente.

A contundência de Ronaldo Caiado não lhe garantiu a vitória. Recebeu 23% dos votos e ficou em terceiro lugar. Maguito ganhou de Lúcia no segundo turno. Em 1998, ele apoiou a candidatura de Marconi Perillo, do PSDB, para governador e elegeu-se para seu segundo mandato de deputado federal, agora pelo PFL, partido que depois mudou o nome para Democratas, ou DEM, ao qual continua filiado.

A relação entre Caiado e Marconi sempre foi conflituosa. Em 2000, Marconi incentivou 23 prefeitos a trocarem o PFL pelo PSDB. O ato irritou profundamente o deputado e ele deu o troco. Em 2004 lançou a candidatura de Raquel Azeredo à prefeitura de Goiânia contra o nome do Palácio das Esmeraldas. Em 2006 apoiou a candidatura a governador do senador Demóstenes Torres, seu aliado até o escândalo do caso Cachoeira, contra Alcides Rodrigues.

Caiado perdeu todas essas eleições, mas sempre se reelegeu deputado federal. Em 2010, de olho em seu futuro político, aceitou a coligação do DEM com o PSDB de Marconi com a condição de indicar o candidato a vice-governador. O desafio foi aceito e ele, então, indicou seu advogado José Éliton Figueiredo para a chapa tucana. O restante desta história todos conhecem.

O rompimento entre os dois líderes só ocorreu em 2014. Caiado finalmente deixou a base aliada de Marconi Perillo. Fez uma inédita aliança com o PMDB de Iris Rezende e saiu candidato a senador. Iris perdeu sua terceira eleição para Marconi, mas Caiado elegeu-se para o Senado. Em 2018 tentou reeditar a aliança, mas esbarrou no MDB do mesmo Maguito Vilela e de seu filho Daniel Vilela.

Na campanha deste ano, com apoio de prefeitos emedebistas, o Caiado contundente deu lugar a um político moderado. Ele evitou os discursos virulentos que marcaram sua carreira política.

Assim Ronaldo Caiado elegeu-se governador de Goiás no primeiro turno com mais de 59% dos votos. Durante os dois meses da transição e de formação de equipe, o futuro governador manteve-se no figurino novo. Foi cauteloso e mediou conflitos entre empresários e políticos aliados. E conseguiu algumas vitórias políticas importantes, como o aumento dos impostos do setor industrial e a formação de um governo com feição mais técnica e à sua imagem e semelhança. Na transição, contudo, não deixou de mostrar sua faceta incisiva contra José Éliton e o legado de Marconi Perillo.

Mas como será o novo governo? Para o cientista político Pedro Célio Alves Borges, a resposta ainda é uma incógnita, mesma opinião de seu colega, o também cientista político Itami Campos, pesquisador da Velha República em Goiás. Lena Castello Branco e Itami (conferir as opiniões dos pesquisadores no áudio da reportagem) dizem que o caiadismo não voltará ao poder com Ronaldo. Eles avaliam que a política mudou, os tempos são outros, e que não há mais lugar para o tipo de política comandada por Totó Caiado.